Entregadores trabalham mais ganhando menos na pandemia
Profissionais relatam ainda dificuldades de trabalhar, discriminação e restrições nos aplicativos
Ao reivindicarem melhores condições de trabalho nos serviços de entrega por aplicativos, os trabalhadores que atuam neste setor em Goiânia reclamam de queda na remuneração, jornadas longas e mudanças na forma de trabalho que dificulta cada vez mais o dia a dia desses profissionais. Tudo isso em meio ao alto risco de contágio pela Covid-19 que os trabalhadores enfrentam durante as entregas.
“Trabalhar como entregador dessa forma não está valendo à pena”. É assim que descreve Paulo César, de 31 anos, que está há quatro meses em uma plataforma de entrega de comida por aplicativo. Apesar de estar na plataforma há pouco tempo, ele já é capaz de sinalizar pontos que fazem o trabalho dele ser complicado. O principal deles é o agendamento que uma das plataformas está realizando para que eles possam trabalhar em determinado dia e horário.
“Antes, o aplicativo dava uma independência para você. Você fazia o seu horário e rodava até quando quisesse. Agora, você tem que fazer esse agendamento. Caso não faça, a gente fica a mercê de não trabalhar, já que a plataforma não manda entrega para gente. É tipo um boicote. Quando isso acontece, você pode ir pra casa, porque não recebe viagem nenhuma”, destaca.
A mesma reclamação é realizada pelo colega Diego Richard, de 22 anos, que já está há pouco mais de dois anos neste tipo de trabalho. Ele pontua que antes o entregador recebia pedidos de acordo com a sua pontuação. Quanto mais alto fosse esse valor dele na plataforma, mais entregas ele conseguia fazer. “No modelo antigo, eu trabalhava das 8h e ficava até as 22h. Assim, eu conseguia fazer uns R$ 200 a R$ 250 por dia. Agora, eu luto para fazer R$ 100 trabalhando no mesmo horário.”
Paulo pontua que a plataforma não apresentou justificativa sobre essa mudança de forma de trabalho, mas acredita que há ligação com a quantidade de motociclistas que se cadastraram na plataforma. Porém, segundo ele, deveria ter uma preferência de pessoas que vêem no aplicativo a única fonte de renda, como é o caso dele. A revisão da taxa de ganho é outra coisa que deve ser levada em consideração, tendo em vista que tudo aumentou nos últimos dias, inclusive a gasolina.
Além disso, ele denuncia que há um serviço de aluguel de contas para entregadores, o que não é permitido pela empresa. “Muitas pessoas fazem o cadastro na plataforma e alugam com uma porcentagem das entregas que a pessoa consegue fazer na semana. A gente sabe que não estão recebendo novos motoqueiros pelo fato que iFood só libera novos cadastros com o cadastros de novas empresas”, pontua.
Má-fé
Diego completa que anda acontecendo uma grande quantidade de reclamações por partes de clientes que agem de má-fé e dizem que os pedidos não foram entregues. Dessa forma, segundo Diego, o entregador é penalizado injustamente pela plataforma ao ser banido de vez do aplicativo. Por isso, também cobram pedidos com maiores códigos de confirmação. Segundo eles, isso ajudará a evitar esses contratempos.
“A gente não recebe uma ligação da plataforma para buscar a nossa versão. E ao ser banido de vez da plataforma, a gente não consegue voltar mais porque é um cadastro por CPF. O cliente que age assim tende a ficar com o lanche e com o dinheiro, já que ele é restituído por não receber a entrega”, destaca.
A margem de isto acontecer pode começar a acontecer no estabelecimento onde o pedido é feito. Os entregadores são uníssonos ao dizer que são deixados ao sol e chuva para esperar a entrega. “Muitas empresas de fast foods famosas deixam as pessoas esperando mais de uma hora o pedido do cliente. Quando a gente chega ao local da entrega, a pessoa não entende que a culpa não é nossa e acabam reclamando da gente na plataforma”, pontua Paulo.
