Decretos de isolamento não diminuem avanços da pandemia em Goiás
Lockdown nas principais cidades não contribuiu para o aumento do distanciamento social | Foto: Reprodução
Daniell Alves
As medidas mais drásticas para conter o avanço da pandemia da Covid-19 não estão surtindo muito efeito. O índice de isolamento social do Estado está somente com 34%, o 8º pior de todo o país, de acordo com a plataforma In Loco. Mesmo com o fechamento do comércio nas principais cidades de Goiás, há registros de aglomerações e aumento de mortes e casos positivos para a doença.
Segundo dados da In Loco, no dia 2 de março, quando o comércio estava fechado, o índice de isolamento no Estado era de 32,6%. Em 10 dias, o percentual teve um aumento de pouco mais de 1%. No ranking de todo o país, Goiás aparece como o 8° pior índice isolamento social entre todos os estados brasileiros. Em último lugar está Mato Grosso do Sul com 30,66% e em primeiro o estado do Ceará, que tem 42,27%.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que o índice seguro para que o Coronavírus diminua a velocidade de contágio é de 70%. O aumento de casos positivos e falta de vacinas para todos foram previstos pelo pesquisador José Alexandre Felizola Diniz Filho, que integra o time de pesquisadores do Grupo de Modelagem da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Ele havia alertado, em entrevista ao O Hoje, a necessidade do isolamento, mas não foi o que ocorreu durante as festas de fim de ano – fato que contribuiu para a superlotação na rede pública e privada de saúde. “É importante que as pessoas entendam que só o isolamento social faz com que as contaminações diminuam. É preciso manter os protocolos e respeitar as orientações das secretarias de saúde”, explicou. O pesquisador também alertou que os padrões observados de estabilização de casos são “aparentes”, pois não se considera o atraso de notificações.
Restrições
Os últimos decretos publicados pela Prefeitura de Goiânia tem pontuado medidas para diminuir o contágio da Covid-19, como o fechamento do comércio considerado não essencial, a exemplo de bares e restaurantes. Além de estratégias como a permissão de apenas um membro da família fazer compras em supermercados para evitar aglomerações.
A auxiliar administrativa Bárbara Souza, 22 anos, estava indo trabalhar todos os dias utilizando ônibus ou transporte individual. Porém, após o decreto, a empresa voltou a adotar o regime home office e agora ela trabalha em casa por tempo indeterminado. “Os ônibus sempre estão lotado, não tem jeito. É uma situação que nunca se resolve e é sem dúvidas uma das principais formas de transmissão”, aponta ela.
Desemprego
Se, por um lado, algumas pessoas consigam trabalhar em casa, por outro, alguns serviços só geram lucros de forma presencial. Por isso, grande parte dos goianienses precisam quebrar a regra do isolamento social para ir trabalhar, manter as despesas e não passar fome. Um dos estabelecimentos que sentiu de perto a crise da pandemia em Goiânia foi o Piry Bar e Restaurante, que atua há 43 anos na Capital. Por meio das redes sociais, o local anunciou ontem a demissão de funcionários. “Começamos o dia com uma reunião oficializando o desligamento destes chefes de família devido ao decreto municipal. Dói muito passar por uma pandemia onde nosso segmento paga de forma desproporcional pela crise de saúde no Brasil”, diz o comunicado.
Conscientização
De qualquer modo, a recomendação é para que, se puder, a população fique em casa. O titular da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Durval Pedroso, reforça que a população de maneira geral precisa entender que estamos frente a uma doença de transmissão altamente infecciosa, porém acreditava-se que ela atingiria somente os pulmões, mas não é. “Ela é, na verdade, uma doença inflamatória imunológica”.
A única maneira de lidar com esse tipo de doença é com a prevenção da infecção, diz ele. “No caso da Covid-19, a prevenção pode ser feita de duas formas: a primeira é a prevenção primária com vacina, que é o item fundamental para proteger a população, e a segunda é conter a disseminação da doença usando máscaras, higienizando as mãos frequentemente e restringindo as aglomerações”, explicou. (Especial para O Hoje)