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domingo, 22 de dezembro de 2024
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50 anos

Paradas virtuais celebram Dia do Orgulho LGBTI no Brasil e no mundo

Movimento organizado por 30 associações começa às 14h deste domingo (28), com o Festival de Cultura e Parada Online do Orgulho LGBTI Brasil, comemorando os 50 anos da Revolta de Stonewall – Foto: AG.

Postado em 28 de junho de 2020 por Nielton Soares
Paradas virtuais celebram Dia do Orgulho LGBTI no Brasil e no mundo
Movimento organizado por 30 associações começa às 14h deste domingo (28)

Mais de 50 anos depois que a
Revolta de Stonewall tomou ruas de Nova York pedindo o fim da violência
policial contra LGBTIs (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e
intersexuais), a celebração do Dia do Orgulho LGBTI, comemorado neste domingo
(28), ocupará as redes sociais para manter o distanciamento social em meio à
pandemia de Covid-19. No Brasil, mais de 30 associações e entidades que
reivindicam o respeito à diversidade sexual e de gênero promoverão, a partir
das 14h, o Festival de Cultura e Parada Online do Orgulho LGBTI Brasil, que
poderá ser acompanhado nas redes sociais.

Serão 10 horas de programação,
com apresentações de artistas, depoimentos de pessoas LGBTI e mensagens de
apoio de personalidades como o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo
Tribunal Federal (STF).

A solução virtual para celebrar a
liberdade e as conquistas das pessoas LGBTI sem propagar o novo Coronavírus foi
adotada em algumas das principais paradas do mundo. Em São Francisco, nos
Estados Unidos, o festival San Francisco Pride comemora desde ontem (27) seus
50 anos também pela internet, com apresentações transmitidas ao longo de todo o
fim de semana. Em Berlim, na Alemanha, a celebração ocorreu no dia 25, também
pela internet. Já em Barcelona, na Espanha, e na Cidade do México, a data
escolhida foi ontem. Toronto e Nova York estão entre as cidades que também
farão celebrações virtuais neste domingo.

A vice-presidente do Grupo
Arco-Íris, Marcelle Esteves, conta que a parada brasileira terá abrangência
nacional, com participação de artistas e convidados das cinco regiões do Brasil
ao longo de suas 10 horas de duração. O Grupo Arco-Íris é o organizador da
Parada LGBTI de Copacabana e trabalha na articulação da parada virtual com a
Aliança Nacional LGBTI+ e a União Nacional LGBTI.

Marcelle adianta que a parada vai
falar para um público amplo, buscando alcançar não apenas quem costuma
frequentar os atos, mas também suas famílias e quaisquer pessoas que cheguem ao
festival pelas redes sociais. Outra intenção é revigorar o ânimo dos LGBTIs que
podem estar sofrendo preconceito e violência dentro de suas casas.

“Nesse momento em que a
população LGBT muitas vezes está isolada em casa com seus algozes, contaremos
histórias de orgulho. Vai ter essa catarse para essa população que a gente não
pode esquecer”, conta Marcelle. “Será a possibilidade de essas
pessoas não se verem totalmente sozinhas, se perceberem acolhidas mesmo à
distância e poderem recuperar o fôlego”.

Marcelle será uma das
apresentadoras da parada, ao lado do coordenador-executivo do Grupo Arco-Íris,
Claudio Nascimento, e da coordenadora de pessoas trans da Aliança Nacional
LGBTI, Alessandra Ramos. A escolha de três pessoas LGBTIs negras para conduzir
a parada traz para o movimento a luta antirracista que está em ebulição ao
redor do mundo.

“A gente não poderia jamais
ficar de fora dessa luta. Não tem como fazer uma parada do orgulho LGBTI e não
dizer que vidas negras LGBTI importam”, afirma Marcelle. “Teremos os
rostos pretos o tempo inteiro, o que desmistifica um pouco aquela imagem do gay
branco e sarado. Isso é importante porque mesmo dentro da comunidade LGBTI
existe racismo”.

