Diante da pandemia, mercado de casamentos busca fôlego e noivos adiam cerimônias
Noivas estão adiando o casamento para o próximo ano. Algumas empresas do ramo de eventos já decretaram falência| Foto: Divulgação
Daniell Alves
O mês das noivas de 2020 será muito diferente do habitual: sem festas de casamento. Com as recomendações de isolamento social devido ao Coronavírus, as cerimonialistas vão ficar sem coordenar eventos por um bom tempo. Isto porque algumas noivas já remarcaram as datas das festas para o próximo ano, quando acreditam que a pandemia terá passado. Já outros casais optaram pelo casamento com poucos convidados e por meio de lives. De qualquer modo, a crise na área de eventos está cada vez pior.
Fernanda de Deus, proprietária da empresa Fernanda de Deus Assessoria e Cerimonial, está sentindo os impactos negativos da crise. Dos 16 eventos que estavam previstos para este ano, 13 foram remarcados para 2021. Ela deve voltar a trabalhar em setembro e acredita que até lá a crise terá sido amenizada. “Se não voltar a área de eventos irá quebrar. O custo, hoje, para uma empresa de decoração é bastante alto porque tem toda uma equipe, empresas de flores e outros fornecedores”, destaca.
Ela já adianta que muitas empresas que fornecem flores para casamentos já estão começando a falir, já que as flores têm uma época específica para florescerem. Porém, a cerimonialista acredita que as festas após a pandemia serão as mais emocionantes. “Eu acredito que o momento do reencontro será de muita felicidade para os noivos e suas famílias”, diz. Segundo ela, as clientes não optaram por cerimônias virtuais, pois querem sentir o abraço de cada um dos convidados.
Apesar de maio ser considerado o mês das noivas, momento em que as datas são muito disputadas, e as casas de festas se preparam para muitas comemorações, os casais vão aguardar um momento mais propício para isso. “Todas elas pretendem esperar este momento de pandemia passar para fazer uma cerimônia com os amigos e famílias reunidas como de costume. Na verdade, uma celebração hoje é algo muito forte, porque é um dos poucos momentos que as pessoas se reúnem. Minhas clientes não querem as pessoas de máscaras de proteção, querem tirar fotos com todos juntos”, explica.
No âmbito da sonorização, os proprietários de empresas deste tipo também perderam diversas festas que já estavam acertadas. Felipe Coimbra, 35 anos, que instala caixas de som em eventos, conta que, até o momento, já foram três festas canceladas por conta da pandemia e ele acabou ficando no prejuízo. “Todo mundo fica inseguro de investir para poder fazer um casamento porque não é algo barato. Nossa área de eventos está sendo muito prejudicada”, ressalta Felipe.
Alternativa
Enquanto a crise não passa, Fernanda já está fechando novas parcerias para quando a pandemia acabar. Ela começou a investir na área de design de interiores para ter um retorno posteriormente. “Estou terminando um curso e vou fazer projetos junto com meu marido que já atua nessa área, só que ainda é incerto”, revela. Desde o anúncio do primeiro decreto, o lucro da empresa de Fernanda caiu em 100%. Ela também está entre as pessoas que têm direito ao auxílio emergencial, do Governo Federal, mas ainda aguarda uma resposta. “Infelizmente têm empresas que já fecharam as portas e não vão abrir mais”, enfatiza.
Festa adiada
Mudar a data da festa de seu casamento não estava nos planos dos noivos Amanda Cabral e Celso Leão. A data inicial era de 21 de março, mas com o decreto que suspendeu os eventos em Goiás, eles tiveram que remarcar a data para o mês de setembro. Estava praticamente tudo pronto para a festa, porém a pandemia do Coronavírus impediu que a festa acontecesse na data programada.