Ele afirma que já foi proibido de utilizar o banheiro, estacionar moto e até mesmo ter renegado um copo de água pelos estabelecimentos. Reclamações estas que ganharam destaque nas redes sociais recentemente, mesmo não sendo novidade. “Eu já tive que deixar minha moto duas quadras acima do restaurante porque eu não pude estacionar na porta, pois eu iria atrapalhar os clientes, segundo o dono. Em alguns lugares a gente é visto como lixo. Mas também tem pessoas que tratam a gente com muito carinho. Tem um restaurante no Setor Oeste que a proprietária já falou que quando a gente chegasse no local era para ser servido com um café e um pão de queijo, pois a gente é a representação do cliente”, conta.
Paulo acredita que a plataforma também deveria dar um suporte melhor aos entregadores, como a disponibilização de camisetas e até mesmo trocas mais recorrentes de caixas térmicas. “Todo o aparato que eu tenho foi eu quem arcou. Tenho um blusão de frio com a logo do iFood que custou R$ 263. Eu que mandei fazer uma blusa manga longa com o nome do aplicativo pelo fato de passar mais confiança para o cliente. Também tenho a maquininha de cartão de crédito que eles vendem por mais de R$ 300 para evitar situações da pessoa dizer que não recebeu o pedido quando quer pagar em casa”, reforça.
Como respostas para os questionamentos da reportagem, o iFood enviou a seguinte nota para O Hoje:
- Questão de agendamento de trabalho. O recurso de agendamento de entregas é um projeto piloto disponibilizado como forma de permitir que o entregador parceiro possa organizar seu dia a dia de trabalho, se assim preferir. O iFood ressalta que nenhum entregador é penalizado caso prefira não fazer o agendamento, ao contrário, esse recurso é opcional e complementar ao modelo atual.
- Sobre a bag e jaquetas, o entregador pode adquiri-las no aplicativo, acessando: Perfil > Loja do Entregador > Saiba mais. Vale lembrar que o iFood realiza ações promocionais de distribuição de materiais em várias cidades ao decorrer do ano. Além disso, o entregador pode usar os equipamentos necessários e definidos por lei que já tiver ou, se preferir, comprar em lugares de sua preferência e não necessariamente na Loja do Entregador.
- Os entregadores são parte essencial do ecossistema iFood. De forma contínua, a empresa desenvolve diferentes iniciativas para apoiá-los e melhorar a sua experiência. O iFood ouve ativamente as propostas dos parceiros entregadores e, dentro das melhores condições para todos, busca estabelecer equilíbrio entre todos os pilares do ecossistema: consumidores, restaurantes e entregadores.
O iFood ainda reforça que valoriza o respeito, está sempre aberto ao diálogo, e promove continuamente campanhas de comunicação e transparência. Para aumentar a clareza e a transparência na nossa comunicação com os parceiros entregadores, o iFood disponibiliza diferentes canais de comunicação como o App do entregador, o Portal do Entregador, a seção Abrindo a Cozinha, no site institucional, e o Jhow, assistente virtual do iFood para entregadores que otimiza atendimento pelo app. O chatbot – que utiliza inteligência artificial (IA), já soluciona mais de 60% dos chamados mensais e aumentou a satisfação dos entregadores com um atendimento mais rápido e eficaz, em minutos.
A empresa esclarece que não tem nenhum interesse em ter seus parceiros desativados, e isso só ocorre quando há o descumprimento dos termos e condições de utilização da plataforma. A desativação ocorre somente quando encontramos evidências de fraudes, extravio de pedidos ou mau uso da plataforma, todas essas hipóteses definidas nos termos e condições de utilização da plataforma, que os entregadores aceitam quando se cadastram no iFood.
Quando é desativado, o entregador tem acesso a um chat exclusivo de atendimento e, por ele, recebe uma mensagem explicando o motivo do ocorrido. O canal fica disponível para eventuais questionamentos e o atendimento é feito em 48 horas úteis. Em caso de discordância, ele pode pedir pelo próprio aplicativo a revisão do caso. Se constatado erro, a conta é reativada. Todo o processo é feito via chat, mas as razões do entregador são avaliadas por profissionais do iFood, e não por robôs. A decisão final, portanto, é tomada por pessoas, e não por máquinas.
