Preços perdem força no atacado e reduzem inflação
Os indicadores de preços ao consumidor ainda tenderão a mostrar aceleração, seja por efeito dos aumentos ainda em curso no varejo, seja como resultado da própria metodologia adotada para “medir” a inflação mês a mês | Foto: Reprodução
Lauro Veiga
As
expectativas de esvaziamento de focos inflacionários no curto prazo foram
reforçadas nesta semana pela divulgação de indicadores que mostram uma
desaceleração de certa forma acentuada para o ritmo de alta dos preços nos
mercados atacadistas, o que sugere futura acomodação igualmente para os preços
finais cobrados do consumidor – o que, por sua vez, permite antecipar taxas
mensais de inflação relativamente mais baixas do que as observadas desde
setembro passado.
Ao
longo das próximas semanas, os indicadores de preços ao consumidor ainda
tenderão a mostrar aceleração, seja por efeito dos aumentos ainda em curso no
varejo, seja como resultado da própria metodologia adotada para “medir” a
inflação mês a mês, baseada na comparação entre preços médios captados em
quatro semanas e comparados com os preços médios dos mesmos itens e produtos
registrados nas quatro semanas imediatamente anteriores. Esse “efeito média”
pode ser entendido a partir de um exercício meramente ilustrativo.
Para
simplificar a conta, suponham, raras leitoras e raros leitores, que a inflação
seja determinada por um único produto e que o preço desse produto tenha saltado
de R$ 10 para R$ 13 entre o começo e o final do mês. A alta foi de 30%, muito
obviamente e o preço médio da mercadoria chegou a R$ 11,50 (R$ 10 mais R$ 13
divido por 2, numa conta simples). Nas quatro semanas seguintes, imaginem que o
produto tenha recuado para R$ 12. Isso significaria uma redução de 7,7% se
comparado ao valor de R$ 13 registrado na semana final do mês anterior.
No
cálculo da inflação, no entanto, são considerados os preços médios dos
produtos, como já mencionado. Neste exemplo, assim, o valor médio do bem ao
longo do mês de referência teria sido de R$ 12,50 (R$ 13 mais R$ 12 dividido
por dois). Comparado ao valor médio encontrado um mês antes, persistiria uma
alta de quase 9,0% (ainda que o produto tenha efetivamente baixado de preço no
período). Assim, quando os preços iniciam uma tendência de queda após semanas
de altas, o impacto integral dessa mudança somente será registrado pelos índices
de inflação mais à frente.
Menor
ritmo
A
escalada dos preços no atacado, que correspondeu a um aumento de custo para as
empresas em função do encarecimento de matérias-primas e insumos em geral,
respondeu por parte da aceleração observada para a inflação ao consumidor no
País nos últimos meses. A contribuição foi parcial exatamente porque as
empresas enfrentavam (e ainda enfrentam) dificuldades para repassar a alta de
custos ao consumidor diante de uma demanda muito debilitada pela crise e pelo
desemprego (a despeito do auxílio emergencial). Neste mês, os aumentos no
atacado perderam fôlego, com variações muito mais comedidas, conforme registra
o acompanhamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação
Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
Balanço
·
O
Ibrecalcula, entre outros indicadores, o Índice Geral de Preços (IGP), composto
pelo Índice de Preços no Atacado (IPA), que responde por 60% do IGP, e ainda
pelos índices de Preços ao Consumidor (IPC) e Nacional dos Custos da Construção
(INCC), que entram no cálculo com pesos de 30% e de 10%, respectivamente. No
começo da semana, o Ibre divulgou os resultados do IGP-10, com base nos preços
apurados entre os dias 11 de novembro a 10 de dezembro e comparados com os 30
dias imediatamente anteriores.
·
O
IGP-10 retrocedeu de 3,51% em novembro para 1,97% neste mês (numa queda de 1,54
pontos de porcentagem). A retração foi determinada pelo tombo registrado para o
IPA, que saiu de 4,59% para 2,27% (redução de 2,32 pontos de porcentagem). As
maiores baixas foram registradas para os índices de preços de matérias primas
brutas (alta de 6,19% até 10 de novembro para elevação de 1,80% nos 30 dias
encerrados em 10 de dezembro) e de produtos agropecuários (de 9,49% para
2,88%).
·
Para
comparação, o IPC, que afeta diretamente as famílias, ainda apresentou
elevação, saindo de 0,55% para 1,27%, refletindo os aumentos nos preços dos alimentos,
nas tarifas de energia e nas passagens aéreas.
·
Ainda
sobre o comportamento dos preços no atacado, o Banco Central (BC) já havia
anotado alguma desaceleração nos preços médios das commodities (incluindo bens
agrícolas, metais, petróleo e outros). No segundo trimestre deste ano, aqueles
produtos haviam saltado 14,93%, passando a subir 6,81% no terceiro trimestre.
Trata-se, por óbvio, de uma variação ainda vigorosa, mas, de qualquer forma,
inferior ao salto registrado no trimestre anterior.
·
O
desgoverno brasileiro continua colecionado atraso e retrocesso na área de
relações internacionais, desmantelando um árduo e custoso trabalho desenvolvido
ao longo de décadas pelo Itamaraty e que ajudou a colocar o Brasil em uma
posição de destaque no cenário externo. A diplomacia brasileira conseguiu
assegurar postos de comando para o País em instituições como a Organização
Mundial do Comércio), na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura (FAO) e outros fóruns globais, além do protagonismo exercido pelo
País no debate global de questões ambientais nos últimos anos. Tudo perdido.
·
A
estupidez, o terraplanismo e o alinhamento burro e automático, não com uma
nação, mas com um presidente agora derrotado nas recentes eleições dos Estados
Unidos, levaram à mais recente perda. O Brasil abriu mão de assumir a
diretoria-geral da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI),
recusou-se a apoiar os candidatos indicados pela Colômbia e pelo Peru apenas
para apoiar o representante apontado por Cingapura, Daren Tang, a pedido dos
EUA. Em troca, teria a vaga de diretor-geral-assistente da organização. Depois
da posse, Tang preteriu o Brasil, que não tem mais a quem reclamar, porque o
preferido Donald Trump não conseguiu ser reeleito.