Pandemia puxa produção goiana de alimentos
Os principais itens alimentícios produzidos em Goiás são açúcar, carnes, leite, extratos e polpas de tomate.
Eduardo Marques
Levantamento do O Hoje junto a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) aponta que a produção das indústrias de alimentos acumula alta de 3,5% em 2020, considerando os meses de janeiro a agosto. Com destaque para a produção de açúcar, carnes, leite e tomate. Os principais produtos alimentícios produzidos em Goiás são açúcar (Goiás fica na 4ª posição do ranking nacional), carnes, leite, extratos e polpas de tomate.
De acordo com a Fieg, baseando em relatórios da Relação Anual de Informações Sociais (RAI) de 2019, considerando a Divisão Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) 2.0, em Goiás há 2.257 indústrias de alimentos. Destas, 83% são micro empresas, 12% são empresas de pequeno porte, 4% são empresas de médio porte e 1% são empresas de grande porte, que empregam 55% do total dos empregados do setor.
O número de empregados nesse ramo soma a 88.761. Pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregado (Caged), considerando o subsetor do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) “Fabricação de Produtos Alimentícios” o estoque total de empregados em 2020 até setembro é de 93.721 pessoas.
Segundo o gestor de uma indústria de alimentos goiana, Julio Moraes, na pandemia do novo Coronavírus a produção aumentou em cerca de 10%. “Com o medo que as pessoas tiveram de faltar alimentos durante o início da pandemia, muitas delas correram para estocar, o que gerou uma enorme produção para nós. E isso gerou um alto rendimento para a indústria”, diz.
Ele prevê que a produção de alimentos nos últimos meses do ano tende a reduzir e voltar ao normal. “Comumente nos meses de novembro e dezembro a produção diminui por conta da procura dos alimentos natalinos e após esse período a tendência é voltar ao normal”, observa.
Já em relação ao número de empregados, ele destaca que empresa onde administra ficou estável. “Aqui em nossa empresa não houve demissão e nem admissão por conta da pandemia”, avalia.
Início da pandemia
O setor de alimentos sustentou praticamente todo o incremento observado em junho, novamente em relação ao mesmo mês do ano passado, crescendo 10,7%. Em abril e maio, a indústria de bens alimentícios já havia avançado 3,7% e 9,3% (o que sugere uma aceleração do crescimento na comparação mensal), o que permitiu ao setor sair de uma queda de 1,8% no acumulado do primeiro quadrimestre para uma elevação 3,2% no primeiro semestre, diante dos primeiros seis meses de 2019. Na comparação mensal, o setor produziu mais açúcar (setor que tem sido favorecido pela demanda externa), farelo e óleo de soja.
Balança comercial
As exportações de açúcar dobraram, em volume, na comparação entre o primeiro semestre de 2019 e o mesmo intervalo deste ano, subindo de 191,35 mil para 385,44 mil toneladas. O crescimento das exportações de carnes contribuiu para impulsionar a demanda doméstica por farelo. Apenas as vendas externas de aves saltaram 90,7% em volume, atingindo 103,32 mil toneladas, graças ao apetite do mercado chinês. No acumulado do primeiro semestre, de acordo com o IBGE, o açúcar foi o destaque e ajudou a puxar a produção do setor de bens alimentícios.
Apesar da pandemia, Goiás mantém incremento das exportações na comparação com o ano passado. Resultado é puxado, sobretudo, pelo agronegócio. O Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) divulgou, no início de outubro, análise atualizada dos dados da balança comercial goiana. De acordo com o relatório, houve incremento de 18,5% no último mês de setembro, na comparação com igual período do ano passado. No total, o superávit foi de US$ 377,7 milhões.
Segundo a coordenadora do CIN/Fieg, Johanna Guevara, o resultado mostra que o agronegócio é o fiel da balança, mantendo superavitária a relação entre exportações e importações. Juntos, milho em grão, soja, carnes desossadas e minérios responderam por mais de 50% de tudo o que foi exportado por Goiás em setembro.
As exportações tiveram incremento de 3,6% na comparação com 2019, fechando o mês com valor negociado de US$ 630 milhões. Em relação a agosto/2020, houve recuo de 16,5%. Entretanto, o Estado mantém resultados positivos em 2020, apesar dos impactos da pandemia do Coronavírus.
As importações goianas recuaram em 12,7% na comparação com setembro/2019. No último mês, Goiás importou US$ 252 milhões em produtos, principalmente itens imunológicos e químicos. Em relação a agosto/2020, também foi registrada queda de 9,8%.
Inflação dos alimentos no ano é a maior desde o Real
A inflação acumulada nos últimos 12 meses está com as maiores altas desde a implantação do Real, em 1994. A pressão é tão forte que supera a das crises de 2003 e de 2008, até então os maiores picos de alta neste segmento.
Segundo dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), houve alta de 2,51% nos alimentos em outubro, o que elevou o acumulado do ano para 11,26% e o dos últimos 12 meses para 16,41%. De acordo com a Fundação, a inflação média do mês passado foi de 1,19%, e a acumulada no ano, de 3,72%.
O pico deste ano difere nos motivos. Nas anteriores, a pressão era mundial. Já na atual, é interna. Embora o Brasil continue produzindo safras recordes todos os anos, devido ao câmbio favorável, reduz a oferta interna e pressiona os preços. Em 2008, a crise mundial dos alimentos foi provocada por secas, oferta menor e aumento de custos na produção. Renda menor e queda no consumo levaram um número maior da população mundial para a linha da pobreza. Já em 2003, os preços subiram. Na lista das altas no Brasil, naquele ano, arroz e óleo de soja, provocadas pela elevação do dólar. A história se repete neste ano, mas com intensidade ainda maior.
O reajuste de preços neste ano se estende para praticamente todos os setores de alimentação, muitos deles com a oferta interna reduzida devido às exportações. Outros tiveram a produção afetada pela pandemia. A soja, o carro-chefe da agricultura brasileira, já soma exportações recordes de 82 milhões de toneladas neste ano. Com isso, a escassez interna da oleaginosa elevou os preços inclusive dos óleos vegetais concorrentes.
O recorde de exportação de proteína animal também traz consequências para o bolso do consumidor. Em 12 meses, a carne bovina subiu 38%, a suína ficou 48% mais cara, e a de frango teve reajuste de 27%. As principais elevações de preços ocorrem nos itens mais populares, consumidos pela população de renda menor. No caso da carne bovina, vem de acém, músculo, paleta e fígado. Todos tiveram altas superiores a 45% nos últimos 12 meses. O açúcar, embora em ritmo menor, também sofre o efeito das exportações. O produto ficou 13% mais caro nos últimos 12 meses na cidade. O mercado de leite tem um desequilíbrio entre oferta e demanda. Conforme levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), com isso, os preços no campo são recordes neste ano e registram aumento real de 57%. (Especial para O Hoje)