Quando se deu conta que teria que adiar a festa, Amanda conta que se sentiu frustrada. “Foi muito triste, pois sonhei a vida toda com esse dia. Nós preparamos tudo e faltando apenas quatro dias precisamos adiar. Foram dias de bastante tristeza, mas Deus tem nos sustentado e nos mostrado que existe um propósito maior em remarcar essa data”, afirma. Os noivos estão juntos há cinco anos e se casaram no Civil no ano de 2017.
Porém, naquela época, eles não tinham condições de arcar com as despesas de uma grande festa. Desde o último ano, os dois têm planejado o evento que ainda não aconteceu, mas Amanda diz estar confiante. “Grandes coisas iremos experimentar, será muito emocionante. Cremos que todos irão e estaremos mais confortáveis com relação à pandemia, para poder aproveitar melhor a festa”, acredita.
Questionada se teve algum tipo de prejuízo financeiro, a noiva afirma que não teve muitos prejuízos. Segundo ela, os fornecedores foram compreensíveis, já que também estão sendo drasticamente afetados pelos casos da Covid-19 no Estado. O número de pacientes infectados não para de crescer e já atinge o estágio quatro: com mais de mil casos confirmados.
Sem celebração
Diferente de Amanda, a contadora Maria de Jesus Oliveira, 40 anos, não teve tempo de pensar na festa. Ela conta que já não pretendia fazer alguma celebração por causa das condições financeiras dela e do noivo, Elder Costa, 42 anos. Mas nem no cartório ela vai por enquanto. “Vamos esperar o isolamento social acabar para ir ao cartório, porque estamos evitando qualquer tipo de aglomeração”, explica. Para ela, a festa será bem simples apenas com a família. Porém, ela ainda não tem uma previsão de quando isso irá acontecer.
Alguns casais não aguentaram esperar mais
Alguns preferem esperar mais um pouco antes da grande festa. Já outros, mantêm a cerimônia para oficializar a união. Estava previsto para este mês o casamento de DimitriaFrancischini e Rafael Duarte, mas precisou ser remarcado e aconteceu no último mês. A cerimônia foi realizada em Porto Velho, em Rondônia, de um jeito diferente do habitual, com máscaras de proteção e com a presença apenas do pai do noivo, a mãe da noiva e o juiz de paz do cartório.
O casal se conhece desde os 13 anos, mas uma mudança de Rafael para Anápolis havia mudado a proximidade dos dois. “Mesmo ele morando em Anápolis a gente se via, duas, três e até quatro vezes ao ano. Namoramos durante cinco anos à distância. A gente queria ficar perto um do outro, foi quando a gente decidiu se casar mesmo com essa pandemia”, disse Dimitria.
Em Cumari, no Sudeste de Goiás, outro casal teve que cancelar a festa, mas seguiu com a cerimônia na igreja com apenas dez convidados. Para que outras pessoas pudessem acompanhar, a celebração foi transmitida por meio de um vídeo ao vivo. O evento foi realizado no último 25 e havia sido planejado pelo casal há mais de um ano.
Mudanças
Conforme o cartorário Bruno Quintiliano, não há como comparar o regime normal com que estamos vivendo durante o período de adoção de medidas contra o avanço da Covid-19 no Estado. Nos últimos dias, teve uma paralisação de quase todas as atividades cartorárias, excluindo aquelas consideradas de urgências. Algumas ações passaram a ser retomadas a partir de liberação judicial.
A pandemia fez com que os cartórios estabelecessem restrições para os casamentos. Além dos noivos, são permitidos somente as testemunhas. Os locais passaram a adotar também as lives, como as dos artistas. O casamento é transmitido através do Instagram do cartório, basta que os noivos peçam este tipo de ferramenta.
Máscaras e luvas também são regra e seguidas pelos próprios juízes, que mudaram a forma de se apresentar aos noivos. O ambiente que recebe os casais também mudou e há espaçamento maior entre as cadeiras, além da presença quase constante do álcool gel. “As aglomerações também não são permitidas. Os próprios funcionários criaram um comitê para tentar aplicar regras. Outro dia tiveram que diminuir o fluxo de entrada no local”, aponta Bruno. (Especial para O Hoje)