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terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Atenção

Queda na realização de exames de rotina pode levar a uma epidemia de câncer

Em Goiás, são previstos cerca de 20 mil novos cânceres até o final deste ano

Postado em 2 de agosto de 2021 por Daniell Alves
Queda na realização de exames de rotina pode levar a uma epidemia de câncer
Em Goiás

O Instituto Nacional do Câncer (Inca) aponta que, até 2022, sejam registrados cerca de 20 mil casos de cânceres em Goiás. A estimativa para o câncer de colo de útero, por exemplo, é de 590 novos, sendo 170 deles em Goiânia. Em todo o país, o número é bastante preocupante. São estimados 685 mil novos casos de cânceres de diversos tipos. Especialista alerta para importância da realização dos exames de rotina, fundamentais para o diagnóstico precoce. 

Um levantamento da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) junto a especialistas da área mostrou que 74% dos profissionais entrevistados tiveram um ou mais pacientes com tratamentos postergados durante a primeira onda da pandemia. Para 10% dos especialistas, a procura de orientação médica e consultas de rotina caíram entre 40% e 60% no período. No SUS (Sistema Único de Saúde), o número de pacientes oncológicos que iniciaram o tratamento também diminuiu cerca de 30%. 

A queda do número de pacientes em consultas e exames de rotina podem levar a uma epidemia de câncer nos próximos anos, alerta o Dr. Sérgio Mancini Nicolau, médico ginecologista livre-docente da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), em entrevista ao O Hoje. Quarto tipo mais comum entre as mulheres, o câncer de colo do útero pode ser prevenido com o diagnóstico precoce, por meio de testes moleculares como a Captura Híbrida.

Por ser um teste mais sensível, pois detecta o material genético (DNA) do vírus HPV, principal causador da doença, não é necessária a presença da lesão para ser detectado e pode ser realizado em mulheres a partir dos 25 anos de idade. A partir de um resultado negativo, a recomendação de novo rastreio é a partir de cinco anos.

O índice de sucesso da Captura Híbrida pode ser comprovado mundialmente. Ele permite identificar 13 tipos do HPV de alto risco oncológico. “A testagem molecular existe há mais de 20 anos e está entre os testes mais utilizados pelos médicos para rastreio genético do HPV. Até hoje, mais de 100 milhões de mulheres já foram testadas globalmente. Além disso, temos estudos clínicos que, ao serem somados, já testaram mais de 1 milhão de mulheres em todo o mundo. Dessa forma, temos uma vasta literatura científica apontando os benefícios da Captura Híbrida. Vale ressaltar que esse é um teste robusto, possui diversos controles e calibradores, o que garante um resultado confiável”, aponta Paulo Gropp, vice-presidente da QIAGEN na América Latina – multinacional alemã especialista em tecnologia para diagnóstico molecular. 

Rastreamento 

Em março deste ano, a SES realizou exames de rastreamento dos cânceres de mama e do colo do útero entre as goianas do Centro-Norte. A ação contou com uma unidade móvel que auxilia na prevenção e diagnóstico precoce de duas enfermidades que atingem as mulheres. “O câncer de mama, sozinho, representa quase um terço de todos os casos da doença no mundo. Enquanto o câncer de colo de útero é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina e a quarta causa de morte neste público por câncer no Brasil”, explica a coordenadora de Oncologia da Gerência de Atenção Secundária da SES-GO, Fabiana de Sousa Miranda.

Atualmente, 7,6 milhões de pessoas no planeta morrem em decorrência da doença a cada ano, segundo o Inca. Dessas, 4 milhões têm entre 30 e 69 anos. A menos que sejam tomadas medidas urgentes para aumentar a conscientização sobre a doença e desenvolver estratégias práticas para lidar com o câncer, a previsão para 2025 é de 6 milhões de mortes prematuras por ano. “Estima-se que 1,5 milhão de mortes anuais por câncer poderiam ser evitadas com medidas adequadas. Mas a Organização Mundial da Saúde tem como meta reduzir em 25% os óbitos por doenças não transmissíveis até 2025”, aponta o Instituto. 

Vacina contra HPV e teste de papanicolau podem prevenir a doença

Entre as formas de prevenção do câncer de colo de útero estão a vacina contra HPV, educação sobre a doença, teste de papanicolau, além do tratamento das lesões precursoras do câncer. 

A diretriz do Inca indica que mulheres façam rastreamento de câncer do colo do útero, preferencialmente, entre 25 e 64 anos, e realizem dois exames de papanicolau, consecutivos, com intervalo de um ano entre eles e, se os resultados forem negativos, os exames deverão ser feitos a cada três anos. Já a avaliação ginecológica de rotina, em que a mulher faz o exame das mamas e o exame ginecológico geral, deve ser feita idealmente a cada ano. 

Sintomas 

Sérgio explica que, no início, pode não ter qualquer sintoma ou as queixas podem ser inespecíficas como por exemplo, corrimento ou sangramento na relação sexual e este sintoma deve chamar a atenção do médico porque pode ter por trás dele, o Câncer do Colo do Útero. 

Já com relação aos principais problemas que os pacientes enfrentam durante o tratamento, ele explica que depende do estágio da doença. “Até determinado estágio o tratamento é cirúrgico, necessitando de cirurgias menores ou maiores e mais radicais na dependência do grau de comprometimento genital e, aí, os problemas se relacionarão à cirurgia e ao que foi retirado nela. A partir de determinada fase ou estágio, a cirurgia não é mais suficiente para tratar e curar o câncer e as ferramentas para isso são a radioterapia e quimioterapia, com os efeitos adversos e complicações relacionadas a estes métodos”, diz. 

Captura Híbrida

De acordo com o Dr. Sérgio, o teste de Captura Híbrida é um exame molecular que detecta o material genético dos vírus mais comumente envolvidos nas infecções genitais, mas de preferência devem ser testados os vírus chamados de alto risco para desenvolvimento do câncer do colo. “A coleta do material é semelhante a do papanicolaou, colocado num tubo com líquido que preserva o que foi colhido e vai para o laboratório para ser analisado. Posteriormente, é emitido laudo com resultado positivo ou negativo para o grupo viral pesquisado”, diz. 

Segundo ele, a inovação tecnológica é muito importante na área da Saúde e as técnicas de detecção dos vírus evoluíram muito, como temos visto todos os dias sendo utilizadas por causa da Covid-19. Os testes de detecção do HPV e, entre eles está a Captura Híbrida, são muito mais sensíveis do que o papanicolau, que pode falhar em quase metade dos casos no rastreamento do câncer do colo do útero. “Estes testes já demonstraram exaustivamente que são custo-efetivos para o rastreamento, identificam muito mais mulheres com câncer, mas infelizmente são disponíveis no país desde o final do século passado somente para a rede privada e ainda não são disponíveis para o Sistema Único de Saúde (SUS)”, finaliza. (Especial para O Hoje).

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