Pluralidade brasileira: 15ª Bienal Naïfs do Brasil reúne 128 artistas
O mundo nunca esteve mais conectado como agora, e para a cultura a ‘abertura’ dos portões da internet expandiu o alcance. A oportunidade de presenciar o que está longe fisicamente é a magia que traduz o mundo globalizado. Para concretizar o que já vem sendo dito desde o começo da pandemia, a 15ª Bienal Naïfs […]
O mundo nunca esteve mais conectado como agora, e para a cultura a ‘abertura’ dos portões da internet expandiu o alcance. A oportunidade de presenciar o que está longe fisicamente é a magia que traduz o mundo globalizado. Para concretizar o que já vem sendo dito desde o começo da pandemia, a 15ª Bienal Naïfs do Brasil, organizada pelo Sesc Piracicaba, reúne produção de mais de 100 artistas que podem ser vistas de forma virtual e gratuita. Sim, você goiano que está lendo esta matéria agora, pode estar nesse exato momento apreciando um evento feito em São Paulo. Aproveite e abra sua mente.
Essas são as últimas semanas para que o público possa visitar a 15ª Bienal Naïfs do Brasil, em cartaz no Sesc Piracicaba até o dia 25 de julho. Com curadoria de Ana Avelar e Renata Felinto, a Bienal reúne 128 artistas de 21 estados do país, além do Distrito Federal. A partir do tema ‘Ideias para adiar o fim da arte’, uma referência direta ao pensamento do líder indígena, ambientalista e escritor brasileiro Ailton Krenak e ao filósofo e crítico de arte americano Arthur Danto, a exposição traz 250 obras em suportes diversos. São instalações, pinturas, desenhos, colagens, gravuras, esculturas, bordados, marcheteria e entalhes.
O público pode visitar a exposição de forma gratuita e presencial, mediante agendamento prévio online por meio da página de cada unidade no Portal do Sesc São Paulo ou em sescsp.org.br/exposicoes. Já a visitação digital em 360°, a que nos interessa, traz uma experiência imersiva. Ela leva o público para perto das obras proporcionando ângulos e perspectivas distintas dos trabalhos, e também uma experiência expansiva, com dinâmica semelhante ao Google Street View, possibilitando uma visita que começa na fachada do Sesc Piracicaba e prossegue por seu espaço expositivo.
Buscando sempre proporcionar uma experiência cultural ampla e diversa, o evento trouxe para dialogar com os trabalhos selecionados, as artistas Carmela Pereira, Leda Catunda, Raquel Trindade e Sonia Gomes. Elas integram a mostra a convite das curadoras e completam o hall de bons artistas expositores. Ana Mae Barbosa e Lélia Coelho Frota, mulheres intelectuais brasileiras que demonstraram em suas pesquisas a preocupação e o cuidado com o entendimento da pessoa artista e de sua produção de forma mais humana e plural, também são reverenciadas no processo curatorial desta 15ª edição da Bienal.
Mais da bienal
O processo de seleção feito pelas curadoras Ana Avelar e Renata Felinto, no qual foram inscritas 980 obras, de 520 artistas com idades entre 19 e 87 anos, trouxe eixos temáticos plurais e diversos, que compõem a mostra. O processo de seleção de trabalhos partiu do critério da representatividade e considerou as regiões de onde provêm e atuam esses artistas, suas declarações étnico-raciais, faixas etárias, os assuntos e as materialidades com as quais trabalham. Inclusive, Goiás está sendo bem representado na bienal pelos artistas Lourdes de Deus e R. Domingues de Goiânia, e Sérgio Pompêo da cidade de Pirenópolis.
“Nosso desejo durante a seleção foi de contemplar várias humanidades, que é a multiplicidade de cores. Nós temos, por exemplo, um grande número de pessoas não brancas participando dessa exposição, e isso é necessário porque é preciso equilibrar dentro das exposições, o número de participantes, as origens, as complexidades das pessoas humanas participantes de acordo com a complexidade da população constitucional brasileira. E isso é muito estimulante porque foi a nossa tentativa de apresentar, na Bienal Näifs do Brasil, uma pluralidade do povo brasileiro”, ressalta Renata Felinto.
Realizada desde o início da década de 1990, a Bienal Naïfs é um convite para o público refletir sobre os fazeres populares inventados por artistas. Nesta 15ª edição, discussões como meio ambiente; o feminino como força social, como divindade e como figura do sagrado; as violências estruturais históricas; os espaços de coletividade e sociabilidade em ritos, festas e cerimônias; e o debate sobre objetualidade e utilidade são pautas. Segundo Danilo Santos de Miranda, Diretor Regional do Sesc São Paulo, “a longeva relação do Sesc com esse universo está ligada ao reconhecimento de que a arte popular merece um espaço condizente com sua relevância”.
De origem francesa, o termo Naïf deriva sugere algo natural, ingênuo, espontâneo. Foi utilizado originalmente no campo das artes para descrever a pintura e as propostas do artista modernista francês Henri Rousseau. A adoção do termo pela Bienal, no plural e desvinculado da palavra ‘arte’, evidencia seu foco no artista e em suas manifestações diversas e múltiplas, deixando em aberto os possíveis significados do que é ser naïf. “Hoje a palavra é reivindicada pelos artistas por definir os interesses que suscitam suas obras, que são absolutamente distintos daqueles que vigoram no sistema da arte contemporânea”, afirma Ana Avelar. (Lanna Oliveira é estagiária do jornal O Hoje)