Obras na Praça Universitária não foram concluídas
Emendas aditivas da Câmara Municipal foram liberadas para a revitalização de biblioteca e Palácio da Cultura – Foto: Wesley Costa
Igor Caldas
A revitalização da Praça Universitária teve início em novembro de 2019, mas não foi concluída. A Biblioteca Marieta Telles e o Palácio da Cultura, localizadas na parte interna da praça, continuam totalmente vandalizados, com vidros e estrutura interna danificada e com o chão do espaço sendo utilizado como banheiro pela população de rua. Há anos o local cumpria uma função educacional e cultural em um espaço histórico de Goiânia. Foram destinadas emendas aditivas da Câmara Municipal no valor de R$329,7 mil para a reforma dos espaços.
A Praça Universitária é um ponto de encontro de várias gerações de goianienses que usam o espaço para o lazer. Além de estudantes que frequentam os vários câmpus de universidades que circundam o local, a praça também é historicamente usada em eventos e manifestações políticas e culturais. O local que exibe obras de arte e esculturas de valor inestimável divide espaço com a arte de intervenções urbanas. Algumas dessas esculturas estão pichadas e vandalizadas, graças à falta de fiscalização no local. Uma revitalização completa da Praça foi anunciada pela administração municipal no último ano, mas pouca coisa foi feita desde então.
Depredações
O Palácio da Cultura vive hoje seu pior momento dentro da Praça Universitária. O local que já foi cenário de mostras de arte e também de inúmeras exposições culturais está abandonado. O segundo andar do espaço já acolheu figuras importantes do meio cultural goiano e hoje é alvo de depredações e muitas vezes é usado como banheiro, exalando um forte cheiro de urina e excrementos. Uma das vidraças da Biblioteca Marieta Teles, que funcionava no andar debaixo do prédio, foi quebrada e invadida. O local também exala cheiro de excrementos e está vandalizado.
A tão prometida obra de revitalização da Praça Universitária começou em novembro do último ano, mas não foi concluída. Foi investido cerca de R$ 1,26 milhão com reforma do asfalto no anel interno da praça, reforma dos canteiros, mas a revitalização da biblioteca, salão, e museu, que estava prevista, não aconteceu. Mesmo com verbas destinadas para a reforma, um dos patrimônios culturais e arquitetônicos da Capital continua entregue às depredações, em total descaso com a história da cidade.
A execução de parte da obra é de responsabilidade da administração municipal. A Secretaria de Infraestrutura e Obras Públicas ficou à frente do início da revitalização que foi financiada por emendas aditivas de vereadores da Câmara Municipal de Goiânia. O projeto feito pela Secretaria de Infraestrutura de Goiânia promete revitalizar o Palácio da Cultura onde fica localizada a Biblioteca Marieta Telles, com a reforma dos pisos, dos banheiros, da rede elétrica e hidráulica, além de dar uma função ao piso superior do edifício, que está abandonado e é usado como abrigo para pessoas em situação de rua. A responsabilidade da revitalização foi repassada para a Secretaria de Planejamento Urbano e Habitação. A pasta confirmou a informação.
Verba
A etapa final do projeto, que não foi feita, seria a revitalização da biblioteca e do salão Marieta Teles. A verba prevista para a reforma desse espaço foi de R$ 329.792,27. O valor total da revitalização foi de R$ 1.266.985,78. O recurso está previsto na Lei Orçamentária Anual (LOA) aprovada na Câmara Municipal de Goiânia de 2018. Por isso precisou ter início em 2019. Ainda no último ano, uma audiência pública aconteceu no Salão Marieta Teles. Na ocasião, foi abordado o projeto da revitalização dos espaços da praça e também as principais demandas da população.
Uma das principais demandas elencadas na audiência foi a falta de segurança do espaço que permite vandalismos, assaltos e até tráfico de entorpecentes. Na ocasião, foi cogitado que o projeto de revitalização incluísse uma base de segurança no local, conveniada com a Polícia Militar (PM) e Guarda Civil Municipal (GCM).
Reforma em 2011
A Praça também teve uma reforma em 2011 quando se fez a manutenção e troca do calçamento do espaço, assim como a troca de lâmpadas da iluminação pública. No entanto, frequentadores lamentam que depois da reforma houve pouca manutenção na Praça, motivo pelo qual os problemas de falta de iluminação, ausência de podas das árvores, depredações e ocorrência de crimes voltaram a aparecer.
Espaço sempre abrigou movimentos de diversidade
A Praça Universitária, batizada de praçaHonestino Guimarães, foi projetada por Atílio Corrêa Lima junto com o projeto inicial da nova Capital do Estado de Goiás em 1930. Inicialmente, o local foi pensado com vários elementos da Art Déco. No entanto, sua construção se deu apenas em 1969, quase 40 anos depois do projeto. Nessa época, o Setor Leste Universitário já concentrava muitos centros de ensino e o local que servia como ponto de encontro dos estudantes ficou conhecido como Praça Universitária.
Segundo o artigo acadêmico, “Um Olhar Geográfico sobre a Praça Universitária“, produzido por Alessandra Êgea e Eguimar Chaveiro, a Praça Universitária serve de espaço para uma pluralidade de manifestações culturais, políticas, estudantis e movimentos sociais. Para se ter uma ideia, na década seguinte a inauguração, a Praça serviu de ponto de encontro de pessoas que faziam parte da massa burguesa da época e também dos cidadãos que lutavam contra o governo do período da Ditadura Militar.
Nas décadas seguintes, a Praça sofreu modificações devido ao contexto histórico e político que sucedeu a década de 1980. Ela se transformou em ponto de encontro de diferentes tribos urbanas e passou a receber manifestações culturais desses segmentos como grafites e outros tipos de intervenções urbanas que aparecem lado a lado de esculturas de artistas consagrados, como o próprio Antônio Poteiro.
O local passou a receber shows, eventos, feiras semanais, espetáculos circenses e blocos de carnaval, provendo, de maneira singular, o lazer para o cidadão goianiense. O medo também se faz presente no lugar, pois apesar da presença do policiamento em seus arredores, a ação de bandidos recai sobre muitas pessoas que passam pelo local. A presença de traficantes é uma realidade e as diversas “batidas” que a polícia realiza no local não são suficientes para fazer com que eles desapareçam.
A Praça Honestino Guimarães é tombada como Patrimônio Histórico e Cultural de Goiás. Ela deve ser recuperada para que seja um espaço de florescimento horizontal da pluralidade da cultura goiana e da história da cidade. Um lugar que esteja longe da ação de bandidos, do abandono público e do descaso com nossa própria história. (Especial para O Hoje)