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quarta-feira, 27 de novembro de 2024
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Negligência

Famílias reclamam da falta de professores de apoio em Aparecida de Goiânia

Servidores da educação apontaram que o problema abrange todas as escolas do município| Foto: Wesley Costa

Postado em 26 de fevereiro de 2020 por Sheyla Sousa
Famílias reclamam da falta de professores de apoio em Aparecida de Goiânia
Servidores da educação apontaram que o problema abrange todas as escolas do município| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Alunos com deficiência da rede municipal de educação de Aparecida de Goiânia estão sofrendo dificuldades de inclusão no ensino por falta de professores e equipamentos que atendam suas limitações. Servidores da educação concordaram em falar com a reportagem sob condição de sigilo e expuseram que o problema abrange todas as escolas do município. Pais de estudantes relatam que seus filhos estão tendo prejuízos no aprendizado causado por esse déficit.

De acordo com servidores municipais da Escola Municipal Sebastiana Lourenço Camilo, há três alunos com deficiência que não estão frequentando as aulas por estarem sem professores de apoio. Alguns desses profissionais estão se sentindo sobrecarregados porque alunos com deficiência que requerem atenção individual são colocados junto com alunos com deficiências leves ou sem deficiência.

O servidor que falou à reportagem afirma que os estudantes que conseguem desenvolver o aprendizado de forma mais equilibrada podem ficar na sala com apoio indireto, quando um profissional atende mais de um aluno com deficiência ao mesmo tempo. No entanto, o aluno que tem uma necessidade mais grave precisa do apoio direto individual. Os dois estudantes da EM Sebastiana Lourenço Camilo que estão sem frequentar às aulas foram diagnosticados com Síndrome de Down e Ataxia, duas doenças que afetam gravemente a cognição.

Um dos servidores afirma que no início do ano letivo cada escola expede um ofício especificando a demanda de professores de apoio direto e indireto nas unidades. “No começo do ano mandamos o ofício com o nome dos alunos e necessidades de cada um. Dessa forma, a Secretaria vai disponibilizando de acordo com a demanda das escolas”. Mas o ano letivo já começou há mais de um mês e a falta de professores especializados faz com que esses dois alunos sejam excluídos do ensino básico por não terem suas necessidades atendidas.

Cada ano piora

Os professores de apoio da escola têm que lidar com turmas de 4 a 6 alunos com deficiência. “Acredito que a SME esteja atrasada porque as aulas já iniciaram, mas esses alunos têm que ficar em casa porque não há professores de apoio”. O mesmo servidor ainda garante que apesar da demora, o ano anterior foi ainda pior. “Esse ano liberaram alguns desses professores mais cedo. No ano passado, os pais tiveram que fazer manifestações para que esses profissionais aparecessem”.

Ciente da situação geral na rede municipal de educação de Aparecida, o servidor comenta que a unidade na qual trabalha é uma das menos prejudicadas em relação à falta de professores de apoio. “Conversando com colegas de outras unidades, acabo achando que nossa escola é privilegiada nesse sentido”.

Aluno da Escola Municipal João Candido da Silva, Pedro Augusto Lima Alves tem déficit de atenção e autismo leve. A mãe do aluno, Nayara Lima expõe que seu filho não está tendo o aproveitamento correto das aulas por falta de professores de apoio. “Ele está indo, mas está tendo aulas junto com os alunos sem deficiência e seu aprendizado tem ficado prejudicado”. Ela ainda diz que cobra o serviço dos profissionais de ensino especializado desde o ano passado, mas até hoje não obteve resposta.

Uma das unidades mais prejudicadas é a Escola Municipal Santa Cecília. João Lucas Moura Cole tem 14 anos e estuda no período matutino. Além de ter deficiência visual total, ele nasceu com cinco meses de gestação e por isso sua idade cronológica não corresponde à biológica. João Lucas toma aulas junto com alunos de sete anos. Ele não teve atendimento de nenhum professor de apoio em 2019.

