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Projeto leva grafite às escolas de Goiânia para promover difusão da arte

Grupo de artistas doa trabalhos para dar vida ao “fundão” das salas de aula com a arte| Foto: Wesley Costa

Postado em 5 de fevereiro de 2020 por Sheyla Sousa
Projeto leva grafite às escolas de Goiânia para promover difusão da arte
Grupo de artistas doa trabalhos para dar vida ao “fundão” das salas de aula com a arte| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

As paredes das salas de aula do
Colégio Estadual Jardim América passaram a dividir o espaço de aprendizado com
a arte urbana no início deste novo ano letivo. A união de um grupo de artistas
de rua de Goiás e de outros estados deu vida ao “fundão” das salas de aula com
a arte do grafite. A ação faz parte do
Projeto Voltando à Escola, idealizado pelo artista plástico e grafiteiro
paulista Ricardo Célio, que já coordenou ações semelhantes nas paredes de salas
de aula em São Paulo, Rio de Janeiro, Amapá e Salvador.

A produção da pintura das paredes
aconteceu nos dias 27 e 28 de janeiro. Após a grafitagem, houve uma troca de
ideias entre os artistas, professores, servidores e outros convidados dentro da
escola na última quinta-feira (30). Além de Célio, também participaram Gama
(GO), Ziza (SP), Rustoff (GO), Ow Calaboca (GO), Bieto (SP), Carol Folego (SP),
Taty Leão (GO), Júlio Vieira (SP), Kally (GO), Matheus Costa (GO), Agridoce
(SP), Danillo Butas (GO), Marcella Queiroga (GO), Thúlio Moreira (RJ), Mogle
(SP) e Márcio Ficko (SP).

As paredes de 14 salas de aula do colégio no Jardim América foram
pintadas usando técnicas de grafitagem e muralismo. Cada
espaço recebeu uma obra com temática ligada a alguma disciplina escolar.
Elementos visuais da matemática, língua portuguesa, história, e outras
disciplinas foram usadas no trabalho dos artistas que aproxima o aprendizado da
arte urbana.

Ao todo, 20 artistas participaram
da execução sem cobrar nenhum centavo pelo trabalho. Oito deles vieram de São
Paulo, um do Rio de Janeiro e 11 são de Goiânia. Os custos da viagem dos
grafiteiros que vieram de outros estados para pintarem as salas de aula foram
providos pela escola, que está realizando uma vaquinha online para que o
dinheiro seja ressarcido. “É importante mencionar que a escola arcou com
despesa de material e de transporte dos artistas”. A escola tem recebido
doações por meio do site Vakinha Online.

Segundo o artista Célio, essa a
primeira vez em que houve um trabalho conjunto entre artistas de São Paulo e de
Goiás. Para ele, além do projeto trazer troca recíproca, chamada por ele de
intercâmbio, foi importante para se conhecerem pessoalmente. “Cada lugar que
passei com o projeto foi diferente. O que mais achei incrível em Goiânia foi a
receptividade, a hospitalidade.  As pessoas são muito solidárias, têm
empatia umas com as outras e a direção da escola colaborou demais”, constata.

Ex-aluno

Célio é ex-aluno de uma escola
pública de Guarulhos (SP).  Na época, o artista fez um de seus primeiros
desenhos no fundo de uma sala de aula, numa feira de Ciências da escola. No
colégio Jardim América, os desenhos das salas são temáticas, reservadas às
diferentes áreas do conhecimento, e a arte grafite, em cada sala, faz
referência às aulas que são ministradas ali. “Tento passar para o jovem que um
dia eu também estive na cadeira onde eles estão sentados e que por meio do
grafite eu me aproximei cada vez mais da educação.”

O idealizador do projeto afirma
que o principal objetivo do projeto é a troca estabelecida entre artistas e
alunos. “A gente quer passar para os estudantes que o artista que pintou a sala
dele está vivo e presente. A gente aprende muito sobre artistas europeus que já
partiram. E a arte europeia obviamente não tem um recorte brasileiro”.

Para Célio, entender a relação entre
o estudante e artista é fundamental. Depois, os estudantes têm acesso às
pesquisas dos artistas. “Eles vão entender como chegamos a esse desenho. O que
estamos querendo transmitir e para onde estamos indo ao propor o desenho.
Depois de ouvir os feedbacks dos alunos a gente sabe que eles vão querer
estudar mais sobre o assunto”.

A artista plástica goiana Ow Calaboca declara que ficou
honrada de ter sido convidada a participar da ação coletiva para pintar a
escola. “Achei muito massa o lance do Célio de levar arte para dentro da
escola. É uma atitude que tem que ser tomada. A escola é um lugar que quer
fazer parte disto”. Ela assegura que os jovens se identificam com o grafite e
que isso pode ajudar a aproximá-los do aprendizado na escola.

Célio defende que o grafite nas escolas aumenta
o sentimento de pertencimento do aluno ao espaço. “O jovem se identifica com a
arte do grafite porque é democrática, ela está nas ruas. Ele passa na rua e vê
o grafite, ao chegar à escola e vê o muro grafitado, sente que pertence àquele
lugar”. 

Arte
combate depredações nas escolas 

A diretora da escola Rosirene Dias
Rosa, também acredita na aproximação do grafite e a educação. Ela afirma que a
escola já fez um projeto de pintura nas paredes externas do colégio. “Fizemos o
projeto Galeria a Céu Aberto, quando os alunos tiveram liberdade artística para
colorir os ambientes externos da escola”. A diretora garante que as depredações
ao patrimônio da escola praticamente desapareceram. “A arte ajuda os alunos a
entenderem que o lugar público pertence a todos nós e cria a consciência do
zelo”.

Ela acredita que os alunos que
depredam a escola com pichações também têm algo a dizer e o espaço promovido
por projetos como o Galeria a Céu Aberto pode dar vazão a esse sentimento. “O
aluno que faz pichações quer mostrar alguma coisa a alguém. Quando abrimos
espaço para eles se expressarem é uma oportunidade para desenvolver o lado criativo
deles”.

A diretora afirma que haverá uma
segunda parte do Projeto Voltando a Escola na próxima sexta-feira (7).  Os
artistas goianos vão conversar com eles e também realizar uma oficina para que
os artistas coordenem os jovens a pintarem mais espaços na escola. Ow Calaboca
defende a troca de ideias com os alunos depois de verem o trabalho pronto. “Eu
acho que a conversa pode quebrar um monte de paradigmas que são impostos a eles
e ajuda na inclusão social porque responde várias dúvidas deles”, afirma a
artista.

Rosirene afirma que não foi fácil ajudar a
trazer artistas renomados para colorir as paredes da escola.  “À medida
que o aluno vem e se depara com a arte desse porte, sabe que não é simples para
trazê-los até aqui. Eles sabem que os artistas se esforçaram para doar tempo e
trabalho para um propósito que vale à pena”. A diretora ainda reitera que essa
consciência faz com que o espaço escolar seja mais valorizado pelos jovens. 

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