A parada contará com artistas
LGBTIs históricos, como Jane Di Castro, Lorna Washington e Suzy Brasil. A
programação também terá diversidade regional, com atrações como o Boi Garantido
do Festival Folclórico de Parintins.

A Parada LGBTI Brasil será a
segunda parada virtual celebrada no Brasil no mês do orgulho LGBTI. No dia 14
de junho, a Associação da Parada LGBT de São Paulo promoveu seu ato online no
mesmo dia em que estava marcada a tradicional parada da Avenida Paulista.
Vice-presidente da associação, Renato Viterbo conta que o número de
visualizações da transmissão chegou a 11 milhões. “Foi uma ação para não
deixar a data sem nenhuma atividade, e um meio de levar à nossa comunidade um
alento diante de tudo que está acontecendo”, afirma ele.

Apesar da edição virtual, a
parada LGBTI de São Paulo ainda pode ter uma versão física, que, por enquanto,
está prevista para novembro. Entretanto, as chances de isso se concretizar
ainda dependem da contenção da pandemia.

“A gente sabe que talvez
isso não seja possível”, reconheceu Renato. “Mas a parada virtual
cumpriu o seu papel como instituição LGBT e movimento de direitos
humanos”.

1 ano da criminalização

O Dia do Orgulho LGBT é celebrado
no aniversário da Revolta de Stonewall, quando pessoas LGBTI enfrentaram a
polícia de Nova York por causa da constante repressão em locais que frequentavam,
como o bar Stonewall Inn. 51 anos depois do episódio, considerado marco da luta
por direitos humanos ao redor do mundo, os LGBTIs brasileiros comemoraram neste
mês um ano da criminalização da LGBTIfobia, equiparada ao crime de racismo pelo
Supremo Tribunal Federal (STF), em 13 de junho de 2019. Presidente do Grupo
pela Vidda e integrante da Associação Nacional de Travestis e Transexuais
(Antra), Maria Eduarda Aguiar foi uma das advogadas que defendeu a
criminalização diante da Suprema Corte.

“Foi um orgulho poder estar
lá. Tanto para mim quanto para outras travestis e transexuais, que puderam ver
uma pessoa como elas em um espaço como aquele, defendendo a vida das pessoas
LGBT. Vou guardar esse momento para sempre”, recorda a advogada transexual,
que fez a sustentação como amicus curiae, representando a Antra. “Muitas
pessoas me falaram que gostariam de ter falado aquilo e nunca tiveram chance.
As pessoas se sentiram um pouco parte daquilo”.

Maria Eduarda foi a segunda
mulher trans a participar como advogada de uma audiência em toda a história do
STF. Antes dela, Gisele Alessandra Schmidt e Silva fez uma sustentação oral no
processo que reconheceu o direito de transexuais de mudarem seu registro civil
para adequá-lo à sua identidade de gênero, em 2017.

Apesar da criminalização, a
presidente do Grupo pela Vidda afirma que a população LGBTI enfrenta com
frequência dificuldades para fazer valer o que decidiu o STF. Os problemas vão
desde interpretações divergentes em tribunais de primeira instância até falta
de atualização nos sistemas de informática de delegacias de polícia para que o
crime seja registrado, relata Maria Eduarda.

“É preciso lutar pela
implementação e para que isso passe a vigorar de verdade, no mundo real. Para
que o policial possa ouvir a denúncia e imediatamente registrar”, defende
ela, que pede o fortalecimento de delegacias especializadas no combate à
intolerância e o combate a crimes de ódio no ambiente virtual. “A maioria
da população tem o mínimo de empatia, e a gente consegue acessar com um bom
diálogo, desde que a gente consiga trabalhar para além dos muros da militância,
falando com as comunidades. Isso é possível, desde que a gente consiga combater
as fake news. As pessoas recebem muita informação falsa sobre o que é a causa
LGBT”. (Agência Brasil)

 

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