Artistas goianos vão às ruas para defender a Cultura com o lançamento da Frente Ampla
Movimento terá concentração no Monumento às Três Raças e sairá em defesa do investimento da Cultura em Goiás
Trabalhadores e representantes da Cultura promovem o lançamento da Frente Ampla em Defesa da Cultura em Goiás, nesta quinta-feira (05/08). O movimento será realizado em frente ao Palácio Pedro Ludovico Teixeira. O ato que conta com a presença de ativistas, artistas, produtores e representantes de grupos culturais tem como objetivo central denunciar o desmonte da Cultura em todas as esferas de poder.
A finalidade da Frente, neste momento, é a luta por recursos aprovados pelo Fundo de Cultura de 2015 a 2018 que não foram pagos pelo Governo de Goiás. A produtora cultural Patrícia Vieira, afirma que está sendo vivenciada uma guerra declarada contra a cultura no Brasil.
Além da guerra nacional, segundo a produtora, o desrespeito estadual não tem sido diferente. “Em Goiás, o desrespeito com a cultura não tem sido diferente. Apesar de inúmeros discursos do governador e seus assessores para ludibriar a opinião pública e de suas promessas de campanha, não cumpridas, o que temos, na prática, desde que assumiu, são vários projetos aprovados sem receber, ausência de editais do Fundo de Arte e Cultura (FAC) e Lei Goyazes inoperante”, disse.
De acordo com a artista Lu Celestino, o edital de 2017 da FAC aprovou projetos de continuidade e que compunham planejamento estratégico visando o crescimento do trabalho cultural, tanto esteticamente quanto de abrangência e democratização do acesso público. A interrupção de ações prejudica não somente o projeto, como também gera impacto econômico por se tratar de centenas de profissionais envolvidos em toda a cadeia produtiva do setor cultural.
Outro questionamento feito pela Frente Ampla é a ausência de publicação dos editais de 2019 e 2020. Nestes anos o FAC era vinculado e estipulado por lei, 0,5% da arrecadação líquida do Estado deveria ser aplicada. A atriz Ana Cristina Evangelista afirma que o momento histórico atual é sombrio em que o Governo Federal é perverso, mas além disso, o Governo Estadual está alinhado a este modo de exercício de poder. “O exercício do poder no governo federal é autoritário, perverso, suprime direitos democráticos duramente conquistados pela sociedade e desrespeita a vida”, afirma.
Segundo a atriz, existem várias estratégias utilizadas par mascarar a real situação vivenciada pela classe artística no país. Ana Cristina ainda diz que o governo se utiliza de manobras de comunicação fabricando fatos que confundem a opinião pública e, consequentemente, se mantém no poder.
“O ato do dia 5 de agosto da Frente Ampla Em Defesa da Cultura e das Artes de Goiás é fundamental, pois traz a outra voz: A voz de quem se indigna com os fatos verdadeiros e sente na carne, no dia a dia, o desmonte da Cultura, a supressão de direitos conquistados com muita luta ao longo de décadas que garantiam, parcialmente, um fôlego para a produção e o acesso democrático da sociedade à Arte e à Cultura”, defende a atriz.
O movimento contará com grande intervenção e mobilização artística. De acordo com Patrícia Vieira, existe um projeto de desmonte da Cultura em nível tanto municipal como nacional. O prejuízo, segundo ela, não é apenas para a cadeia produtiva mas a sociedade perde seu direito de acesso à cultura.
A concentração para o grande ato começa às 15 horas, no Monumento às Três Raças. O também realizará uma homenagem aos artistas que perderam suas vidas para a Covid-19.
Burocratização dos Editais da Lei Aldir Blanc
A Frente Ampla defende também o fim da burocratização dos editais da Lei Aldir Blanc. Segundo os trabalhadores da Cultura, a lei é emergencial e a burocracia prejudica a emergência.
“Não faz sentido fazer um monte de exigências para quem tem fome. A lei é emergencial; a burocracia não combina com emergência e solidariedade. Estar com certidões negativas e contas pagas não é para quem não tem dinheiro para comer”, afirma a produtora cultural Malu Cunha.
De acordo com Norval Berbari, presidente da Federação de Teatro de Goiás, o edital publicado pelo Governo Estadual não atende ao objetivo central que é proporcionar o socorro emergencial. O sentimento de Berbari é compartilhado pelo escritor Mazinho Souza que enxerga dois problemas maiores em relação aos editais disponíveis.
“O primeiro corresponde a burocratização para a inscrição. A quantidade de documentações e comprovações artísticas que solicitam geram uma exclusão da nova geração de artistas, que por estarem iniciando seus projetos e produções, não possuem um currículo extenso como solicitam os editais”, enfatiza. “O segundo problema, que também diz respeito ao primeiro, é a falta de cotas para artistas em situações de vulnerabilidade social e projetos que contemplem a discussão emergente: Transgeneridade, racialidade, feminismo etc. O que provoca um atraso nas discussões importantes na cena cultural e, consequentemente, no pensamento plural da sociedade”, finaliza.
Maria Paula Borges (especial para O Hoje)