Goiás é o clube brasileiro que mais utiliza jogadores desde 2015
Entre os clubes brasileiros, quem se “destaca” é o Goiás, que contou com 143 jogadores diferentes entre 2015 a 2019 – Foto: Rosiron Rodrigues/Goiás EC
Felipe André
O Observatório do Futebol do Centro Internacional de Estudos
de Esporte (CIES, sigla em inglês) fez um levantamento sobre a quantidade de
jogadores utilizados em campeonatos de todo o mundo. A pesquisa revelou o Campeonato
Brasileiro como o terceiro, entre 87 ligas de primeira divisão do mundo, em que
os clubes mais utilizam jogadores diferentes numa mesma temporada.
De acordo com levantamento, que considera as edições de 2015
a 2019, cada time que disputou a Série A nacional no último ano mandou a campo,
em média, mais de 35 atletas (35,55). A rotatividade no Brasileirão só é
superada pelas registradas nas ligas paraguaia (38,72) e jamaicana (36,40).
Entre os clubes brasileiros, quem se “destaca” é o Goiás,
que contou com 143 jogadores diferentes neste período. O Esmeraldino é o 10º da
lista, liderada pelo Deportivo Pasto (Colômbia), que levou a campo 176 atletas
nos últimos cinco anos. Os times sul-americanos encabeçam o ranking: são 14
entre os 20 primeiros – Bahia (132) e Avaí (131) também integram esse top-20.
“O relatório mostra, claramente, quem é quem no
ecossistema de cada país e no futebol mundial […] Esses clubes que lideram a
lista não são de grande poderio econômico, mas são menores do ponto de vista
financeiro. A rotatividade nos elencos é alta porque são times que fornecem
atletas a clubes mais ricos do próprio país, e até do resto do continente, no
caso específico da Colômbia, ou para outros centros esportivos. Europa, de
forma geral”, explica à Agência Brasil o professor da Escola de Educação
Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP), Ary Rocco Júnior.
Os campeões das últimas cinco edições do Campeonato
Brasileiro, Palmeiras (91), Flamengo (92) e Corinthians (93), são os clubes do
país que menos utilizaram jogadores diferentes. “A gente vê que os times
de maior rotatividade são os que não têm uma clara pretensão de ganhar
campeonatos nacionais, então, sobrevivem da venda de atletas. Um atleta aparece
e rapidamente é vendido. Isso justifica Palmeiras ou Flamengo terem uma
variação menor. Reflete o posicionamento das agremiações”, avalia Rocco
Júnior, que também é diretor de Relações Institucionais da Associação
Brasileira de Gestão do Esporte (Abragesp).
A rotatividade nas principais equipes brasileiras, porém,
ainda é bem superior à de clubes grandes, ou mesmo medianos do futebol europeu,
que estão na outra ponta do estudo. “O Brasil, hoje, é exportador de
jogadores para a Europa, que é muito mais estruturada em gestão e que vê o
futebol como negócio há bem mais tempo. Mesmo Flamengo ou Palmeiras ainda
precisam vender atletas para recompor as finanças”, analisa o professor.
Ele destaca ainda o Shangai SIPG (China) que apresentou menor alternância no
elenco entre 2015 e 2019: 44 atletas, de acordo com o levantamento do CIES.
“É um caso significativo porque mostra a
Ásia como outro mercado comprador de pé de obra, onde o dinheiro começa a
circular, permitindo que os atletas fiquem lá por mais tempo. Então, o
relatório mostra claramente essa geografia financeira”, conclui o
dirigente da Abragesp.