Igor Caldas

Mais de dois mil acidentes de trânsito com vítimas (lesão corporal culposa) ocorreram este ano em Goiânia.  Os dois bairros onde esse tipo de ocorrência acontece com mais frequência é no Jardim América, seguido pelo Setor Campinas. Sinalização precária ou falta dela e engenharias de trânsito inadequadas são apontadas como principais causas desses acidentes. Grande número de ocorrências é um indicador de que a infraestrutura viária deve ser alterada.

O especialista em engenharia de transportes que atua no Instituto Federal Goiano (IFG), Marcos Rothen, afirma que o local que apresenta mais de dois acidentes por ano deve ter a infraestrutura viária revisada. “O acidente é um indicador, a cidade cresce e se transforma e a engenharia viária tem que acompanhar suas mudanças”, defende. Ele afirma que em muitos pontos da Capital a infraestrutura está ultrapassada. “O fluxo de veículos de 10 anos atrás não é o mesmo de hoje. Em muitos pontos, o trânsito fica confuso e causa acidentes”, conclui.

Marcos ainda diz que um dos fatores que define a engenharia viária é o volume de tráfego.  “Em geral, a culpa sempre recai sobre o motorista, mas muitas vezes o problema está na engenharia de trânsito ultrapassada”, pondera. Além de causar acidentes, Marcos Rothen afirma que a confusão causada por infraestrutura inadequada gera estresse. “Às vezes, você vai por um caminho que não passa rotineiramente e fica porque é confuso. Isso gera buzina do outro que está atrás de você e conhece a particularidade daquele caminho”, afirma.

Jardim América

De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública de Goiás, levantados pelo jornal O Hoje, o bairro Jardim América é campeão em crimes de trânsito com lesão corporal, com uma média de 12 registros de acidentes por mês. Foram registrados 91 crimes de trânsito com lesão corporal culposa no setor este ano e 13 destes aconteceram na Avenida C-104.

Deve haver subnotificação dos casos porque os números foram obtidos baseados no registro de ocorrências, mas nem todo acidente com vítimas é registrado. O mês de agosto mal começou e já houve uma ocorrência de crime de trânsito com lesão corporal registrada. Um dos principais pontos que causa acidentes é a rotatória no cruzamento da Avenida C-137 com Avenida C-104. Neste local, a sinalização horizontal está apagada e a indicação de preferência das vias de mão dupla fica confusa.

Na tarde desta terça-feira (4), poucos motociclistas respeitavam a trajetória da rotatória no cruzamento da Avenida C-104 com a C-137, grande parte dos condutores passava sobre ela, como se o elemento não existisse. O fluxo de veículos estava confuso e por várias vezes a ocorrência de um acidente era iminente fazendo com que carros, pedestres e motocicletas tivessem que fazer evasões de última hora para evitar colisões.

Rotatórias defasadas 

De acordo com Marcos Rothen, a rotatória do local é inadequada para o alto fluxo de veículos da Avenida C-104. “É um caso típico de falha de engenharia de trânsito. A rotatória é para pequeno volume de tráfego, à medida que ele vai aumentando, tem que colocar um semáforo ou reorganizar o trânsito com outra rotatória”. Ele ainda diz que a engenharia inadequada causa confusão de preferência dos motoristas nas vias.

“Se você tirar uma hora do seu dia para ficar observando aqui, com certeza vai ver uma colisão com alguém saindo machucado”, afirma Lion Marques, proprietário de uma das oficinas mecânicas no local. O cruzamento está com a sinalização horizontal precária, com “Pares” e sinalização da rotatória quase apagada. 

A dificuldade para fazer a travessia também é evidenciada pelo mecânico. “Para atravessar a rua é muito complicado, acaba sendo um risco”. Ele diz que deveriam ter mais faixas de pedestres no local. A equipe do jornal O Hoje flagrou várias pessoas se arriscando ao atravessar a avenida entre os carros em movimento.

Joaquim de Sá Moreira é proprietário de outra oficina mecânica localizada próximo ao cruzamento há 18 anos e afirma que os acidentes acontecem diariamente. “Todo dia eu vejo acidente nessa rotatória e na maior parte das vezes alguém sai ferido”. O mecânico ainda afirma que a maioria dos acidentes envolvem motocicletas e ciclistas. “Deveria existir um semáforo para controlar melhor o fluxo de trânsito nesse ponto”, opina.

