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domingo, 24 de novembro de 2024
Cidades

Policiais abraçam a solidariedade

Depois de sofrer problema neurológico, ex-agente consegue sobreviver por meio da renda proveniente da venda de rifas em unidades militares – Foto: Divulgação

Postado em 15 de fevereiro de 2020 por Sheyla Sousa
Policiais abraçam a solidariedade
Depois de sofrer problema neurológico

Igor Caldas

Edjunio da Silva integrava o extinto Serviço de Interesse Militar Voluntário Especial (Simve), em Goiás. Antes de o serviço ser encerrado em 2015, ele teve que parar de trabalhar. De um dia para o outro, o jovem de 32 anos foi acometido por um problema neurológico, perdeu a coordenação dos movimentos e não consegue mais falar de forma clara, como conseguia quando era policial militar. Hoje, Edjunio consegue sobreviver por meio da renda proveniente da venda de rifas em unidades militares.

Tenente Bruno Portela Leite da Silva do Grupamento de Internação Rápida Ostensiva (GIRO) abraçou a causa do colega de trabalho. Desde a última semana, Edjunio tem sido recebido com muito carinho no Batalhão do Giro e os militares têm realizado ações para ajudá-lo com cestas básicas, venda das rifas e divulgação. “O Edjunio nos procurou aqui na semana passada para solicitar uma visita e venda de algumas rifas, que é a forma como ele tem mantido sua casa e sua família”.

O Giro atendeu de prontidão a solicitação do colega. “Ficamos muito felizes em poder ajudar de alguma forma”. O policial comunitário também procurou algumas outras unidades militares para conseguir ajuda, tanto na venda de rifas como na obtenção de doação de alimentos para sua residência. “Esse é um mal súbito que pode acontecer com qualquer um de nós. Temos alegria de receber ele aqui porque a gente passa por muita coisa ruim na rua, mas só tem a agradecer por continuarmos vivos e com saúde”, afirma o tenente Portela.

O tenente do Giro ressalta a relação que Edjunio tem com a Polícia Militar. “Para nossa felicidade, ele foi participante do Serviço Militar Voluntário que perdurou por 33 meses”. O policial comunitário se formou na 2º turma do Simve e atuou como policial militar. “Ele vestiu essa farda que muito nos orgulha e quando se viu nessa situação difícil, teve como válvula de escape pedir socorro à instituição”. A Polícia Militar tem o ajudado e pede ajuda para que a sociedade também preste esse auxílio.

Extinto Simve

Como os policiais do Simve não eram efetivados, Edjunio não conseguiu se aposentar. No entanto, está lutando na Justiça para alcançar o benefício. Até lá, ele tem que contar com a ajuda e o companheirismo dos colegas. “Infelizmente, o Edjunio não era concursado. O Estado não pôde aposentá-lo porque ele não tinha vínculo empregatício. Mas ele tem dois processos no INSS para aposentadoria e nós vamos ajudá-lo”. O comando da instituição se sensibilizou e busca auxílio das autoridades do judiciário para conseguir deferir a aposentadoria para o ex-Simve.

Segundo Portela, os policiais do batalhão ressaltam que o mau súbito pode acontecer com qualquer um. “Edjunio é um exemplo para nós porque é uma pessoa muito altiva, alegre e não se deixou abater pelo problema. É isso que nos faz querer ajudá-lo”. O tenente considera-o uma pessoa vencedora e merecedora de todo apoio necessário. “Quando ficamos nessas situações difíceis, temos necessidade de carinho. Por isso a gente acolhe e acredita que esse afeto representa uma melhora no quadro de saúde do Edjunio”, garante Portela.

O ex-SIMVE concorda com o tenente. Quando questionado sobre a evolução do seu quadro de saúde desde que começou o tratamento médico, Edjunio respondeu que só teve melhoras quando começou a frequentar o batalhão. Depois de pedir permissão para abraçar o oficial, Edjunio se emocionou. “A melhoria aconteceu só depois que eu conheci o tenente Portela”.

 

Qualidade de vida depende de cirurgia de alto custo 

O ex-policial comunitário declara que para ter uma melhoria efetiva de seu quadro de saúde, é necessária uma cirurgia neurológica de alto custo. “O procedimento cirúrgico que eu tenho que fazer custa R$ 200 mil”, alega. No entanto, a advogada Albanita Máximo afirma que para conseguir um mandado de segurança e garantir a cirurgia de forma gratuita, o ex-policial comunitário precisa de um diagnóstico preciso. Albanita assumiu o caso de Edjunio ainda no último mês. Antes, a família estava utilizando a Defensoria Pública do Estado.

Ela afirma que a origem do quadro de saúde de Edjunio foi um tratamento contra um quadro severo de depressão, bipolaridade e esquizofrenia. Foi apresentada duas opções de tratamento: Eletroconvulsoterapia, uma técnica em desuso que consiste na passagem de uma corrente elétrica de alta voltagem sobre a região temporal ou injeção com um tipo específico de medicamento neurológico. “Foi escolhido a injeção. Pelo que a família relatou, a partir da sexta dose, ele começou a apresentar aqueles espasmos de nervos”, afirma a advogada.

O ex-policial ainda não conseguiu um diagnóstico preciso para seu problema neurológico. “Ninguém sabe qual é o tipo de problema que ele tem. O médico disse que é necessária uma cirurgia para melhora da qualidade de vida dele, mas a advogada não conseguiu acesso ao relatório”. Albanita alega que já tentou por reiteradas vezes conseguir o relatório com o médico que atendeu Edjunio. “Apenas com esse documento eu vou conseguir dar entrada no mandado de segurança”, defende.

Simve

O Simve foi criado em 2012 para reforçar o policiamento no estado de Goiás. Ele era formado por homens que já serviram o exército brasileiro, mas que não foram aprovados em concursos públicos. Os policiais temporários atuavam no policiamento comunitário das ruas e faziam rondas em viaturas.

Em 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou como inconstitucional a lei de Goiás que criou o Serviço de Interesse Militar Voluntário Estadual na Polícia Militar de Goiás. Por unanimidade, os ministros tiveram o entendimento que somente a União poderia legislar sobre segurança pública. Mais de 2,4 mil agentes foram exonerados após a decisão. (Especial para O Hoje) 

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