Exposição celebra obra do designer e arquiteto Bernardo Figueiredo
Durante a exposição, um vídeo com trechos do filme ‘Garota de Ipanema’ é apresentado, no qual mostra a segunda residência de Bernardo
O Museu da Casa Brasileira tem um papel importante na disseminação da cultura nacional, e desde o dia 17 de julho ele apresenta a trajetória profissional do designer e arquiteto Bernardo Figueiredo. Além da exposição, o livro com o título ‘Bernardo Figueiredo: designer e arquiteto brasileiro’ também está disponível e acrescenta a homenagem. Curadoras da mostra e autoras do livro, Maria Cecília Loschiavo dos Santos, Amanda Beatriz Palma de Carvalho e Karen Matsuda, tiveram o ‘Acervo Bernardo Figueiredo’ como ponto de partida para a pesquisa.
A produção de Figueiredo está situada no cruzamento da arquitetura, urbanismo, design de mobiliário, design de interiores, cultura e suas inter-relações transdisciplinares. De acordo com Maria Cecilia, Bernardo foi um homem de pensamento aberto e sua identidade profissional sempre esteve imbricada com as condições culturais e sociais do Rio de Janeiro de seu tempo. “Ele se envolveu em diferentes experiências profissionais e humanas, sempre com uma atitude aberta e positiva”, conclui Maria Cecilia Loschiavo.
Dividida entre o hall de entrada e as três salas principais do MCB, a mostra traz uma linha do tempo com datas e eventos importantes: desenhos, fotos de suas criações de design de móveis e arquitetura, além do vídeo ‘Fabricando a Poltrona Milhazes’, que apresenta a fabricação desta peça na fábrica da Schuster, em Santo Cristo (RS). Haverá também desenhos originais de projetos urbanísticos criados por Figueiredo para a cidade de Porto Seguro, na Bahia. Uma das salas contará com 11 peças produzidas nos anos 1960.
A ‘Poltrona Carioca’, desenvolvida para ser montada em um programa de TV da época, está desmontada e aplicada em uma das paredes mostrando cada uma das partes que a compõem. Os visitantes ainda poderão conferir fotos do Porão da loja Chica da Silva, que pertenceu à figurinista Kalma Murtinho, pioneira no comércio de artesanato brasileiro no Rio de Janeiro. O local era ponto de encontro de intelectuais cariocas e comercializou moveis de Bernardo durante vários anos.
Outra sala é dedicada ao Palácio do Itamaraty, que abriga o Ministério das Relações Exteriores, em Brasília. Móveis originais como a Cadeira dos Arcos e a Poltrona Rio dividem espaço com as reedições produzidas pela Schuster como a Cadeira Bahia e a Poltrona Leve. Essas peças fazem parte do projeto do Palácio. A sala conta ainda com reedições sofás Conversadeira, que podem ser utilizados pelos visitantes e com o vídeo Palácio dos Arcos, criado por Angela Figueiredo com fotos e imagens de 1967 e 2017.
Em um terceiro espaço são apresentadas peças reeditadas pela fábrica gaúcha Schuster Móveis que, desde 2011, produz os móveis de Bernardo. O público visitante pode experimentar o mobiliário. “Relançar os móveis do Bernardo significa manter vivo o legado e a própria história do mobiliário nacional. Suas dificuldades, necessidades e propostas de solução. Tudo isso sempre apresentado uma brasilidade típica junto à discussão do jeito de ser e morar do brasileiro e suas relações com a natureza e sua filosofia própria”, comenta Wilson Schuster.
Sobre Bernardo Figueiredo
Formado em 1957 pela Faculdade Nacional de Arquitetura, o carioca Bernardo Figueiredo (1934-2012) iniciou sua carreira projetando edifícios, explorando o universo do design de móveis e da arquitetura de interiores. Ao longo de sua carreira, ele traçou projetos urbanísticos, desenhou estandes para feiras nacionais e internacionais, projetos gráficos e empreendimentos comerciais, sendo pioneiro na criação de shoppings centers no país, como o Barra Shopping, inaugurado em 1981 no Rio de Janeiro.
A carreira de Bernardo esteve fortemente ligada ao Rio de Janeiro nas décadas de 1960/70, sobretudo a Ipanema, bairro onde nasceu e viveu e que se tornou um dos epicentros da cultura brasileira no período. “Bernardo, assim como seus contemporâneos, refletiu sobre a materialidade, oferecendo projetos ousados, que visitavam diversas frentes, sem deixar de lado a real funcionalidade de cada um deles, para o seu público-alvo”, explica Karen Matsuda.
Ele teve participação marcante na concepção do projeto de arquitetura de interiores do Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores em Brasília, em 1967. Ele foi convidado a mobiliar as principais salas do palácio e conviveu, na ocasião, com nomes do modernismo como: Oscar Niemeyer, Burle Marx, Athos Bulcão, Bruno Giorgi e, novamente, Sergio Rodrigues e Joaquim Tenreiro, também chamados para participar do projeto. “O móvel brasileiro existe quando atende às condições próprias da nossa gente. É essa exatamente minha preocupação ao criar um modelo. Proporcionar através do conforto, plástica, materiais e autenticidade, o encontro daquilo que é acima de tudo útil para quem o procure. É uma questão de identidade”, dizia Bernardo Figueiredo.