O goiano escuta sertanejo, rock e Música Popular Brasileira também
O vocabulário musical do goiano está associado à tradição e às possibilidades de diversidade cultural
Dentro do ônibus a caminho do trabalho, estudando, no chuveiro, lavando louças ou até mesmo naquele momento de ócio. São inúmeros os contextos onde podemos incluir a música e maiores ainda são as sensações que ela provoca no nosso corpo, alma e espírito. Ouvir música está escrito no nosso DNA, na nossa história, nas nossas relações humanas e, principalmente, na forma como encaramos a vida.
O médico neurologista, músico e compositor, Mauro Muszkat, afirma no artigo “Música e Neurodesenvolvimento: em busca de uma poética musical inclusiva”, publicado na Revista Literartes, da Universidade Federal de São Paulo (USP), que a nossa frequência respiratória e nossos ritmos elétricos cerebrais são alterados pelo ritmo e pela melodia que estamos escutando. Ele chama isso de “dançar conforme a música”.
Com isso, o neuropediatra formado pela Faculdade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo explica que a música pode ser uma ferramenta importante para tratar déficit de atenção, dislexia, autismo, depressão, esquizofrenia e outras disfunções cerebrais. Ele ainda destaca que o uso da música no contexto clínico de tratamento, reabilitação ou prevenção de saúde e bem-estar são bastantes eficazes e utilizados há anos.
Não podemos calcular o número de estímulos musicais que recebemos diariamente. Entretanto, devemos reconhecer os benefícios que ela traz para nossa saúde, como por exemplo, alívio de dores e até mesmo para a memória. Pois, quem não tem aquela música de infância que sabe a letra completa até hoje ou aquele modão que faz lembrar de casa, da avó e dos pais!?
A música está presente todos os dias da nossa vida, desde a canção de ninar até no noticiário que assiste quando adulto. Ela deixou os palcos, visitou as rádios e hoje nos acompanha por todos os lugares através dos serviços de streaming presentes nos smartphones. Segundo a pesquisa “Consumo de música no Brasil”, desenvolvida pela Opinion Box, 80% dos brasileiros escutam música todos os dias e utilizam, principalmente, o Youtube Premium (49%), Spotify (41%) e Google Play (35%).
“Os estilos musicais preferidos são o Pop, o Sertanejo e a Música Popular Brasileira (MPB), todos com quase 50% de aprovação entre os consumidores nacionais”, aponta o estudo. Sim, o sertanejo está em segundo lugar. Para a nossa alegria, esse ritmo musical, que tem raízes goianas, é o favorito dos brasileiros em relação aos demais gêneros nacionais como funk, choro, samba, forró e outros.
São goianos os maiores representantes do sertanejo raíz, o universitário e o feminino, que vem estourando desde 2016. Vamos começar com “É o amor” de Zezé Di Camargo e Luciano, ambos são naturais de Pirenópolis, em Goiás. Este sertanejo raíz é motivo de orgulho para os goianos, que viram crescer a dupla e alcançaram o mundo juntos deles, levando toda nossa goianidade para o exterior.
Quer mais atualmente? A dupla Jorge & Mateus. Eles, que são naturais de Itumbiara, em Goiás, formaram a dupla em 2006 e lançaram seu primeiro álbum em 2007, chamado, nada mais e nada menos, que “Ao Vivo em Goiânia”. Os sertanejos estouraram as rádios com “Amo noite e dia” e “Aí já era”. Mas não parou por aí, trouxeram seus sucesso para as plataforma de streaming e hoje fazem sucesso com “Ranking” e “Lance individual”.
Com várias duplas de sucesso, Goiás consolidou o nome “berço do sertanejo”. Outros nomes, como Amado Batista, Bruno e Marrone e Israel & Rodolffo contribuíram para dar esse reconhecimento ao nosso Estado. Mas muito além disso, esses nomes asseguraram que as próximas gerações do sertanejo continuem vindo de Goiás. Essas duplas ajudam os iniciantes a trilharem seu sucesso na música.
Como é o caso do cantor Cristiano Araújo, que é natural de Goiânia. Ele é um dos principais nomes de uma nova geração para o sertanejo. Junto com outros, Cristiano marcou o início do Sertanejo Universitário. Apesar da sua morte prematura em 2015, sua carreira gerou grandes sucessos como “Você mudou” e “É com ela que eu estou”. Não muito diferente do sofrimento que o sertanejo raíz trazia, mas com uma pegada menos rural, pois Goiás se desenvolveu e deu espaço aos universitários/jovens.
O Estado seguiu esse ritmo de dar espaço, pois a partir de 2016 a onda das mulheres chegou ao sertanejo. A capital é considerada feminina, pois 51,8% da sua população de mais de 1,5 milhão de pessoas são mulheres, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Contínua), de 2019. Ou seja, há mais mulheres do que homens e era a vez delas estourarem nas rádios.
O empoderamento femino trouxe grandes vozes para o sertanejo goiano. Elas chegaram e tomaram seu lugar em músicas que falavam sobre elas. A partir daí, começaram a cantar seu lado da história. Histórias de amor, traição e muita sofrência sertaneja. Como é o caso da cristianopolina (GO), Marília Mendonça, que tem os maiores sucessos de streaming. A cantora marca presença com sua voz e talento para compor.
Entretanto, como diria o autor José Mendonça Telles na crônica “O que é ser Goiano”: “Ser goiano é saber cantar música caipira e conversar com Beethoven, Chopin, Tchaikovsky e Carlos Gomes. É acreditar no sertão como um ser tão próximo, tão dentro da alma. É carregar um eterno monjolo no coração e ouvir um berrante tocando longe, bem perto do sentimento”.
Goiás é o berço do sertanejo, mas o goiano é plural e eu posso provar isso. Diferente dos estereótipos que muitos possuem, de que aqui as pessoas andam à cavalo, de chapéu, cinto de fivela e calça justa, o nosso Estado tem lugar para além do Festival Villa Mix. Há eventos memoráveis para quem gosta de MPB e Rock também.
Para os goianos que amam a música popular brasileiro temos o Festival Banana, que vem marcando história desde 1999. O evento tem o objetivo de dar lugar para o cenário musical goiano em seus diversos gêneros. Inicialmente com três dias de duração, o festival cresceu e hoje dura uma semana. Ele se tornou multi-cultural ao abrir espaço para bandas de todo o país, skatistas e circuitos gastronômicos.
Os mesmos goianos podem aproveitar o Festival Vaca Amarela, que já teve 18 edições aqui na capital. A equipe do Fósforo Cultural abre as portas desse evento para cantores de MPB, Rock e Pop. Tudo isso para aquele goiano eclético no gosto musical e gosta de curtir um bom festival.
Além do Vaca Amarela, que tem opções de shows de rock, o legítimo goiano rockeiro pode participar de dois super eventos focados somente neles. É o caso do Goiânia Noise Festival e do Grito Rock, ambos os eventos tradicionais aqui na capital. O primeiro já teve 25 edições em Goiânia, prezando sempre pela ascensão de bandas de rock independentes de todo o Brasil.