Pedestres

Ele também fala da falta de sinalização para pedestres na avenida. “Ao longo de toda a via temos pouquíssimas faixas de pedestres, por isso as pessoas são obrigadas a correr risco de atropelamento toda vez que querem passar para o outro lado da rua”. Ele afirma que já presenciou mortes no local. “Já aconteceu de gente perder a vida por causa de acidente aqui, acho que se tivesse uma sinalização melhor, isso poderia ter sido evitado”, defende.

Josilene Gomes Gouveia tem uma mercearia há apenas seis meses na Avenida C-104, próximo ao cruzamento com a C-137. Apesar de seu estabelecimento ser uma novidade no local, ela afirma que presenciou vários acidentes na rotatória. “O fluxo de trânsito naquele ponto é uma bagunça, o risco de acidente é muito alto”, afirma.

Campinas sofre com falta sinalização e fiscalização

Um dos bairros mais antigos da Capital, o Setor Campinas também tem alto número de acidentes de trânsito com vítimas. Dados da SSP-GO apontam que este ano houve 80 ocorrências de crime de trânsito com lesão corporal no bairro.  O maior número deste tipo de acidente aconteceu entre junho e julho, coincidindo com o período de reabertura do comércio na região. Os locais com mais ocorrências são na Avenida Anhanguera e Rua Quintino Bocaiúva.

O especialista em engenharia de transportes que atua no Instituto Federal Goiano (IFG), Marcos Rothen, afirma que não é só neste cruzamento que a incidência de acidentes é grande. Ele aponta a falta de fiscalização da Secretaria Municipal de Trânsito (SMT) como principal causa de acidentes na região. “É proibido estacionar o carro a menos de cinco metros de um cruzamento porque tira a visibilidade dos motoristas. Esse é o principal fato que agrava o número de acidentes nos cruzamentos do bairro”, afirma.

O grande número de ocorrências de trânsito no cruzamento entre a Rua das Laranjeiras com a Rua Quintino Bocaiúva, no Setor Campinas é apontada por moradores locais. Cláudio Marmo mora na esquina dessas duas vias e já se cansou de ver acidentes acontecendo. “Qualquer barulho que tem aqui o pessoal que mora no prédio da esquina já vai para as sacadas como plateia dos acidentes”, afirma.

A Avenida Quintino Bocaiúva é de sentido único (sentido Av. 24 de Outubro) e de acordo com Cláudio, uma grande árvore na esquina da Rua das Laranjeiras ajuda a piorar a visibilidade dos motoristas no cruzamento. “A pessoa que vem da Rua das Laranjeiras tem que aproximar bastante da esquina para enxergar e mesmo que o motorista pare, ainda ocorre o acidente”, diz.

Cláudio também aponta a imprudência dos motoristas como causa das ocorrências. “Muitos motoristas não respeitam a placa de ‘Pare’ e avançam”, declara. A Prefeitura de Goiânia fez o recapeamento do bairro recentemente, mas de acordo com Cláudio ainda falta sinalização horizontal em vários pontos do bairro. “Falta sinalização, reformaram a manta asfáltica de Campinas em algumas ruas, mas demoram a pintar o sinal de pare e as placas”. 

Para ele, o problema seria resolvido com uma rotatória ou semáforo. “Esses bairros mais simplórios da Capital tem um investimento muito baixo”. O morador de Campinas afirma que o problema do local é antigo. “Está do mesmo jeito há mais de 20 anos. O que já morreu de gente aqui. A gente conhece casos de dedos, membros voando dentro da casa dos outros depois de acidentes. É mórbido”, conclui.

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMT) informa que segue um cronograma mensal de revitalização e de implantação de sinalização horizontal. Afirma que parte da equipe da SMT continua atendendo às demandas de rotina, enquanto outra parte está designada para executar a sinalização das vias que estão recebendo o novo recapeamento. No entanto, a pasta diz que qualquer cidadão pode fazer a solicitação para revitalizar ou implantar a sinalização em qualquer lugar, por meio do e-mail smt.gabinete@gmail.com. (Especial para O Hoje)