Além disso, o iFood defende que haja uma nova regulamentação que garanta segurança, ganhos mínimos e proteção social ao entregador que trabalha com plataformas digitais, sem comprometer a autonomia e liberdade de escolha dele no exercício da atividade. Todas as ações do iFood com os entregadores estão no portal: https://entregador.ifood.com.br.
Nos últimos meses foram desenvolvidas e promovidas uma série de vantagens para os entregadores, como mais investimentos em ações de proteção e saúde, revisão periódica do valor da rota mínima, melhorias contínuas no processo logístico e também na comunicação e transparência. Vale elucidar, também, que os valores das rotas consideram fatores como, por exemplo, a retirada do pedido no restaurante, a distância percorrida, entrega para o cliente, a cidade, o dia da semana e o modal utilizado.
O iFood oferece seguro de acidentes pessoais e de vida para entregadores ativos na plataforma. O seguro de acidentes pessoais contempla a cobertura das rotas de entregas e do retorno do entregador para casa, com limite de até uma hora ou 30 quilômetros depois da última entrega. Para aqueles que usam bicicleta e patinete, o período sobe para duas horas, mantida a distância de 30 quilômetros. O seguro cobre até R$ 15 mil de despesas médicas e odontológicas de emergência, além de indenização em caso de acidentes que levem a invalidez permanente total/parcial e morte acidental. Mais informações.
Além disso, com relação à covid-19, o iFood já distribuiu mais de 4 milhões de equipamentos de proteção e álcool gel para os entregadores cadastrados na plataforma. Para os que não podem retirar os kits, o iFood está repassando R$25 para a compra destes itens.
O fundo solidário dá suporte aos parceiros de entrega que necessitem permanecer em quarentena por conta da doença. Com ele, o entregador recebe um valor baseado na média dos seus repasses nos últimos 90 dias, proporcional a 28 dias de quarentena.
Já o fundo de proteção apoia os parceiros que fazem parte de grupos de risco, para que possam permanecer seguros em isolamento. O fundo de proteção é voltado a entregadores em condições de risco como: doenças pulmonares, doenças cardíacas, imunossupressão (inclui HIV), obesidade mórbida, diabetes descompensada, insuficiência renal crônica e cirrose. Os entregadores permanecem em isolamento por período indeterminado, recebendo do fundo um valor mensal baseado na média dos seus repasses nos últimos 90 dias trabalhados.
O iFood informa que ceder a sua conta pessoal de entregador para terceiros é uma prática que vai contra as regras da plataforma. O perfil é de uso pessoal e intransferível e, caso o iFood suspeite de qualquer irregularidade, poderá, a qualquer momento, desativar ou suspender temporariamente a conta, visando a própria segurança dos entregadores, bem como dos clientes e de todos os outros usuários da plataforma. Ao detectar qualquer suspeita, o iFood entra em contato com o entregador.
Teve reclamação sobre códigos em pedido. Segundo eles, alguns tem essa forma de confirmação outros não tem. Isso, segundo eles, seria uma boa para parar a questão de clientes dizerem que não receberam o pedido. Ou seja, eles querem que todos tenham esse código de confirmação.
O código de validação funciona no Brasil todo para entregas feitas por entregadores parceiros do iFood e a elegibilidade dos pedidos para esse recurso está sendo expandida. Ao realizar o pedido, o cliente é informado que precisa fornecer o código de validação ao entregador para retirar e confirmar a entrega. O entregador, ao chegar com o pedido, solicita o código e o valida em seu aplicativo. Se houver qualquer problema nesse processo, o entregador tem o atendimento direcionado para concluir a entrega. O iFood ressalta que todas essas marcações ficam em sistema para garantir que nem cliente e nem entregador sejam penalizados indevidamente. O objetivo do código de validação de entrega é oferecer mais segurança para todos. Para os consumidores, que têm como se certificar quanto à identidade do entregador e, para este, que se assegura de que o pedido foi finalizado, prevenindo extravios, pessoas se passando por destinatários ou mesmo o cancelamento de pedidos que supostamente não foram entregues.