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domingo, 24 de novembro de 2024
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Crise

Investimento externo atinge em dezembro menor nível desde 1995

Os dados oficiais do Banco Central (BC) confirmam a expectativa de uma piora no investimento estrangeiro no Brasil no encerramento de 2020 | Foto: Reprodução

Postado em 28 de janeiro de 2021 por Sheyla Sousa
Investimento externo atinge em dezembro menor nível desde 1995
Os dados oficiais do Banco Central (BC) confirmam a expectativa de uma piora no investimento estrangeiro no Brasil no encerramento de 2020 | Foto: Reprodução

Lauro Veiga 

Os
dados oficiais do Banco Central (BC) confirmam a expectativa de uma piora no
investimento estrangeiro no Brasil no encerramento de 2020, acentuando ainda
mais a queda acumulada ao longo de todo o ano. O comportamento sugere alguma
relação com condições domésticas, mas pode ter sido causado com intensidade
maior pelo agravamento da crise sanitária na Europa, nos Estados Unidos e nos
países latino-americanos. Em dezembro, as estatísticas do BC mostram um tombo
de 73,8% para o investimento realizado aqui dentro por empresas estrangeiras na
comparação com igual mês de 2019, desabando de US$ 2,825 bilhões para apenas
US$ 738,80 milhões – seu nível mais baixo para o mês desde dezembro de 1995,
quando havia atingido US$ 719,95 milhões.

Desde
lá, o contágio e as mortes voltaram a alcançar picos de alta, aproximando-se e
mesmo superando as estatísticas já dramáticas observadas em meados do ano
passado, como no caso dos EUA, onde o negacionismo trumpista agravou a
pandemia. O cenário externo pode vir a afetar a entrada de investimentos em
dólares no País neste começo de ano, mas o BC trabalha com a possibilidade de
ligeira reação nesta área, com os investimentos diretos passando de pouco mais
de US$ 2,6 bilhões em janeiro do ano passado para US$ 2,8 bilhões. Não custa
lembrar que a autoridade monetária ainda apostava, já na reta final do ano
passado, num investimento total em 2020 na faixa de US$ 36,0 bilhões.

O
número final fechou em US$ 34,167 bilhões, o menor desde 2009, quando haviam
sido investidos aqui dentro, por estrangeiros, perto de US$ 31,481 bilhões.
Comparado a 2019, quando o investimento estrangeiro foi quase duas vezes maior,
chegando a US$ 69,174 bilhões, a queda foi de 50,6%, numa perda de US$ 35,0
bilhões em valores arredondados. A menor entrada de dólares para movimentar os
negócios das multinacionais no País certamente deverá contribuir para agravar a
situação dos investimentos em geral, que já vinham apresentando desempenho
sofrível.

Contas
externas

O
comportamento do investimento estrangeiro, de qualquer forma, não trouxe
maiores complicações sob o ponto de vista do financiamento do déficit na conta
de transações correntes. Essa conta, como sabem as raras leitoras e raros
leitores que acompanham esta coluna, resume todos os gastos e as receitas que o
País realiza no exterior, incluindo o saldo entre exportações e importações de
bens, despesas com viagens internacionais, aluguel de equipamentos lá fora,
royalties, gastos com juros e amortizações da dívida externa, remessas de
lucros e dividendos e, claro, o investimento estrangeiro. No ano passado, a
diferença entre a saída e a entrada de dólares ficou negativa em US$ 12,517
bilhões e foi o menor déficit desde 2007, quando a conta havia sido positiva em
US$ 408,03 milhões (ou seja, o País registrou a entrada de um volume maior de
dólares do que aqueles que foram utilizados para fazer frente a despesas lá
fora). Comparado a 2019, o rombo na conta de transações correntes desabou 75,3%
(ou seja, US$ 38,180 bilhões a menos, já que o déficit daquele ano havia sido
de US$ 50,697 bilhões).

Balanço

·  
Como
se pode perceber, o tombo na conta de transações com o resto do mundo foi mais
pronunciado do que aquele acumulado pelo investimento externo. Por isso, os
dólares que entraram a título de investimento (embora essa conta inclua também
recursos enviados como empréstimo pelas matrizes de empresas estrangeiras para
suas filiais no Brasil) cobriram o rombo em 2,73 vezes. Quer dizer, foram 173%
maiores.Em 2019, ainda que o valor do investimento estrangeiro tenha sido muito
mais robusto, os valores investidos foram 36,4% mais elevados do que o déficit
em transações correntes.

·  
O
ligeiro aumento no saldo da balança comercial brasileira (exportações menos
importações) explica apenas um pedaço pequeno da melhora vigorosa no déficit
corrente. Na medição do BC, o superávit comercial avançou de US$ 40,473 bilhões
para US$ 43,230 bilhões (6,8% a mais). A maior contribuição veio da conta
chamada de “renda primária”, que acompanha os dólares que entram e saem do País
para pagamento de juros e nas remessas de lucros e dividendos alcançados pelas
empresas estrangeiras em seus negócios no lado real da economia brasileira e na
especulação no mercado financeiro e de capitais (ganhos com títulos públicos,
ações e fundos de investimento, basicamente).

·  
A
conta da “renda primária”, assim, saiu de um déficit de US$ 57,272 bilhões em
2019 para US$ 38,181 bilhões, quer dizer, um terço menor (mais precisamente,
uma redução correspondente a US$ 19,091 bilhões, metade da queda observada pelo
rombo nas transações correntes). Isso porque, com a economia drasticamente
afetada pela pandemia, as empresas reduziram seus ganhos e, portanto, cortaram
as remessas de lucros e dividendos em US$ 14,101 bilhões entre 2019 e 2020. No
total, esse tipo de remessa encolheu de US$ 31,919 bilhões para US$ 17,818
bilhões (44,2% a menos).

·  
O
déficit na conta de serviços (viagens, royalties, fretes, aluguel de
equipamentos e outras despesas) foi o menor desde 2009, chegando a US$ 19,923
bilhões, em baixa de 43,2% frente a 2019 (US$ 35,066 bilhões). Os gastos
líquidos com viagens internacionais, excluídas as receitas deixadas no País por
estrangeiros, caíram quase 80%, de US$ 11,599 bilhões para menos de US$ 2,350
bilhões.

·  
Na
forma mais convencional de acompanhar o investimento direto externo no País,
ainda registrada pelo BC, os números foram ainda piores. Em dezembro, foram
“desinvestidos” US$ 1,380 bilhão, já que as filiais de multinacionais mandaram
de volta a suas matrizes US$ 4,484 bilhões, o que superou o investimento de US$
3,104 bilhões no mês. Nos 12 meses de 2020, o investimento direto foi reduzido
em 62,1%, encolhendo de US$ 65,386 bilhões para 24,778 bilhões – o mais baixo
em 14 anos (em 2006, a soma investida havia alcançado US$ 18,822 bilhões). 
 

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