Itamaraty buscou insumos para cloroquina a pedido do Ministério da Saúde, diz Ernesto Araújo
Ex-ministro disse que o presidente Jair Bolsonaro participou do pedido de insumos; medicamento não tem eficacia comprovada contra a covid-19.
O ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou em seu depoimento a Comissão Parlamentar de Inquerito (CPI), da pandemia, nesta terça-feira (18/05), que, a pedido do Ministério da Saúde, o Itamaraty buscou ajuda para importação de insumos para produção de cloroquina.
“Em função de um pedido do Ministério da Saúde foi que nós procuramos ajudar a viabilizar uma importação de insumos para farmacêuticas brasileiras produzirem hidroxicloroquina”, confirmou Ernesto.
Ernesto disse, também, que a importação já estava contratada, porém, a Índia havia bloqueado as importações de insumos. “Já estava contratado, mas a Índia, justamente como havia uma procura mundial, não se sabia se a cloroquina teria uma procura ainda maior, havia bloqueado exportações”, disse.
Ao responder o relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), que questionou o ex-chanceler sobre a participação do presidente Jair Bolsonaro (Sem partido), Ernesto respondeu que “sim”.
“Naquele momento, em março, havia uma expectativa de que houvesse eficácia no uso da cloroquina para o tratamento da Covid, não só no Brasil. Havia notícias sobre isso de vários lugares do mundo. Houve uma grande corrida aos insumos da hidroxicloroquina e baixou precipitadamente o estoque de cloroquina. Fomos informados por isso pelo Ministério da Saúde no Brasil”, disse Ernesto.
Colapso em Manaus
Ainda durante o depoimento, Ernesto disse que não fez contato com a Venezuela para conseguir o envio de oxigênio do país vizinho para o Amazonas. “Não. A doação foi oferecida pelo governo venezuelano”, disse o ex-chanceler ao ser questionado se havia contatado algum representante do país vizinho.
Em janeiro de 2021, durante o colapso da saúde na capital amazonense, caminhões enviados pelo governo da Venezuela entregaram 100 mil m³ de oxigênio ao Estado.
Após a fala do ex-chanceler, o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que as mortes em Manaus poderiam ter sido evitadas. “Enquanto estava morrendo gente sem oxigênio em Manaus, o oxigênio da Venezuela estava vindo pela estrada. Um voo da FAB, se o Ministério das Relações Exteriores tivesse interferido, em uma hora ia e voltava”, disse Aziz.
“Não fizeram isso. Enquanto a gente não conseguia um voo – e o desespero era grande – morreu muita gente. Poderiam ter sido evitadas essas mortes se Vossa Excelência tivesse agido”, continuou.
Ao se defender, Ernesto disse que o Ministério das Relações Exteriores “não age de maneira autônoma em temas de saúde”
“O Itamaraty não tem condições de avaliar o momento e em que condições é necessário proceder a essa ou àquela ação em relação ao sistema de saúde, no caso o suprimento de oxigênio”, disse o ex-chanceler.