Avanço da pandemia na Europa sugere queda para economia no 1º trimestre
Vacinação ganha algum fôlego entre alguns dos principais países, mas as perspectivas para a economia global nos primeiros meses de 2021 continuam negativas | Foto: Reprodução
Lauro Veiga
A
vacinação ganha algum fôlego entre alguns dos principais países, mas as
perspectivas para a economia global nos primeiros meses de 2021 continuam
negativas, afetadas principalmente pelo agravamento da pandemia, associada ao
surgimento de cepas aparentemente mais agressivas do vírus, e pela necessidade
de adoção de novas medidas de contenção e distanciamento social. Por aqui, a
vacinação derrapa entre o despreparo e o negacionismo, em meio a nova arrancada
do total de infectados e das mortes, tornando o cenário sombrio e de alto
risco, conforme já analisado neste espaço no sábado (23.01).
Analistas
e consultores mais identificados com a agenda dos mercados têm demonstrado,
desde o final de 2020, maior otimismo em relação ao comportamento futuro da
atividade econômica no mundo, motivado exatamente pelo alívio trazido com a
chegada das vacinas contra o Sars-CoV-2. Mas a confirmação desse otimismo
inicial dependerá essencialmente da capacidade e celeridade dos sistemas de
saúde na aplicação da vacina, até que se alcance o que os especialistas na área
chamam de imunidade coletiva.
Em
seu boletim diário, endereçado a clientes e ao mercado, o Departamento de Pesquisas
e Estudos Econômicos do Bradesco (Depec), sob o comando do economista Fernando
Honorato Barbosa, alerta para o risco de uma retração econômica na Área do Euro
neste início de ano em função do avanço da pandemia na região. A publicação faz
referência ao Índice de Clima de Negócios da instituição The German
InformationandFoschung (IFO), que afere a disposição das empresas alemãs frente
à economia e que apresentou queda neste mês. O IFO baixou de 92,2 para 90,1
pontos desde dezembro do ano passado.
Indicadores
Conforme
o banco, a queda superou a expectativa dos mercados, que esperavam um recuo
para 91,9 pontos e “reflete a retração dos indicadores de situação corrente e
de expectativas para os próximos seis meses. O movimento reportado é compatível
com o que tem sido sugerido por outros indicadores de confiança e o PMI (índice
dos gerentes de compras, que permite avaliar o estado geral da economia)”,
avalia o Depec. Aqueles indicadores, prossegue o relatório, “apontam para
desaceleração mais evidente da atividade econômica na Área do Euro na passagem
do ano, diante da adoção de medidas de restrição à mobilidade social”.
Balanço
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O
dado prévio em janeiro para o PMI “composto”, que inclui expectativas para o
setor de serviços e para a indústria na Europa, já havia sinalizado retração.
Divulgado na semana passada, o índice saiu de 49,1 para 47,5 pontos,
interrompendo a tendência de recuperação apenas “ensaiada” em dezembro,
considerando que havia sofrido queda forte em novembro. Quando o indicador
supera os 50 pontos sinaliza crescimento para a atividade e, claro, abaixo
daquele nível aponta retração.
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Desagregado,
o indicador do setor de serviços mostrou piora na queda, saindo de 46,4 para
45,0 pontos, e o índice que trata da indústria apontou desaceleração (de 55,2
para 54,7 pontos), embora ainda sinalize expansão para o setor.
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O
cenário à frente levou o Banco Central Europeu (BCE) não apenas a manter as
taxas de juros inalteradas entre zero e 0,25% como decidiu manter seu programa
de compra de títulos no mercado em € 1,85 trilhão (o pacote havia sido
reforçado com € 500 bilhõesa mais em dezembro) até dezembro de 2022 (o prazo
seria encerrado, na previsão anterior, em março do próximo ano).
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O
fechamento da economia na Europa até meados de fevereiro, na estimativa do Itaú
BBA, deverá impor uma redução adicional de 1,0% para o Produto Interno Bruto
(PIB) na região no primeiro trimestre deste ano. “Com o contágio pelo
coronavírus ainda aumentando em alguns países e a ameaça de uma nova variante
no Reino Unido se espalhando para outros países, as autoridades serão
cautelosas quanto à retirada das restrições à circulação de pessoas”, avalia o
banco.
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Mas
a equipe de economistas do Itaú BBA espera um “crescimento robusto” do PIB
regional no segundo trimestre, algo próximo a 4,5% na comparação trimestral,
decorrente da “normalização resultante da vacinação” e da “menor incerteza
política”. Claro, na hipótese de uma redução dos casos de contágio e de mortes
e de um avanço significativo da vacinação nas próximas semanas. Mantido o
quadro atual da pandemia, não se pode descartar a possibilidade de extensão das
medidas e, portanto, de um prolongamento seus efeitos sobre a economia.
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Para
os Estados Unidos, a posse do novo presidente e o pacote trilionário já
anunciado para socorrer a economia e reforçar as ações contra o vírus, sugere
ainda o banco, deverão dar suporte para um crescimento de 4,4% já neste
primeiro trimestre, com salto de 8,5% no seguinte. Novamente, será preciso
combinar com o vírus e contar com uma agilidade até aqui não demonstrada pelo
país na vacinação.