O ministro dos mercados e os mitos que ele alimenta para fazer negócios
O objetivo de Paulo Guedes é desmontar setor público e liquidar estatais para abrir espaços para empresas privadas – Foto: Reprodução
Lauro
Veiga Filho
O
ministro dos mercados, senhor Paulo Guedes, continua a exercitar sua capacidade
de mentir e manipular dados e números sem que isso lhe cause o menor rubor nas
faces, como diriam nossas avós. A esta altura, com o País perigosamente às
portas de uma “segunda onda” da pandemia, suas aleivosias e de seus assessores
descambam para o catastrofismo escancarado, ao ressuscitar o fantasma da
hiperinflação para forçar a aprovação de reformas com o objetivo, desde sempre,
de aprofundar o desmonte do setor público e a liquidação de suas estatais
exclusivamente para abrir espaço para negociatas privadas.
A
aceleração dos preços nos últimos dois meses, muito concentrada nos alimentos,
reflete em parte a perda de valor do real frente ao dólar e outras moedas, mas
também a inoperância do Ministério da Economia diante do avanço descontrolado
das exportações de grãos. O crescimento das vendas externas nos casos da soja e
das carnes, num exemplo, foi impulsionado pela demanda chinesa, levando a
pressões sobre os preços cobrados do consumidor no Brasil. A escalada das
exportações de arroz, que enxugou a oferta doméstica e ajudou a disparar altas
sequenciais de preços, esteve sempre relacionada às restrições impostas às
exportações pelos principais países produtores, que trataram de adotar
políticas para assegurar o abastecimento interno e segurar os preços num
momento de crise sanitária.
O
Brasil e seu “desgoverno” fizeram o contrário. As medidas adotadas pelos
grandes produtores globais abriram espaço lá fora para os embarques do arroz
produzido aqui dentro.As exportações brasileiras de arroz dispararam, saltando
de 790,2 mil toneladas nos primeiros 10 meses de 2019 para 1,319 milhão de
toneladas no mesmo período deste ano, num salto de 66,9%. Os estoques
reguladores, em outubro deste ano, estavam limitados a apenas 21,6 mil
toneladas, o que se compara com 5,1 milhões de toneladas em outubro de 1988. O
volume atual corresponde a 0,2% do consumo estimado para todo o País, na faixa
de 10,8 milhões de toneladas, de acordo com dados da Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab).Da mesma forma, as exportações de carne suína aumentaram
39,0% nos 10 primeiros meses deste ano, saindo de 605,52 mil toneladas em 2019
para 841,82 mil toneladas.
O
dólar e os preços
As
pressões de alta sobre o dólar no mercado brasileiro haviam sido mais intensas
entre fevereiro e maio, quando as medidas de afastamento social e os casos de
infecção e de mortes pela Covid-19 chegaram a um primeiro pico. No período,
considerando a taxa média de câmbio, a cotação do dólar em reais chegou a subir
30,0%. Com a economia duramente atingida pela crise sanitária, a inflação do
período manteve-se muito baixa ou negativa, variando de 0,07% em março a -0,38%
em maio. Entre maio e os primeiros 18 dias de novembro, as cotações médias
registradas pelo Banco Central (BC) apontam recuo de 3,2%. A perspectiva mais
concreta da chegada, não de uma, mas de pelo menos três vacinas nos próximos
meses tem tranquilizado os mercados, embora o mundo tenha entrado no que parece
ser uma segunda onda da pandemia nas últimas semanas.
Balanço