Goiás registra aumento de 16% em incêndios florestais em 2021
Levantamento foi feito com base nos dados do Corpo de Bombeiros e foi baseado no seis primeiros meses de 2021 com o mesmo período de 2020
Goiás registrou um aumento de 16% nas ocorrências de incêndios florestais até junho deste ano, se comparado com o mesmo período do ano passado. De acordo com dados do Corpo de Bombeiros, nos seis primeiros meses de 2021 foram atendidas 2.502 ocorrências, enquanto em 2020 foram 2.156 incêndios. O tempo seco e o vento presentes dessa época do ano acabam contribuindo para que os focos se espalhem mais rapidamente pela vegetação.
Ainda de acordo com a corporação, com exceção de fevereiro e junho , todos os demais meses de 2021 tiveram aumento em incêndios florestais. Apesar de ter tido uma queda de 5% de um ano para o outro, o mês de junho ainda foi o mais ardente entre os demais: em 2020 foram 1.180 casos e, em 2021, foram 1.119 focos combatidos.
Um caso que vem chamando atenção é o incêndio que atinge o Parque Nacional das Emas, no Sudoeste do Estado. As chamas tiveram início na última sexta-feira (9) e até a última segunda-feira (12), haviam mais de 20 mil hectares atingidos. Cerca de 70 pessoas, entre brigadistas e bombeiros, atuam no combate às chamas.
De acordo com o diretor da unidade, Marcos da Silva Cunha, o incêndio começou nas construções dos aceiros.Os dois caminhões que acompanham nesse processo “deram pane mecânica e pulou um fogo que ocasionou na perda de controle” das chamas. O Parque Nacional das Emas possui cerca de 133 mil hectares que estão distribuídos entre os municípios de Chapadão do Céu, Mineiros e Serranópolis.
Marcos reforça que o local continua aberto pois a área de visitação foi preservada. Com acesso limitado, há apenas uma trilha que fica de forma mais remota no parque. A corporação culpa o tempo seco e o vento intenso da região como fatores que contribuíram com que as chamas se espalhassem mais rápido.
O diretor reforça que o fogo foi contido dentro do parque, mas que ele ainda ameaça atingir áreas externas ao local, como fazendas e outras unidades de preservação. Esse é o ponto em que os brigadistas estão focados para evitar que as chamas atinjam outros locais.
O que é um aceiro?
De acordo com o Marcos, o aceiro serve como uma “proteção” para evitar grandes queimadas no parque. A construção de aceiros é um trabalho de risco, mas, segundo ele, “tem que ser feito pois, se não, vem o fogo e queima o parque todo.”
A dinâmica dos aceiros consiste em colocar fogo numa faixa de vegetação e vão apagando em seguida. O parque dispõe de dois caminhões para fazer os aceiros. Um deles estava no combate às chamas, mas as mangueiras de borracha não suportaram o calor do fogo. O segundo foi apagar o incêndio em um brejo e atolou.
“Essa é uma consequência. O caminhão tinha que tentar apagar o fogo, como passou do brejo, fica difícil o combate manual. O que se pode fazer é tentar fazer um trabalho a noite, com mais recurso. Temos que buscar maneiras de aperfeiçoar, mas é um trabalho arriscado”, ponderou o diretor.
Dicas
Ao Hoje, o tenente e porta-voz da Operação Cerrado Vivo, Ailton Pinheiro de Araújo, contou que a maioria dos incêndios florestais é causada pela ação humana. “Sempre que há a análise, é possível constatar que, seja de maneira acidental ou dolosa, que a causa humana é o principal motivo das queimadas, via de regra, seja por meio de atear fogo no lixo, ou limpeza em lotes baldios. Contudo, causas naturais são outras possibilidades para o início das queimadas, como por exemplo, um raio ou a incidência do sol em um local específico”, afirma.
