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sábado, 19 de outubro de 2024
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Crônica

A persistência do tempo

Confira a crônica deste domingo (21/02), de autoria do advogado e escritor Lucas Montagnini | Imagem: A Persistência da Memória – Salvador Dalí

Postado em 21 de fevereiro de 2021 por Redação
A persistência do tempo
Confira a crônica deste domingo (21/02)

Lucas Montagnini 

A vida é um escárnio. Um reality show sem roteiro, elenco definido ou garantia de prêmios na grande final. E afinal, quando acaba? A pergunta do milênio, a pergunta do milhão. Vivemos a infinitude diariamente, por toda uma existência, e degustamos o sabor do que é finito no grande dia do trunfo. Gosto de pensar na ideia de desfrute, porque é assim que percebo a dinâmica dos ciclos, da natureza sobre-humana dos fluxos. Por quantos fins do mundo você já passou? 

Até o grande dia, infinitos seremos. E talvez seja isso que tempere a vida: a dualidade de existir melhor até que, um dia, paremos de existir, de ser. Mas talvez possamos estar. Onde? Não sei, essa parte prefiro não pensar. A gente, minúsculo do jeito que é, não tem processos cognitivos o suficiente pra entender aquilo que vai além dos nossos olhos. A janela da alma, né? Que isso? Talvez a retina seja a guardiã daquilo que é mais oculto, sagrado e propositalmente incompreensível. Se olhem nos olhos, se olhe, me olhe pra dentro. O que você vê? 

O puerpério de se parir é doloroso. Renascer para o mundo de novo e de novo. É cansativo. Quando mais jovem, eu pensava que ser adulto era ter a cabeça formada, a moleira fechada e as certezas estagnadas. Já morri tantas vezes dentro desse lapso de infinitude temporária que, hoje, já não sei mais nada. Sinto muito, mas sei de nada. Quantas certezas absolutas você já teve na vida? E quantas delas ainda persistem? 

 Uma certeza que ainda tenho é a de que inventaram o tempo. Mas o tempo muda, se atualiza, passa por updates. O tempo de hoje é diferente daquele de 200 anos atrás. Distinto da década passada. Divergente de ontem e, mais importante, incerto amanhã. O tempo é a invenção mais engenhosa da humanidade. Ele é o majestoso comandante do reinar da própria existência. Dentro da sua infinita finitude, como o seu tempo será lembrado? 

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