Vinhos Kosher, produzidos por judeus, carregam tradições familiares
Tem mais particularidades: uma vez a uva vertida em vinho, nenhuma máquina pode entrar em contato com o líquido e também ninguém que não seja judeu
Em um domingo recebo um telefonema de um amigo judeu ortodoxo de São Paulo, mas está temporariamente morando em Goiânia a negócios. Roberto queria muito que eu fosse almoçar com sua família. Estava preguiçosa e me esquivei do convite. Dois minutos depois, ele me liga novamente e diz que era deselegante recusar o convite de uma família judaica.
Convite aceito, assim que cheguei, fui recebida pelo seu pai, alegre, festivo e eu mal conseguia entender o que o sr Ezequias dizia, tinha uma longa barba, falava sem parar, estava tocando uma música linda que eu desconhecia. Ele e sua esposa foram dançando comigo até a mesa da varanda onde estavam toda a família cantando e pareciam festivos. Me senti totalmente em casa, e iluminada de amor.
A vida familiar da família judaica, tão importante no judaísmo, gira em torno do Shabat, das festas e refeições familiares. Isto inclui aprender, cantar e conversar. A comida casher e a separação de carne e do leite são traços importantes da maneira judaica de viver.
Segundo Roberto, os princípios do comportamento de uma família judaica incluem: honrar os pais, ajudar aqueles que têm menos possibilidades, respeitar os mais velhos, dar hospitalidade aos estrangeiros, visitar os doentes e não fazer fofoca ou mentir sobre outras pessoas. A educação judaica começa em casa. As crianças aprendem pelo exemplo a praticar os rituais judaicos desde a infância.
O sr Ezequias sabendo que sou apaixonada por vinho, chegou com uma garrafa de vinho Kosher à mesa e começou a falar sobre a bebida. Ele serviu vinhos Hagaon, Kosher argentino, produzido sob os preceitos judaicos na Província de Mendoza, em Agrelo, na Argentina, nas versões Malbec, Merlot e Cabernet Sauvignon.
A produção dos vinhos Hagaon é feita sob a estrita supervisão do rabino D.Y. Levy, com a certificação Kosher Gran Rabinato de Agudath Israel – Rabi Yosef Libersohn, “Organized Kashrus Laboratories”. Está de acordo com os rigorosos critérios de produção estabelecidos, tornando-se assim adequado para o consumo por judeus ortodoxos. Pode ser identificado pelo símbolo “K” dentro de um círculo impresso em sua embalagem.
VINHO KOSHER – O vinho Kosher, é produzido exclusivamente por judeus. Tem mais particularidades: uma vez a uva vertida em vinho, nenhuma máquina pode entrar em contato com o líquido e também ninguém que não seja judeu. Inusitado, não é mesmo? O sistema Kosher é definido pelo Torá, a bíblia judaica, e estabelece toda a íntima ligação entre a alimentação e a religião judaica, que é muito instigante de conhecer. Para os judeus, comer e beber alimentos não-casher diminui sua sensibilidade espiritual e reduz sua capacidade de absorver os conceitos do Torá e Mitzvot (mandamentos). O processo de fabricação dos vinhos Kosher acontecem de forma semelhante aos demais vinhos. Entretanto, os critérios são realmente bem rígidos. Algumas das condições a serem obedecidas são que o vinhedo deve ter a idade mínima de quatro anos; a vindima tem que ser manual, seletiva e escrupulosa, aceitando somente uvas saudáveis, inteiras e em estado ótimo de maturação; somente o rabino pode realizar a manipulação e o prensado, a vinificação somente pode ser realizada em tanques de aço inoxidável. As garrafas têm que ser novas e de fabricação supervisionada, que o rabino marcará com o carimbo Kosher que certifica sua elaboração.
A questão fundamental é que a partir do momento que as uvas são entregues para a vinificação, a manipulação de todos os ingredientes e ferramentas só pode ser feita por judeus. Apenas eles podem tocar, experimentar e acima de tudo, comandar os processos. Mesmo depois de pronto para o engarrafamento não é permitido o contato de um não-judeu com o vinho. Após o término do engarrafamento, o vinho é selado e autenticado como um vinho Kosher e qualquer um poderá tocá-lo, porém somente será aberto e servido por um judeu. Mesmo com toda essa rigidez, acredita-se que o vinho Kosher alegra a alma das pessoas e por isso ele é consumido nas principais celebrações judaicas. O sistema Kosher é uma parte dessa determinação, onde Kosher significa aquilo que é bom, ou de confiança. Devido a isso, é através do sistema Kosher, estabelecido pelo Torah, que os alimentos são permitidos para consumo são determinados, estabelecendo um altíssimo padrão de qualidade.
Percebi que por mais distantes que estejam de seus lugares de origem, ambos também teimam em não abandonar velhos costumes, tradições e comidas típicas. Tudo isso para se manterem perto de onde nunca deveriam ter saído ou para onde pretendem constantemente retornar: suas respectivas terras no Estado de Israel, a Terra Prometida dos judeus.
O QUE VESTIR? – Resolvi usar uma saia lápis, uma camisa de manga longa e um turbante preto. Quando cheguei, no almoço, fui muito elogiada pelas mulheres judias que disseram estar bem vestida adequadamente e elegante. Resolvi cobrir a clavícula, cotovelos e joelhos, porém fiquei sabendo que é uma regra opcional. Perguntei para as mulheres sobre as cores. Elas me disseram que depende do grupo judaico ao qual pertença. Alguns permitem cores vivas, outras cores neutras e outros dão preferência a cores escuras. Estampas? Mesma regra das cores. E apesar de toda informalidade a etiqueta num almoço judaico, é essencial.
A forma pela qual os povos preparam os alimentos e bebidas, conta um pouco da sua história. A maneira de cozinhar dos judeus narra a sua trajetória e se mantém unido por suas tradições. O meu domingo começou alegre, ficou delicioso, fiz novos amigos e me apeguei àquela família. É no prazer da amizade, que fazemos da vida uma canção simples de ser tocada e aprendida facilmente pelos acordes dos dias! A dança dos rabinos me conduziu pela sala, foram momentos inesquecíveis que juntos pintamos na tela da vida e o tempo emoldura na minha mente, a certeza da sinceridade daquela família judaica. (Especial para O Hoje)
Por: Edna Gomes