Ele afirma que a corporação tem investido em meios de prevenir este tipo de ocorrência. “O que temos feito, de maneira preventiva, é orientar a população de maneira geral para não fazer, por exemplo, limpeza de lotes utilizando fogo, não queimar lixo. Ações como essas podem colocar em risco os vizinhos, atingir a rede elétrica e causar um dano muito grande. Já nas rodovias, orientamos às pessoas a não jogar cigarro, ou qualquer outro objeto que possa intensificar os raios do sol, como o plástico, por exemplo”, explica Araújo.
No caso dos produtores rurais, a orientação feita pela corporação abrange o que não deve ser feito. “Orientamos os produtores a não colocar fogo nas propriedades. Existem órgãos ambientais que devem ser buscados para que haja a autorização legal, para que não ocorra crime ambiental, bem como para que não haja a perda de controle da situação.”, afirma o tenente.
Brasil
O maior país da América do Sul é o que concentra a maior quantidade de incêndios em 2021, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Até o momento, foram 25.987 focos registrados no Brasil. Em seguida, vem a Venezuela, com 12.671 casos, e Colômbia, com 10.032 focos.
O estado brasileiro que mais registra incêndio é Mato Grosso, que concentra 23,5% de todos os incêndios registrados no Brasil. O mapa ainda traz que o Cerrado é o bioma nacional mais afetado com as chamas, sendo que 43,5% dos incêndios foram registrados nele. Em seguida, vem a Amazônia (28,3%) e Mata Atlântica (16,8%).
Cerrado vem perdendo cada vez mais espaço, aponta especialista
Neste cenário de queimadas frequentes, o bioma Cerrado vem perdendo espaço. De acordo com Altair Sales, doutor em Antropologia e Geologia, muitos estudos ainda são capazes de mostrar a real ação do fogo sobre o bioma. “Apesar da sua importância para o entendimento do Sistema Biogeográfico, a ação do fogo no cerrado é ainda mal conhecida, e geralmente marcada por questões mais ideológicas que científicas. Também não se pode conduzir tal estudo com base apenas nas comunidades vegetais”, aponta.
Apesar disso, Altair revela que o fogo fez com que várias espécies, de flora e fauna, se reinventassem na região. “No caso animal pode-se citar como ilustração, além dos já citados, o caso da ema, que faz um ninho grande, que comporta em média 50 ovos, que são chocados pelo macho no meio do campo. Para proteger o ninho, a ema faz, ao seu redor, um pequeno aceiro, para quando o fogo vier não atingir o ninho. Isto era possível, porque tratava-se de um fogo brando, rápido e rasteiro, que simplesmente lambia o resto das gramíneas secas e mortas. Esse fogo não tinha força para atravessar o pequeno aceiro feito por aquela ave”, pontua.
E continua: “As gramíneas nativas e outras plantas herbáceas existiam nos chapadões, nas campinas, nos interflúvios e nas áreas de cerrado stricto sensu, onde a luz do sol permite a entrada da claridade. Atualmente, essas gramíneas não existem mais. Adiante analisaremos as causas dessa extinção.”
O professor aponta que, além da ação humana, deve-se observar as causas espontâneas para o início das chamas. “Nesse sistema encontra-se uma grande variedade de rochas, que refletem com intensidade a luz do sol, essa luz ao encontrar massa combustível vulnerável, imediatamente se inflama. As rochas quartzosas, desde as esbranquiçadas até o quartzo hialino, as biotitas, as muscovitas, o sílex, o arenito silicificado, todas podem provocar esse tipo de fenômeno. Já presenciei isso muitas vezes, em longos trabalhos de campo. Porém a experiência mais extraordinária, neste sentido, aconteceu dentro de um museu, onde uma telha quebrada permitiu a passagem de um intenso raio solar, que, ao tocar numa superfície polida de madeira silicificada, refletia num pedestal de madeira comum, que sustentava outra amostra. Percebi uma fumaça.” (Especial para o Hoje)