Atraso em obra da Praça do Trabalhador traz desespero aos feirantes
Conclusão do trabalho foi prorrogada três vezes desde novembro. Atrasos já somam cinco meses| Foto: Wesley Costa
Igor Caldas
Atraso em obra da Praça do Trabalhador traz desespero aos feirantes que montam suas barracas em locais provisórios até que a conclusão do trabalho permita que eles voltem ao local tradicional da Feira Hippie e da Madrugada. A entrega da obra já foi prorrogada inúmeras vezes. A Secretaria de Infraestrutura e Obras do Município (Seinfra) alega que o motivo do atraso são as fortes chuvas do início do ano. Esse também é o principal problema que aflige os feirantes que instalam suas tendas em três quadras de barracas ao redor da Praça do Trabalhador.
De acordo com o Presidente da Associação da Feira Hippie, Valdivino da Silva, as maiores dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores atualmente são os alagamentos, o barro e a lama formada quando a água das chuvas carrega parte da terra vermelha da obra da Praça do Trabalhador para os locais de instalação das tendas. “O pessoal está com muita dificuldade. Quando chove, tudo fica alagado e a mercadoria que cai nas poças de lama não podem ser mais ser vendidas”, lamenta. De acordo com o Valdivino, a Feira não consegue sobreviver mais quatro meses nos locais provisórios.
Outro problema apontado pelo presidente da Associação é a divisão que ocorreu por causa da distribuição dos feirantes nos locais provisórios e a construção de um muro que diminui a visibilidade de uma parte das barracas. “O muro dividiu a feira, quem está de um lado, não consegue ver o outro e deixa parte dos feirantes prejudicados com o local menos privilegiado”.
Valdivino afirma que o pior espaço de instalação é a quadra da Feira próxima a loja da Leroy Merlin, conhecida como “rabo de gato”. “Ninguém que vem para a Feira enxerga as barracas que estão lá”. Além disso, afirma que o espaço tem os piores alagamentos com a formação de muita lama. O feirante ainda afirma que a divisão do conjunto das barracas em três quadras enfraquece a força da Feira. “Fica parecendo que são três locais diferentes. Quem vai fazer compras em um, não vai ao outro”.
A principal reivindicação da Associação dos Feirantes da Feira Hippie à Prefeitura de Goiânia é que ela volte à Praça do Trabalhador o mais rápido possível, mesmo que seja antes da conclusão da obra, prevista para julho deste ano. “Estamos pleiteando a volta com 70% de conclusão dos trabalhos. Não aguentamos esperar até o fim”. O feirante ainda afirma que cumpriu todas as demandas que a Prefeitura de Goiânia solicitou para a reforma.
A Associação elaborou levantamentos, emitiu documentação, e catalogaram os locais onde cada feirante deve instalar sua barraca na Praça do Trabalhador. Ao todo são 5.575 trabalhadores. Valdivino diz que apesar das dificuldades nenhum feirante desistiu de continuar com suas barracas nos locais provisórios. “Sabemos como voltar à Praça, mas se a obra não é entregue não temos como voltar”, cobra.
A desigualdade na distribuição das barracas faz com que muitos trabalhadores queiram mudar de lugar e afeta a organização da Feira. “Todo mundo quer fugir do rabo de gato da feira. O feirante acaba migrando de uma quadra para outra na esperança de achar um lugar melhor para vender”. Os feirantes trabalham em conjunto com os montadores de barracas que têm seus pontos específicos em cada quadra.
Montadores de tendas também estão prejudicados
Os locais provisórios atingidos pela chuva também estão prejudicando os montadores de barracas. Devido às migrações dos feirantes, Gustavo Evangelista da Costa perdeu 30 pontos na quadra onde monta as barracas. Ele trabalha como montador na Feira Hippie e da Madrugada há 20 anos. “A cada mês de atraso da obra eu tenho prejuízo de R$ 3,2”, afirma. Ele relata que os feirantes desistiram de ficar no local onde monta suas tendas.
Gustavo começou seu trabalho nas feiras com apenas 16 pontos de montagem de barracas. Após dez anos, ele conseguiu dobrar o número de pontos. Hoje, depois de 20 anos trabalhando no ramo, o trabalhador regrediu. “Estava com 50 pontos com barracas e por causa da obra tive um retrocesso. Voltei 10 anos no tempo em meu negócio”.
Antes de se tornar montador de barracas, ele trabalhava em uma metalúrgica, onde se feriu e perdeu parte dos dedos da mão. Se a previsão das obras continuar a se prolongar, Gustavo acredita que terá que mudar de profissão novamente. “Não tem outro jeito. Falaram que iam entregar em novembro, depois em maio, agora em julho? Se continuar assim vou ter que arrumar outro serviço”, lamenta.
De acordo como secretário de Obras da Prefeitura, Dolzonan Matos, a nova previsão para conclusão da Praça do Trabalhador ficou para julho deste ano. “Houve bastante chuva, então tivemos que fazer um aditivo de prorrogação de prazo com a empresa responsável pela obra”, justifica. O secretário afirma que a chuva tem atrapalhado o assentamento dos pisos “paver” que vão constituir todo chão da Praça do Trabalhador.
O titular da pasta diz que o trabalho na obra está contando com maquinário moderno. “Temos uma máquina capaz de assentar 1.300 m² por dia de piso, mas estamos conseguindo colocar apenas 800 m² diariamente, quando o chão não está muito úmido”. Ele destaca que para assentar o piso, é necessário um nível de umidade do solo que é difícil de ser alcançado com as chuvas constantes deste período do ano.
Os edifícios administrativos e sanitários da Praça do Trabalhador já foram terminados e estão fechados. De acordo com Dolzonan, a pintura externa será executada quando a obra estiver próxima de sua inauguração. Ele alega que a iluminação de todo conjunto da Praça do Trabalhador que inclui a parte externa da antiga Estação Ferroviária está sendo feito por meio de verbas da administração do município.
Além da chuva, o secretario cita o possível transtorno que a volta dos feirantes à Praça do Trabalhador durante as festas de fim de ano como justificativa para o atraso das obras. A primeira data para a conclusão estava prevista para novembro de 2019. “Houve grandes festividades na proximidade do último Natal e os próprios feirantes não queriam enfrentar um tumulto de transferência nesse período porque poderiam perder as vendas crescentes desta época do ano”, conclui. (Especial para O Hoje)