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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
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Pais solos ganham cada vez mais espaço na sociedade

filhas Letícia e Stefany, o pai Kalebe garante que todo Dia dois Pais é uma diversão em casa, com direito a café da manhã na cama e muitos abraços.

Postado em 7 de agosto de 2021 por João Paulo
Pais solos ganham cada vez mais espaço na sociedade
filhas Letícia e Stefany

Por muitos anos, ser pai era  ligado ao sustento. Ou seja, o provedor do lar. Porém, os tempos mudaram e o papel do ser paterno evoluiu. Hoje, ser pai é poder ser a proteção e o exemplo de um ser que chegou agora na Terra e irá enfrentar todos os desafios para se tornar uma pessoa íntegra. Para alguns, aconteceu por acaso. Outros se planejaram. Mas nesse Dia dos Pais, que continua diferente por causa da pandemia, os pais solos – aqueles que abdicaram de diversão ou de outros objetivos para cuidar de alguém que ama profundamente – se tornam destaque.

Os dados dessa parcela da população ainda são muitos defasados. A última pesquisa do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) é de mais de 10 anos e nela traz que 28% dos pais eram solteiros e criavam seus filhos sem a ajuda da esposa. Isso representou 0,6% de aumento em uma década. Boa parte é acostumada a ver mães criarem seus filhos sozinhos e até estranham quando um homem toma essa responsabilidade.

O podólogo Kalebe André Alves Lemes, 40 anos, já passou por isso na pele. Ele é pai de Letícia, 15 anos, e criou Stefany, que hoje tem 30 anos, após a irmã mais velha – de quem a menina é filha – escolher um caminho diferente de ser mãe. Ao apresentá-las como filhas, ele conta que sempre é questionado sobre o fato da mãe ter escolhido não ter ficado com a criança.

“Não me chateia, mas me incomoda. Isso é porque muitas pessoas não vêem o pai conseguir a guarda do filho pelo fato de muitos homens não estarem dispostos a assumir a responsabilidade de ser pai. Para mim, sempre foi um prazer ser pai e tenho muito orgulho disso”, destaca.

Kalebe conta que sempre cuidou de Letícia, mesmo antes de se separar da mãe da menina. Esse processo, segundo ele, foi muito conturbado, mas ele conseguiu vencer. Porém, foram vários obstáculos que teve que ultrapassar. Aliás, nessa altura do campeonato, ele era mãe e pai da menina.

“Eu trabalhava em um grande shopping de Goiânia e, pela manhã, cuidava dela. Fazia mamadeira, dava banho, fazia as tarefinhas – já que ela estava matriculada na escolinha. Também passei muitas noites acordado para cuidar de algumas enfermidades que acometem crianças no início do período escolar. Mesmo assim, notei que ela estava sentindo falta de mim e, por isso, decidi abrir mão da faculdade que fazia na época para estar mais perto dela”, conta.

O podólogo explica que, com Stefany, sua experiência de paternidade não foi tão completa no início como com Letícia, pelo fato de ser muito novo quando sua irmã ficou viúva e decidiu deixar a criança com ele e a mãe para curtir a vida. Ele fala que sua mãe e uma outra irmã foram quem o ajudou com as meninas. Apesar disso, Kalebe afirma que não quis abrir mão dos momentos da vida delas, mesmo por menores que fossem.

“Estava presente em todo instante. Não queria passar a responsabilidade para minha mãe, mesmo que ela estivesse ali, presente a todo momento para me ajudar, mas não achava justo isso, nem com ela, nem com as meninas. Quando a Letícia cresceu, eu voltei a estudar e a Stefany pegava ela na escola enquanto eu estava trabalhando e chegava no final da noite. Mas deu tudo certo no final”, destaca.

Situações constrangedoras

Kalebe conta que já passou por situações constrangedoras pelo fato de ser pai de menina. Principalmente quando o assunto tinha a ver com levá-la ao banheiro. “Quando a gente ia ao shopping, por exemplo, não tinha essa opção de banheiro família como existe hoje. Eu jamais levaria minha filha ao banheiro masculino e também não entraria no banheiro feminino. Então, o jeito era pedir para uma amiga minha acompanhá-la.”

Outro fato que Kalebe chama atenção é quando andava de ônibus com Letícia quando ela era pequena. Segundo ele, não era comum as pessoas lhe oferecerem um banco para sentar com a filha. “Eu saía com uma mochila com mamadeira, fralda e outras coisas que a gente tem que andar quando a criança é pequena. Apesar disso, ninguém perguntava se eu queria sentar com ela. Para aquelas pessoas, pelo fato de ser homem, eu tinha o dever de me segurar, segurar ela e as demais coisas que estava carregando. O máximo que acontecia era uma pessoa se oferecer para levá-la no colo, coisa que também não deixava.”

Kalebe diz que muitas pessoas não conseguem associar as meninas como suas filhas e sempre há situações em que o questiona se alguma delas é sua namorada. “As meninas são muito grandes e, em todo lugar que a gente vai as pessoas querem associá-las como uma namorada e não conseguem assimilar que são apenas minhas filhas. Sempre querem tratar a gente como casal ou outra coisa. Isso é desconfortante”, desabafa.

Apesar dessas inconsistências, Kalebe é enfático em dizer que faria tudo de novo e que o Dia dos Pais é uma verdadeira festa. “Eu não me arrependo de nada de abdiquei para cuidar delas. Poderia fazer algumas coisas diferentes, já que a gente aprende errando, mas faria tudo de novo. E meu Dia dos Pais sempre é divertido. É piquenique, café da manhã na cama, muita brincadeira. Não espero nada material. Um abraço, só de saber que ele é verdadeiro, já basta!”.

Mudanças

As circunstâncias da vida também levaram o vendedor Devair Lauro de Faria, de 44 anos, a cuidar das duas filhas, de 21 e 12 anos, sem a ajuda da mãe. Ele decidiu se separar da ex-mulher em 2017 e as filhas decidiram ficar com o pai. “No momento, tive medo. Fiquei com medo de não acertar. Tivemos muitas dificuldades, mas, graças a Deus, estou superando cada etapa”, conta.

Assim como Kalebe, por ser pai de duas meninas, Devair também passou por algumas situações embaraçosas. A pior de todas, segundo ele, foi ter que levá-las ao ginecologista. Apesar de tudo, ele afirma que o ápice da mudança veio com a gravidez da filha mais velha, que lhe rendeu seu primeiro neto, hoje com 1 ano de vida. “Ele é um filho. Dizem que ser avô é ser pai duas vezes e é verdade. Ele só veio para acrescentar em nossas vidas”, destaca.

A presença de Devair na vida das meninas se tornou mais necessária após a morte da mãe das meninas, que ocorreu em janeiro deste ano em decorrência da esclerose múltipla – doença autoimune que ataca o sistema nervoso central. Apesar das dificuldades, eu faria tudo novamente. É muito gratificante ser chamado de pai. Quando olho o crescimento delas e o meu, eu sinto muito orgulho e sei que, apesar de novas dificuldades, eu posso vencer!”.

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