Velocidade média dos ônibus reduz 32% em dez anos
Vinte corredores exclusivos e preferenciais de ônibus estão previstos no Plano Diretor da cidade desde 2007 – Foto: Igor Caldas
Igor Caldas
Enquanto a frota de veículos privados da Capital cresce de forma vertiginosa, os ônibus do transporte coletivo vão perdendo tempo, espaço e velocidade nas vias de Goiânia. Pelo menos vinte corredores exclusivos e preferenciais de ônibus estão previstos no Plano Diretor da cidade desde 2007, mas apenas sete corredores exclusivos ou preferenciais foram estruturados até agora. Além disso, a velocidade operacional dos ônibus foi reduzida em 32% na grande Goiânia nos últimos dez anos, contribuindo para lentidão, lotação e má qualidade do transporte coletivo na Capital.
De acordo com um estudo feito pelo Consórcio RedeMob, a velocidade média operacional dos ônibus do Transporte Público Coletivo nos horários de pico, e em trechos críticos na grande Goiânia fica entre 11,6 quilômetros por hora às 7h da manhã e 12,8 quilômetros por hora às 18h. De acordo com a conselheira do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás, especialista em trânsito, Fernanda Mendonça, a velocidade média operacional ideal para o transporte público nesses horários seria de 18 quilômetros por hora.
O número de veículos que circulam na Região Metropolitana de Goiânia ultrapassa 1,8 milhões. Isso significa que existem 10 veículos para cada 7,2 habitantes nos 21 municípios da Grande Goiânia. Os dados são do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás. O número indica uma realidade egoísta no trânsito: a maior parte dos motoristas usa seus carros como transporte individual.
Corredores
Quando a análise recai sobre os corredores preferenciais e exclusivos de ônibus na Capital, a situação fica ainda pior. A velocidade operacional dos ônibus em dois dos mais novos corredores implantados na cidade – Eixos T-63 e 85 – que entraram no levantamento do consórcio são inferiores a 10 quilômetros por hora no pico da tarde. No Eixo Universitário, onde a velocidade operacional é a mais alta no pico da tarde, chega a apenas 12,68 quilômetros por hora.
A baixa velocidade nos eixos exclusivos e preferenciais puxa a média da velocidade operacional do transporte coletivo para baixo. Os corredores foram pensados para diminuir a interferência dos veículos particulares nos trajetos realizados pelos ônibus, e promover o aumento da velocidade operacional e redução de tempo das viagens. A preferência para o tráfego de ônibus à direita não é suficiente para garantir a fluidez do tráfego e a velocidade dos ônibus só diminui com o passar do tempo.
Fiscalização
Para a conselheira do CAU-GO e especialista em trânsito, Fernanda Mendonça, um dos principais motivos para a baixa velocidade operacional nos corredores preferenciais de Goiânia é a falta de fiscalização em trechos que permitem conversões. Ela cita como exemplo, os eixos da Avenida T-63 e 85. “Nos horários de pico, as pessoas acabam entrando no corredor do transporte coletivo para realizar conversões. Os carros acabam utilizando do corredor do transporte coletivo antes do momento adequado e isso causa a redução da velocidade operacional nos ônibus”, esclarece.
Ela ressalta que o problema poderia ser atenuado com mais fiscalização em pontos específicos e uso de tecnologia para controlar o fluxo de forma inteligente. “O uso de semáforos inteligentes com uma central de controle seria importante para melhorar o fluxo da mobilidade urbana de forma geral”, destaca. Fernanda ainda diz que há um déficit de agentes de trânsito para uma metrópole como a Grande Goiânia.
De acordo com o titular da Secretaria Municipal de Trânsito Transporte e Mobilidade de Goiânia (SMT), Horácio Mello, a fiscalização é uma obrigação da pasta, principalmente de privilegiar os mais frágeis e o transporte coletivo no trânsito. No entanto, ressalta que nos últimos três meses grande parte dos agentes de trânsito está sendo destinada para o apoio das obras viárias e pavimentação nova na cidade.
Sobre a implantação de tecnologia semafórica, Heráclito afirma que há um processo licitatório em andamento. “A expectativa é que essa implantação seja facilitada no início da próxima gestão. A demandas por tecnologia no trânsito é crescente”.
Novos corredores diminuiriam e tempo de viagem
Estudos apontam que a implantação de novos corredores exclusivos e preferenciais reduziria 12 minutos em cada viagem e diminuiriam da lotação na ordem de 20%, por meio da oferta de novos 300 lugares embarcados na hora crítica. O levantamento feito pelo Consórcio Redemob aponta que seria necessária a implantação de 24 novos corredores preferenciais ou exclusivos, com extensão de 154 quilômetros na Grande Goiânia para alcançar tal resultado.
CMTC
De acordo com o presidente da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), Benjamin Kennedy, os mais de 200 quilômetros de corredores exclusivos ou preferenciais estão previstos no Plano Diretor Setorial de Transporte Coletivo, elaborado em 2004 e incorporado nas diretrizes do plano diretor de 2007. “Somente com implantação de corredores preferenciais e exclusivos conseguiremos garantir a prioridade do fluxo ao transporte coletivo que a legislação exige”, afirma.
Investimentos
De acordo com a conselheira do CAU-GO e especialista em trânsito, Fernanda Mendonça ainda diz que a definição técnica de como será um eixo de transporte coletivo depende de investimentos e estudos que definem quais são os locais onde há maior demanda e como esses locais deveriam ser transformados. “A partir dos estudos, algumas faixas são designadas preferenciais ou exclusivas, dependendo da questão das permissões para conversões, uma questão técnica”, diz.
Segundo Fernanda, a implantação de alguns desses corredores demanda investimentos em infraestrutura viária e por isso eles demoram a serem implantados. “Aqueles que não demandam grandes estruturas, como o Eixo 85 que mantém uma faixa preferencial, ajuda no transporte coletivo, mas traz problemas para o fluxo por causa das conversões”, afirma.
Atualmente a Prefeitura de Goiânia está trabalhando na implantação de mais dois corredores: o Eixo Norte-Sul, com custo de R$ 340 milhões e o T-7, de R$ 30 milhões. As duas obras foram iniciadas ainda na gestão do prefeito Paulo Garcia (PT). (Especial para O Hoje)