Projeto de Lei 4733/20 permite o uso dos recursos dos Fundos Constitucionais da região norte
A boa notícia é que o ritmo de aumento dos preços perdeu fôlego entre as duas semanas finais de 2020 e a primeira deste ano – Foto: Divulgação
Lauro Veiga
Mesmo
pressionada pelo aumento nos preços das principais commodities neste começo de
ano e por novo ciclo de alta do dólar – tendência não revertida ainda, a
despeito do tombo observado ontem –, a inflação iniciou 2021 com moderação, ao
contrário das hordas de desnaturados que passaram a virada do ano como se esta
fosse a última em suas vidas (um risco sempre presente e reforçado pela atitude
suicida assumida por parte da população nas festas de fim de ano). Persistem
focos localizados de alta e novos surgiram a partir do final de 2020, mas a boa
notícia é que as pressões têm pouca ou quase nenhuma relação com a demanda,
que, de resto, tende a perder mais fôlego nestes primeiros meses do novo ano em
função da baixa capacidade de geração de empregos em todo a economia e do fim
do programa de auxílio emergencial.
E
por que esse dado específico tem importância? Porque mostra que a elevação do
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não precisará exigir a retomada
do ciclo de aumento nas taxas básicas de juros para “esfriar” a demanda (já
virtualmente congelada) e assim segurar a inflação. Na verdade, a expectativa é
de um enfraquecimento adicional da demanda, já que as famílias, sobretudo a
mais pobres, tenderão a reduzir ainda mais o consumo em função de dois fatores
principais: a ausência de políticas públicas de suporte à renda, enquanto a
pandemia recrudesce, e a forte aceleração dos preços dos alimentos desde
setembro do ano passado.
Como
se sabe, o peso da alimentação no orçamento das famílias de renda mais baixa é
proporcionalmente muito maior, como se pode observar no comportamento do IPCA,
que afere a inflação para famílias com renda de até 40 salários mínimos, e do Índice
Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que captura o custo de vida das
famílias com renda de até cinco salários mínimos. A inflação apurada pelo IPCA
fechou 2020 em 4,52% (saindo de 4,31% em 2019), um pouco acima do centro da
meta inflacionária fixada para o ano (4,0%). Mas o INPC atingiu 5,45%, com
elevação de 15,53% para o grupo alimentação e bebidas. O IPCA registrou
variação de 14,09% para o mesmo setor.
Sinal
de alívio
A
boa notícia é que o ritmo de aumento dos preços perdeu fôlego entre as duas semanas
finais de 2020 e a primeira deste ano, segundo atestam os números do Índice de
Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) do Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). O IPC-S havia anotado elevação de 1,41% nas
quatro semanas encerradas no dia 15 de dezembro e a taxa recuou para 1,21% na
semana seguinte, fechando as quatro semanas de dezembro em 1,07%. Nos 30 dias
terminados em 7 de janeiro deste ano, o IPC-S recuou para 0,79%. A “inflação
dos alimentos” saiu de 2,24% na primeira semana de dezembro do ano passado para
1,49% nas quatro semanas encerradas no dia 7 de janeiro deste ano.
Balanço
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Ainda não se pode assegurar que a tendência de
desaceleração será mantida nas semanas seguintes, mas alguns bancos trabalham
com a perspectiva de taxas mais baixas em janeiro e nos meses seguintes. A
equipe de macroeconomia do Itaú BBA estima elevação de 0,24% para o IPCA de
janeiro, saindo de uma alta de 1,35% em dezembro – a mais elevada para o mês
desde 2002.
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Praticamente 58,0% do índice de dezembro podem ser
explicados, segundo o IBGE, por um conjunto de apenas cinco itens ou grupos de
produtos: tarifa residencial de energia (em função da adoção do nível dois da
bandeira vermelha em dezembro, o que ocasionou elevação média de 9,34% apenas
naquele mês); passagens aéreas (num salto de 28,05%); carnes (3,58% de alta, já
abaixo dos 6,54% anotados em novembro); gasolina (mais 1,54%, também inferior à
variação de 1,64% observada no mês anterior); e frutas (6,73%, depois de
elevação de 2,20% em novembro).
·
No caso das frutas e das hortaliças, o aumento das
chuvas em janeiro tende a reduzir a oferta, levando a novos aumentos, que
poderão ser compensados pela expectativa de entrada no mercado da nova safra de
grãos, o que deverá arrefecer a tendência de alta nos preços da soja, do milho
e do arroz.
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Entre os alimentos, a alta ficou concentrada nos 13
itens que mais subiram em dezembro, responsáveis por quase 79,0% da inflação do
setor e por 47,6% da variação geral anotada pelo IPCA.
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Na avaliação do economista-chefe do Banco Fator,
José Francisco de Lima Gonçalves, os chamados “núcleos da inflação” –
indicadores que excluem preços mais voláteis ou consideram preços de produtos
mais sujeitos à influência da demanda – experimentaram aceleração importante no
acumulado em 12 meses, saindo de 2,44% em novembro para 2,80% em dezembro,
“embora ainda abaixo da meta de inflação”.
·
Essa piora relativa, no entanto, prossegue ele, “não
compromete as expectativas para os próximos 12 a 18 meses”. Especialmente
porque quase 49,0% do índice de dezembro tiveram como origem flutuações nos
preços administrados, “que não refletem a demanda”, a exemplo da tarifa de
energia. Uma parcela de 16,3% do IPCA mensal refletiu a contribuição do setor
de serviços, fortemente influenciada pelo aumento das passagens aéreas. Os
serviços que refletem a demanda, acrescenta ele, trouxeram uma contribuição
inferior a 5,2% para a formação do índice geral.