Este ano, uma dessas profissionais pedagógicas atende dois alunos com deficiência, mas de acordo com a avó de João Lucas, Jerecy Maria Moura Bernardes, a deficiência de seu neto requer atendimento individual. Além do aprendizado do aluno com deficiência ficar prejudicado pela falta de atendimento em apoio direto, ele não consegue ter aproveitamento correto dentro da sala de aula porque falta a máquina que permite deficientes visuais a escrever.

A avó do estudante explica que apesar da Secretaria Municipal de Educação ter anunciado a chegada de óculos digitais para pessoas com deficiência visual, a máquina para escrita é essencial para o aprendizado de seu neto. “Ele usa o óculos para ler, mas necessita desse equipamento especial para escrever, sem ele não tem como ele copiar a matéria que o professor passa em sala de aula”, lamenta.

Quantidade de professores de apoio não é compatível com número de alunos  

De acordo com servidores da escola, a quantidade de professores de apoio não é compatível com o número e grau de deficiência dos estudantes. O professor designado para apoio indireto acaba ficando na sala com cinco, seis alunos. “Cada aluno tem um grau diferente de deficiência. Temos uma professora que tem um aluno com uma doença degenerativa que requer atendimento individual, mas a profissional ainda tem que atender mais quatro alunos com deficiência. É um sacrifício”, afirma.

Ele ainda diz que a escola possui mais dois alunos com deficiência visual que também ficaram desatendidos. Uma das professoras da unidade fez um balanço do número de alunos com deficiência na Escola Municipal Santa Cecília. Somente no período matutino existem 37 alunos com algum grau de deficiência. Destes, cerca de 15 estudantes necessitam de apoio direto e individual. No entanto, apenas um deles tem esse tipo de atendimento.

Outro problema tem agravado a questão da inclusão na unidade escolar. A sala do Atendimento Educacional Especial (AEE) é frequentemente inundada pelas chuvas. “Nem precisa ser tempestade. Basta um pingo e a sala enche de água”, denuncia um servidor. Além de falta de professores de apoio há a falta de infraestrutura que compromete o aprendizado diferenciado dos estudantes portadores de deficiência.

O servidor da Escola Municipal Santa Cecília que conversou com a reportagem disse que esteve em reunião com profissionais das outras unidades para a discussão do Projeto Político Pedagógico da rede municipal na última quarta-feira (19) e a reclamação da falta de professores de apoio teve destaque na ocasião. “Todos alegaram problemas de infraestrutura e de falta de professores de apoio”.

A Secretaria Municipal de Educação de Aparecida (Semec) informa que todos os seus cerca de mil alunos matriculados nas 61 escolas municipais são assistidos diariamente por profissionais do Atendimento Educacional Especializado (AEE) no contraturno escolar e por professores de recurso que atendem uma ou mais crianças de uma mesma unidade escolar de acordo com laudo médico pericial, de acordo a legislação específica para área, em especial, conforme recomenda o Estatuto da Pessoa com Deficiência.

A Semec informa ainda que sua Coordenadoria de Inclusão (CI) já tem ciência e está acompanhando por meio dos profissionais do Atendimento Educacional Especializado (AEE) da Escola Municipal Parque Santa Cecília, em especial, o professor de apoio que acompanha o aluno citado, que enviará para conserto amanhã, após o feriado de Carnaval, a máquina que o estudante utiliza para fazer seus processos de escrita. Contudo, a CI informa que mesmo sem a máquina existem, e estão sendo trabalhados com o aluno, outros mecanismos para se desenvolver a escrita durante as aulas sem que a situação relatada traga prejuízo às suas atividades pedagógicas.

Quanto à questão de inundações em uma das salas de aula da Escola Municipal Parque Santa Cecília, conforme apresentado pela matéria, a Semec enviará sua equipe de manutenção para avaliar os danos e fazer os reparos necessários neste espaço. (Especial para O Hoje) 

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