Filme brasileiro estreia no Festival de Cannes 2021
‘O Palhaço, Deserto’ tem previsão de lançamento nacional no segundo semestre
Em meio aos questionamentos de uma vida pós palhaçada, Cidadão enfrenta seu primeiro dia como aposentado. Palhaço por mais de 40 anos, agora ele encara a realidade da vida de cara limpa, mas tem dificuldade em aceitar a nova situação. Este enredo faz parte da trama ‘O Palhaço, Deserto’, primeiro longa de Patrícia Lobo, que estreia na mostra Marché du Film, no Festival de Cannes 2021 no dia 07 de julho, às 09h. O filme também segue para as salas de Portugal pela FilmesDaMente.
Com previsão de lançamento nacional no segundo semestre, ‘O Palhaço, Deserto’ é o primeiro longa-metragem de Patrícia Lobo. Ela provoca neste filme o olhar do espectador ao usar diferentes linguagens na construção da narrativa, a qual nem sempre é óbvia. Em paralelo ao drama do Cidadão, a diretora expõe temas em evidência no Brasil por meio de situações divididas em núcleos: a mulher que sofre violência doméstica; a reflexão sobre o conservadorismo; entre outras coisas.
Entre a ilusão de um cabaré e o realismo do cotidiano, Cidadão tem dificuldade em aceitar a nova situação, que envolve falta de dinheiro e perspectivas, o que o leva a substituir a preocupação pelo prazer. Ele cai na farra em um baile de Carnaval, enquanto enfrenta como mero e passivo espectador, situações comuns do dia a dia e suas questões políticas, comportamentais e sociais. Os veteranos do teatro paulistano, Paulo Jordão e André Ceccato, dão vida aos personagens Cidadão e Pradinho.
Pradinho é o contraponto ao protagonista, incentivando-o a passar por cima do medo e da incerteza para não ‘morrer’ em vida. “Trata-se de filme autoral e, antes de tudo, contém em seu DNA uma forte atmosfera crítica, poética e artística. Porém, não dá margem ou oferece qualquer espaço para que seja entendido como uma obra criada para ser confortável aos olhos do espectador. A personalidade sarcástica de Pradinho se funde ao desespero do Cidadão, dois personagens que se apresentam de forma absoluta e intensa”, conta a diretora.
No longa-metragem, o baile de Carnaval dentro de um cabaré é um espaço-chave que conecta todos os personagens. “É a interligação entre o realismo e a fantasia: os encontros, as vidas entrelaçadas, a ruptura com as verdades de cada personagem. Um oásis no meio do deserto, libertador e de resistência”, explica a diretora. Patrícia Lobo continua: “Por isso, trabalhei com dois atores que carregam o teatro em suas veias para chegar à carga dramática que eu desejava para o filme”, finaliza.
O figurino de Dani Tereza Arruda, que também assina a direção de arte, traz especialmente para as cenas do baile uma homenagem aos personagens e lendas mais icônicos da cultura e do folclore brasileiro: Sambista, Pai de Santo, Jeca Tatú, Caboclo de Lança, Macunaíma, Iemanjá, Sereia Iara, Dançarina de Carimbó e Cirandeira. Para continuar dando ênfase a cultura brasileira, a trilha original contou com composições inéditas do pianista John Larson e mixagem de Sergio Fouad, as quais exploram ritmos como Samba, Forró, Maracatu e Carimbó.
A diretora e sua trajetória
A cineasta paulistana, Patrícia Lobo, 38 anos, é diretora, roteirista, produtora e jornalista, e está interessada no cinema autoral como forma de expressão de suas próprias experiências, questionando o sistema e suas instituições mais conservadoras. Em 2009, lançou a Lobo produções com foco inicial no segmento do design, em paralelo à sua atuação no mercado editorial. Cinco anos depois, assinava o roteiro e a direção do seu primeiro curta-metragem, ‘20 anos, orquídea’ (2014), exibido em São Paulo e no IndieLisboa.
Em 2015, lançou o curta, ‘Um bom lugar para se sentir invisível’, com exibições em festivais internacionais e nacionais. Na sequência, a cineasta realizou mais um curta-metragem chamado ‘Não trocaria minha mãe por nada neste mundo’ (2017), com um elenco formado por Bruno Giordano, Robson Emilio e Wilton Andrade, e entra na fase de captação de recursos para o seu primeiro longa-metragem, ‘Um lugar aqui dentro’, aprovado pela Ancine. Em outubro de 2018, filmou o curta ‘O Palhaço, Deserto’, que foi inspiração para o longa-metragem de mesmo nome.
Dirigiu o clipe do artista brasileiro Lucas Santtana, ‘Streets Bloom’ (2017) que conquistou críticas positivas na impressa internacional ao trabalhar uma narrativa a partir de imagens da cidade de São Paulo captadas com drone. Publicou dois livros: ‘À margem’ e ‘Amar é Intolerável’, fez parte de uma série de produções teatrais e também participou, em 2018 e 2019, da comissão de júri e na direção artística do No Ar Drone Film Fest Brazil. Sua carreira se desenvolveu no mercado editorial, passando pelas principais editoras brasileiras.