Fungos, bactérias e possíveis pragas são encontradas em sementes misteriosas
Laboratório já tem 39 amostras de sementes analisadas, que chegaram ao país e foram encaminhadas a Secretaria de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) | Foto: Reprodução.
Ravi Gavassi
A Secretaria de Defesa Agropecuária, do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), informou que foram encontrados
fungos, bactérias e possibilidade de pragas quarentenárias ainda não existentes
no Brasil em pacotes de sementes não solicitados que chegaram ao país e foram
encaminhados ao Ministério. Em Goiás,
até agora, 39 amostras provenientes de quatro países asiáticos já foram
previamente analisadas pelos técnicos do Laboratório Federal de Defesa
Agropecuária de Goiânia. Em 25 delas foram encontrados três diferentes tipos de
fungos, uma delas continha uma espécie de ácaro vivo e em duas constatou-se a
presença de uma bactéria.
Após análise laboratorial, foi determinado que havia ácaros
vivos na amostra e três fungos diferentes em 25 amostras, além de bactérias
encontrada em duas amostras e a possibilidade de pragas de quarentena em quatro
amostras.
Em entrevista coletiva virtual, o secretário de Defesa
Agropecuária, José Guilherme Leal, destacou que o material não tem
certificação, por isso está sendo feita uma “pesquisa do zero” para
identificar os microrganismos presentes nas sementes. Ele ressaltou que estão
sendo tomadas todas as medidas para impedir a introdução de novas pragas no
país.
Laboratório referência no País
Toda a análise é feita no Laboratório Federal de Defesa
Agropecuária em Goiás, que é referência no País. Até o momento foram
confirmados 258 pacotes de sementes não solicitados em 24 estados e no Distrito
Federal. Os únicos estados que ainda não registraram o recebimento do material
foram Maranhão e Amazonas. A expectativa é que em 30 dias haja um detalhamento
maior desses resultados.
Supostos riscos
O Ministério da Agricultura afirma que trabalha em conjunto
com o Ministério da Saúde para monitorar possíveis riscos das sementes para as
pessoas. “Como é um material sem controle, ele pode ter sido tratado com
produto químico, ou plantas com alguma toxicidade. Pode ter risco de
intoxicação da pessoa ou de um animal doméstico. As pessoas não devem manusear
o material”, explica o Secretário de Defesa Agropecuária, José Guilherme
Leal.
Segundo o governo, não é possível afirmar que o envio de
sementes seja uma ação proposital para prejudicar a agricultura brasileira, o
chamado agroterrorismo. Mesmo assim, diz que existem riscos à atividade.
“Não temos elementos para afirmar que é uma ação intencional para
introduzir algum organismo que seja prejudicial, mas o risco existe. Os
primeiros resultados apontam que a gente vai precisar aprofundar a
identificação das sementes”, diz Leal.
Suspeita de fraude
Nos Estados Unidos, onde os pacotes também chegaram, o
Departamento de Agricultura (USDA) está trabalhando para estudar se pedidos
desnecessários podem estar relacionados a fraude. Essa fraude é chamada de
“brushing”.
O governo brasileiro diz que também considera essa
possibilidade e que está em colaboração com outros países para investigar a
situação. A semente no caso, apenas cumpre a finalidade de não deixar o pacote
vazio. Isso explicaria por que as autoridades até agora não encontraram sinais
de tentativas de bioterrorismo ou contaminação.
Todos os cuidados
As pessoas que receberem os pacotes devem encaminhá-los a uma
unidade do Mapa ou entidade estadual de agricultura, sem medo de ser
penalizado. O secretário alerta que o material não deve ser manuseado. “Ele
[cidadão] está fazendo uma colaboração da proteção da agropecuária do Brasil e
também evitando o contato com um material que possa ter um risco até para a
saúde”, afirma.
O diretor do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas,
Carlos Goulart, disse que as sementes são os insumos que mais têm carga
regulatória no mundo, porque o risco iminente é o mais alto que existe. Segundo
ele, o recebimento desse material não solicitado nessa quantidade é inédito no
mundo. “Essa importação de material, solicitado ou não sem a certificação,
sempre foi proibida no Brasil e no mundo. O que chamou a atenção foram usuários
terem recebido os pacotes sem terem sido solicitados”, afirma o diretor.
(Especial para o Jornal O Hoje)