Locações de veículos caem 80% sob ameaça da Covid-19, em Goiás
Coronavírus no Estado desacelerou o crescimento do mercado automobilístico. Não só as vendas de carros e motos caíram drasticamente, mas a locação de veículos também tem sofrido o impacto econômico da paralisação.
Igor Caldas
O isolamento necessário ao combate à pandemia do novo Coronavírus em Goiás desacelerou o crescimento do mercado automobilístico. Não só as vendas de carros e motos caíram drasticamente, mas a locação de veículos também tem sofrido o impacto econômico da paralisação. Os pátios das locadoras de carros na Capital estão lotados de carros devolvidos. Representantes da categoria de empresas de aluguel de veículos do Estado afirmam que a demanda caiu em 80% desde que as medidas de controle de circulação de pessoas foram decretadas e temem prejuízos irreversíveis.
O presidente do Sindicato das Empresas Locadoras de Veículos Automotores de Goiás (Sindiloc-GO), Rogério Reis, acredita que muitas empresas poderão decretar falência após o período da pandemia. “Grande parte das empresas do setor trabalha com sistema de alavancagem que consiste em financiamento dos carros a serem alugados. As prestações são quitadas com o rendimento dos aluguéis”, explica.
Rogério, que também é proprietário de cinco empresas do setor em Goiânia, diz que se os carros não forem alugados, as dívidas geradas pelos financiamentos podem se tornar uma “bola de neve”. “Como o mercado de venda também caiu, fica difícil quitar as dívidas e os veículos ficam parados”. Além disso, os gastos com o IPVA oneram mais ainda o prejuízo dos locadores. Quanto às prestações, o empresário ainda diz que os bancos estão oferecendo a postergação de quitação das parcelas mediante cobrança de juros.
No entanto, o empresário explica que esta opção pode vir a ser um tiro que pela culatra para o empreendedor. “Se eu jogar o parcelamento para o final do contrato, vai correr juros sobre juros e a dívida pode ficar ainda maior”, justifica o presidente do Sindiloc-GO. Outro problema mencionado é a questão dos impostos. “O IPVA vence anualmente e a gente dilui esse custo em 12 meses. A cada mês que o carro está parado, é mais um prejuízo que teremos que cobrir”.
Segmentos
As locações de veículos possuem vários segmentos. Há aluguel para o governo, mercado varejista, empresas privadas e motoristas de aplicativo. Rogério afirma que houve quase uma redução total na locação de varejo, pois ninguém tem viajado para chegar aos aeroportos e necessitar de aluguel de carro. Os segmentos de motoristas de aplicativo tiveram uma redução porque grande parte devolveu os carros devido aqueda na demanda de viagens. O único segmento que não teve muita alteração, segundo o empresário foi o governamental porque os contratos são anuais.
O presidente do sindicato dos locadores constata que a expectativa de crescimento do setor frustrada pela pandemia foi ainda mais prejudicial aos investidores. “Quando se tem uma perspectiva de crescimento, há investimento, novos financiamentos, novas contratações porque espera-se um retorno. Quando isso não acontece, resta apenas o endividamento”. Para completar, ele ainda explica que o grande complemento do mercado da locação é a venda do automóvel cujo mercado também foi duramente atingido pela crise. “Se o marcado de venda vai mal, a gente fica mal”.
Redução no preço do aluguel como atração
Uma das medidas adotadas pelas locadoras para impedir prejuízos maiores com devoluções de veículos em massa foi a redução no preço do aluguel. Gerente de uma empresa de locação de veículos na Capital, Adilson Pereira de Sousa declara que os rendimentos da empresa caíram em 50% desde o decreto de isolamento social.
“Quando as atividades foram paralisadas, muita gente teve que devolver o veículo porque não dariam conta de pagar o aluguel. Tivemos que cortar o preço da locação pela metade para não haver devoluções em massa”, relata o gerente. Ele ainda diz que apesar da queda da receita, as despesas da empresa não caíram. “Aluguel, energia, essas coisas não alterou nada, o valor é o mesmo. Se esta paralisação se estender por mais tempo, muitas empresas vão quebrar”, constata.
O gerente da empresa defende que mesmo se os bancos abrirem linhas de crédito em socorro às empresas, a situação vai continuar muito desfavorável para os empresários do ramo. “De toda forma, mesmo com abertura de crédito, as empresas ainda correm risco de quebrar no futuro porque será uma medida paliativa. Os juros desses empréstimos se somarão a outras dívidas que estão sendo geradas pela crise”. Adilson conclui dizendo que os impostos e encargos trabalhistas não serão suportados pelos empresários se não houver alguma ajuda do governo.
Motoristas de app sofrem com queda na demanda
Um dos segmentos atendidos pelo setor de locação de veículos é o de motoristas por aplicativo que também sofreu violenta queda de demanda por viagens. Regivan Silva de Almeida aluga um carro há cerca de três meses para trabalhar como motorista de aplicativo e afirma que as corridas ficaram escassas de forma repentina. “Estava tudo indo bem e de uma hora para outra caiu 80% da demanda. Antes, era uma corrida emendada na outra, hoje você fica duas ou três horas com o carro parado esperando alguém chamar”.
O motorista admite que só está mantendo o aluguel do veículo porque a locadora baixou o custo da locação. “Eu só não devolvi o veículo porque a locadora fez uma proposta para que eu pudesse continuar a trabalhar. Se não eu não conseguiria pagar”. Regivan decidiu continuar a trabalhar mesmo sabendo que o pico de contaminação será nos próximos dias. Ele ressalta que em tempos de disseminação da Covid-19, dirigir para sobreviver se tornou ainda mais arriscado. “A gente faz o que pode, usa álcool em gel, máscara, mas eu não posso ficar sem trabalhar”.
Alguns motoristas de aplicativo que usam carros alugados vão manter a locação de veículo mesmo decidindo ficar em casa nas semanas do pico da contaminação do novo Coronavírus. É o caso de Rosberg Figueiredo, 34 anos. “Eu resolvi parar de trabalhar porque moro com minha avó que é do grupo de risco. Eu também me encaixo nessa situação porque tive um problema de saúde recentemente”.
O jovem optou por continuar com o carro porque diz que pode precisar para alguma emergência. “Eu ia devolver, mas a locadora fez uma proposta para que eu continuasse com o veículo. Como eu decidi por permanecer em casa nas próximas semanas, posso precisar do carro para algum tipo de emergência”. Ele ainda declara que só vai voltar a trabalhar quando seus recursos realmente chegarem ao fim.
“Uma hora eu vou ter que voltar porque o dinheiro vai acabar e eu não vou ter como me manter, mas vou tomar todo cuidado necessário com equipamentos de prevenção e uso do álcool em gel dentro do carro”. O motorista ainda prevê que ele consiga a tão esperada ajuda de R$ 600 que o governo tem prometido. “Eu estava me informando e vi que os motoristas de aplicativo se encaixam no perfil de quem vai poder receber o auxílio, mas esse dinheiro já deveria ter saído, é muita enrolação”.
Além de considerar que o auxílio do governo aos trabalhadores autônomos está demorando a sair, o jovem defende que o valor é insuficiente para o sustento. “É uma ajuda que acaba fazendo com que as pessoas não fiquem em casa porque vão precisar sair para complementar a renda de alguma forma, mas eu vou tentar ficar em casa por mais tempo possível com esse recurso”, conclui. (Especial para O Hoje)