Obras de pavimentação deixam moradores ilhados em Goiânia
Ruas estão intransitáveis, devido aos buracos e lama. Algumas casas estão ilhadas sem que os moradores possam sair com seus carros | Foto: Wesley Costa
Igor Caldas
Mais da metade dos 630 quilômetros de vias e avenidas
previstas no programa de reconstrução asfáltica da Prefeitura de Goiânia devem
ficar para a próxima gestão. O programa foi iniciado ainda no primeiro semestre
deste ano e as obras de pavimentação estão paralisadas em alguns bairros,
causando transtornos ao tráfego local. Alguns desses bairros estão com casas
ilhadas sem que os moradores possam sair com seus carros da garagem.
No Residencial London Park, região Noroeste de Goiânia, as
obras de pavimentação estão paralisadas há mais de um mês e deixaram ruas
intransitáveis com buracos e lama. Obras
deixaram ruas intransitáveis, devido aos buracos e lama. Algumas casas estão
ilhadas sem que os moradores possam sair com seus carros.
No Setor das Nações, as obras de pavimentação foram
paralisadas pela Prefeitura de Goiânia porque segundo a Secretaria Municipal de
Infraestrutura e Serviços Públicos (Seinfra), houve a necessidade de alteração
do projeto e a nova proposta está em análise na Caixa Econômica Federal. As
obras mal acabadas estão causando transtornos porque comprometem as principais
vias de acesso ao bairro. O setor está com várias vias sem pavimentação ou com
asfalto se desfazendo.
Adalci Teixeira
Guimarães, morador
do Setor das Nações desde 2008, afirma que a obra de pavimentação no bairro
começou há cerca de dez anos. Ele questiona a Prefeitura de Goiânia sobre o
término da empreitada. “Queremos saber das autoridades competentes quando
eles vão terminar a obra”. Há anos a obra deixa uma das Avenidas mais
importantes do setor, a Avenida Carolina Cândida de Cabral, que liga o bairro
ao Anel Viário, a GO-070, impedida.
Ele afirma que os moradores do bairro estão indignados com a
interdição da via. “Eles interditaram a avenida principal do bairro, para
fazer o retorno tem que percorrer de cinco a seis quilômetros”, lamenta. Adalci
possui uma pequena marmoraria no bairro e diz que não consegue fazer a matéria
prima de sua empresa chegar ao bairro. “Os caminhões não estão conseguindo
chegar aqui”, declara. O empresário ainda revela que a paralisação da obra
se dá por falta de pagamento. “O pessoal da própria empresa que faz a obra
está alegando falta de pagamento por parte da Administração Pública”, diz.
Procurada pela equipe de reportagem, a Seinfra se negou a
responder quais bairros foram deixados para serem pavimentados na próxima
gestão.
Manutenção
De acordo com a professora titular da Escola de Engenharia
Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás (UFG), doutora em Geotecnia,
Lilian Ribeiro, a manutenção da pavimentação urbana tem que ser constante e
deve ocorrer antes dos buracos aparecerem nas vias. Ela ainda diz que se a
estrutura da pavimentação estiver comprometida, nem mesmo o recapeamento da
pista pode solucionar o problema.
“A vida útil do pavimento não é eterna, mas pode ser
garantida ou até mesmo aumentada se forem realizados serviços de manutenção
periódica”, aponta. A selagem de trincas para que o processo de deterioração
seja interrompido e que elas não se transformem em buracos é um dos serviços
que precisam ser feitos de forma regular.
Continuidade
“Quando se adota procedimentos contínuos de gestão de
pavimentos, os defeitos são diagnosticados e tratados no início do surgimento
do problema, fazendo com que o processo se torne menos oneroso”. De acordo com
a especialista, existem vários tipos de soluções de manutenção e restauração, a
opção vai depender de uma análise técnica prévia do pavimento e da elaboração
de um projeto de restauração.
“Dependendo dessas análises, o recapeamento pode ser uma das
soluções. No entanto, quando toda a estrutura está tecnicamente condenada,
somente a troca do revestimento (recapeamento) não irá resolver o problema”.
