Umidade despenca mais de 20% em 60 anos em Goiás
Segundo especialista, estimativa para os próximos anos não é positiva
O típico clima seco da Capital e do Estado pode estar ainda mais acentuado. É o que aponta uma pesquisa que avaliou a umidade relativa do ar, que comparou a umidade em décadas anteriores e nos últimos 10 anos. Segundo a pesquisa, em 1961 a umidade relativa do ar na Capital chegava, em média, a 46%. De lá para cá, a população de Goiânia cresceu mais de 10 vezes e, depois dos anos 2000, já era possível observar uma umidade relativa do ar média de 40%. Para se ter uma ideia, hoje (11) a umidade relativa do ar prevista para a Capital é de apenas 19%, o que significa menos da metade da registrada anos atrás.
O estudo, denominado “A influência da relação solo/atmosfera no comportamento hidromecânico de solos tropicais não saturados: estudo de caso – município de Goiânia-GO”, é resultado de uma tese de doutorado realizada pela professora de Climatologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), Gislaine Cristina Luiz.
De acordo com o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cihmego), André Amorim, há uma situação de ilhas de calor, dentro da Capital, que colabora para essa variação na umidade relativa do ar. “Anos atrás não tínhamos uma cidade desse tamanho, com tantos prédios altos, asfalto. A cidade foi pensada lá atrás, mas de um modo muito tímido. As ruas deveriam ser mais largas, por exemplo, quando comparamos à Brasília e à Palmas, que são cidades mais novas, isso também interfere nas ilhas de calor”, afirma.
O especialista explica que, nesse cenário, a máxima de que “quanto mais quente está menos umidade se tem” é verídica, já que o calor rouba a umidade relativa do ar. “O monitor de secas que nos auxilia com essas medições vem demonstrando que, desde que começamos a monitorar esta questão, é possível entender que há vários graus de seca. A seca relativa, por exemplo, vai e volta, acelera e desacelera e, com isso, acabamos notando a expansão de secas que foram se intensificando no último período”, destaca.
Segundo ele, isso faz com que Regiões como a sudoeste de Goiás apresenta uma seca considerada grave, e que, outros pontos do Estado apresentam, ainda, uma seca extrema. “Se há uma situação de seca, há a demonstração de que há menos período de chuva, então a tendência é que a umidade diminua mais rapidamente, e essa poderia ser uma das explicações sobre a situação de secas que estamos enfrentando no Estado”, ressalta.
Queimadas
Em 2021, o Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás estimou que Goiás registrou um aumento de 40% no número de queimadas. No início de junho, o Corpo de Bombeiros Militar projetou que o período mais crítico seria no mês de agosto e setembro, quando as condições climáticas estão mais favoráveis para a incidência de incêndios. Neste cenário, André Amorim explica que as queimadas interferem na qualidade do ar e na propensão de gases à atmosfera. “Chamamos a atenção para os gases de efeito estufa que as queimadas provocam. No período de seca, a característica natural de momento é que a umidade esteja mais baixa, então é preciso ter consciência”, afirma.
Segundo o especialista, a perspectiva para o cenário dos próximos anos não é das mais animadoras nesta questão. “Se continuarmos mantendo essa postura não colaborativa, de jogar lixo nas ruas, poluir, mesmo que nas mínimas atitudes, como jogar um papel de bala no chão, o futuro não será promissor. Se pensarmos que a temperatura a nível global aumenta um grau celsius, é preciso entender também que aumento causa toda uma mudança e disfunção no Globo. São situações que não estão sendo pensadas, e não estão sendo tratadas com a devida importância”, alerta André. (Especial para O Hoje)