Alta das commodities evita tombo mais severo na exportação goiana
Confira a coluna Econômica, por Lauro Veiga, desta Segunda-feira (16/3) | Foto: Reprodução
Lauro Veiga
Os
preços das commodities entraram em alta a partir do último trimestre de 2020 e mantiveram
a tendência de aceleração nos dois primeiros meses deste ano, permitindo uma
melhora no que os economistas chamam de “termos de troca”, no Estado e no País.
Isso significa que, diante da alta mais acentuada nos preços dos produtos
exportados e de uma variação menos interna nos valores médios dos bens
importados, o País e o Estado podem pagar proporcionalmente menos para suprir o
mercado doméstico com as importações necessárias ao funcionamento da indústria
e ainda atender parte da demanda final em geral abastecida por produtos
trazidos de fora. Considerado de outra forma, o Brasil (Goiás incluído) precisa
transferir parcelas menores de sua renda para o exterior.
Em
situações normais, não ocupasse o País a última posição no ranking das nações
que conseguiram ter o pior desempenho no combate ao coronavírus, a melhora nos
preços das commodities, combinada com a desvalorização do real frente ao dólar,
teria ajudado a economia a crescer, como ocorreu em boa parte da primeira
década do século e ainda nos primeiros anos do decênio seguinte. Na situação
atual, com a demanda doméstica enfraquecida pelo desemprego elevado e pela
retração da renda das famílias, o efeito externo não tem conseguido compensar
os estragos causados pelos erros de política econômica e pelo agravamento
ameaçador da pandemia.
Em
Goiás, como já analisado neste espaço, as exportações totais sofreram baixa de
8,8% no primeiro bimestre deste ano, na comparação com igual intervalo de 2020.
A queda ficou concentrada no principal setor exportador, com as vendas externas
do agronegócio desabando 14,6% naquela mesma comparação, saindo de US$ 545,023
milhões na soma de janeiro e fevereiro do ano passado para US$ 465,667 milhões.
A fatia do setor nas exportações goianas totais recuou de 67,2% para menos de
63,0%. Em volume, as exportações do agronegócio despencaram 37,9% (de 1,049
milhão para 651,294 mil toneladas). Os preços médios de venda, no entanto,
saltaram 37,6%, com altas de 21,8% para a cotação média do farelo de soja
exportado, de 16,1% para o milho, 12,1% para o açúcar e 10,9% no caso da soja
em grão.
Termos de troca
O
número agregado para toda a exportação do Estado mostra um salto de 40,2% no
preço médio, diante de uma variação de 27,5% na cotação média dos bens
importados. Proporcionalmente, a relação entre os preços dos bens exportados e
aqueles importados tornou-se mais favorável ao Estado. De fato, embora as
distâncias permaneçam elevadas, os bens importados chegaram a “custar” quase
62% a mais do que o valor médio dos produtos exportados nos dois primeiros
meses do ano passado, diferença “reduzida” para 47,5% em igual período deste
ano. Segundo o Indicador de Comércio Exterior (Icomex), do Instituto Brasileiro
de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), o aumento nos preços das
commodities, iniciado no segundo semestre de 2020, “levou a uma melhora nos
termos de troca”, atingindo o índice mais elevado desde 2011 (mas ainda
inferior àquele alcançado no último boom das commodities, em 2010).
Balanço
O
relatório mensal do Ibre sobre a balança comercial mostra que ainda persistem
dúvidas em relação a um “novo super ciclo de preços de commodities” no mercado
internacional. Mas pondera que “as políticas expansionistas dos Estados Unidos
e da China apontam que a tendência de alta dos preços das commodities deverá
persistir durante 2021”.
No
acumulado entre janeiro e fevereiro deste ano, o índice de preços das
exportações avançou 7,5% e sugere uma aceleração no segundo mês do ano, quando
a variação chegou a 8,9% em relação a fevereiro de 2020. Para as importações,
as tendências se invertem, com redução de 5,0% no bimestre e queda um pouco mais acentuada em fevereiro (-6,1%).
Houvesse
capacidade de formulação de políticas no Ministério da Economia, o Brasil
poderia aproveitar a alta das commodities para se preparar para novo ciclo de
crescimento, reforçando sua capacidade para enfrentar os reveses causados pelo
vírus.
Segundo
o Icomex, o volume importado pelo País chegou a saltar 20,8% em fevereiro,
acumulando variação de 10,5% no primeiro bimestre. Descontadas as operações
envolvendo a importação ficta de plataformas de petróleo (que não geram impacto
macroeconômico), o crescimento ficou limitado a 9,3% em fevereiro e a 5,8% no
acumulado dos primeiros dois meses deste ano.
A
economista Lia Valls Pereira, coordenadora do Icomex, pergunta se esse
incremento nos volumes importados “seria um indicativo de uma recuperação na
economia”. Em sua resposta, ela anota: “No caso dos investimentos, os dados não
são promissores”. As importações de máquinas e equipamentos, em volume, já
descontadas as plataformas de petróleo, encolheram 25,2% em fevereiro, fechando
o primeiro bimestre em baixa de 16,7%.
Houve
pequena variação, de 1,6%, nas compras de máquinas e equipamentos para o setor
agrícola em fevereiro (ainda assim, com tombo de 37,0% no bimestre). O setor
agropecuário, que se prepara para a colheita de mais uma safra de recordes,
lidera igualmente na importação de bens intermediários (insumos utilizados na
produção, como adubos e fertilizantes, por exemplo), com salto acumulado de
52,0% no primeiro bimestre.
A
Saneamento de Goiás S.A. (Saneago) conseguiu não apenas aumentar seu lucro
líquido em 22,3% no ano passado, para R$ 336,346 milhões (10,93% sobre o
patrimônio líquido, diante de 9,96% em 2019), mas também elevou seu
investimento em 37,8%, para R$ 259,213 milhões. A companhia se encarregou de
mostrar que o valor ficou ainda 62,2% inferior à meta de R$ 684,968 milhões
(uma diferença de R$ 425,755 milhões).
De
qualquer forma, o avanço no investimento (mais R$ 71,114 milhões) veio
acompanhado de uma variação muito menos intensa do endividamento líquido, que
passou de R$ 776,246 milhões para R$ 797,349 milhões (R$ 21,103 milhões a mais,
numa elevação nominal de 2,72%, inferior, portanto, à inflação).