Estrutura do pavimento
Outro aspecto destacado pela especialista é que a estrutura
do pavimento só funciona bem se houver sistema de drenagem adequado. “Se a água
atingir as camadas que estão abaixo do revestimento asfáltico, toda a estrutura
estará condenada”, afirma. Lilian também garante que o pavimento asfáltico
geralmente apresenta durabilidade de cerca de 10 anos; já o de concreto, cerca
de 20 anos. Todos eles necessitam de manutenção periódica
A especialista aponta vários fatores que podem contribuir
para o aparecimento de problemas precoces na pavimentação asfáltica. Falta ou
falha de projeto e dimensionamento, erros construtivos, falta de controle
tecnológico durante a construção, falta de sistema de drenagem adequado e falta
de manutenção preventiva.
No caso específico dos buracos, Lilian explica que o
revestimento asfáltico – geralmente, constituído de brita, areia, fíler e
cimento asfáltico de petróleo – irá apresentar fadiga ao longo do tempo devido
às solicitações geradas pela ação do tráfego e do clima, sendo que o primeiro
sinal de que isso está ocorrendo é o aparecimento de trincas. Se essas trincas
não são seladas ou tratadas, o clico contínuo do tráfego e do clima, faz com
que elas aumentem e se transformem nos buracos.
Asfalto permeável pode ser solução para enchentes
Uma tecnologia que pode solucionar os problemas de
permeabilidade no asfalto e evitar buracos, enchentes e alagamentos foram
desenvolvidos na Universidade de São Paulo (USP). O professor José Rodolpho
Martins, do Departamento de Hidráulica da USP afirma que o principal objetivo
da novidade é absorver a água da chuva no revestimento da pavimentação que se
usa nas ruas, nos loteamentos, condomínios e estacionamentos. Dessa forma, o
pavimento deve permitir que a água possa ser armazenada na parte inferior das
camadas de asfalto.
O modelo tradicional de pavimentação realizado em todo País é
feito da mesma forma. Inicia-se por cima, com um segmento de cinco centímetros
de largura compostas por pequenas pedras, unidas pelo asfalto. Essa camada
precisa ser bastante resistente, o suficiente para que o fluxo de veículos,
inclusive de ônibus e caminhões pesados ocorra sem que qualquer pedaço se
solte.
A segunda camada de pavimentação que vem logo abaixo deve ser
mais espessa e sua principal composição é de brita, rochas maiores do que da
primeira camada. Essa base tem muitos espaços vazios, que poderiam funcionar
como um reservatório. No entanto, a superfície não poderia deixar a água
passar, sem se tornar um piso frágil, quebradiço com o tráfego de veículos.
Dessa forma, o Laboratório de Tecnologia de Pavimentação da
USP, ligado à Engenharia de Transportes, produziu diferentes pisos para a
pesquisa fazendo a união de pedras, cal e asfalto, que serve de liga na
mistura. Os pisos asfálticos passaram por testes sequenciais e o mais eficiente
deles foi aprimorado em ligas novas. Desse processo, surgiu a camada porosa de
asfalto (CPA).
O asfalto absorvente é composto com pedras maiores, para que
haja vazios entre elas. O projeto do novo tipo de pavimentação prevê até 25% de
lacunas para a água infiltrar. Quando comparado com uma amostra de asfalto
comum, que é mais compacto, praticamente não há espaço entre as pedras. De
acordo com o professor José Rodolpho, aos poucos, em cada obra de recapeamento
que fosse feita nas grandes cidades, o asfalto convencional poderia ser trocado
pelo poroso.
A conclusão de monografia escrita pela bacharela em
Engenharia Civil, Mariana Aparecida Gouveia, apresentada na graduação do curso
de Engenharia Civil do Instituto Federal Goiano (IFG) de Rio Verde, intitulada
Asfalto Drenante: proporções granulométricas e aplicabilidade, aponta a
dificuldade de implantação reconstruir toda malha rodoviária e pavimentação
asfáltica.
No entanto, o estudo aponta que há outros meios de
se beneficiar do pavimento permeável. Ele pode ser usado como matéria prima dos
elementos componentes do sistema de drenagem como em sarjetas, meios-fios,
camadas drenantes, caixas coletoras, bueiros e outros. (Especial para O Hoje)