Desemprego entre jovens de 18 a 24 anos é cada vez maior
Taxa do desemprego dessa população atinge quase 30% de acordo com o IBGE
Os jovens entre 18 e 24 anos estão amargurando, em escala cada vez maior, os dados de desemprego no País. De acordo com números mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que 29,8% de pessoas nessa faixa etária estão desempregadas. Isso porque, a maioria dessa população, tenta a primeira oportunidade de ser inserida no mercado de trabalho, mas sem sucesso. Por causa disso, muitos sonhos e conquistas acabam sendo postergados para dar espaço a mais cursos de profissionalização para conseguir, o mais rápido possível, encontrar um emprego.
Larissy Summer Santos, de 23 anos, é uma jovem que configura esse dado. Formada em jornalismo, ela busca há oito meses uma oportunidade na área desde que fez o estágio obrigatório. Seu sonho é conseguir verba para fazer um intercâmbio em Londres, na Inglaterra. “Financeiramente, [estar desempregada] não me afeta muito nas questões básicas, como moradia e alimentação, pois eu moro com meus pais. Mas agora falando em questão de liberdade financeira e realizações de sonhos pessoais, afeta muito, pois essa dependência é frustrante. Ela impede que eu possa realizar os meus planos”, destaca.
Para a jornalista, a pandemia afetou muito sua entrada no mercado de trabalho. “Muitas empresas/negócios reduziram os números de funcionários e outras tiveram que fechar. Mas arrumar emprego nunca foi algo fácil, ainda mais quando temos certas exigências, como a de ser na área que somos formados”, pontua.
Até hoje ela conta que usa certas ferramentas digitais para buscar oportunidades de emprego como LinkedIn e o Catho. Enquanto o trabalho fixo não chega, ela conta que faz alguns serviços de freelancers para desenvolvimento de artes para redes sociais de alguns clientes. Ela também conta que está aprimorando seus conhecimentos com cursos que envolvam a área que ela escolheu: comunicação social.
Larissy avalia os dados do IBGE. “A gente sabe que a população brasileira é formada em sua maior parte por jovens. Então vejo como um número alto isso, principalmente porque abrange a faixa etária de quem está terminando de se formar, saem da faculdade achando que já vão trabalhar, o que é mentira”, destaca.
A jovem conta que o intercâmbio iria custar cerca de R$ 40 mil para ficar seis meses em terras britânicas. Ela diz que um trabalho lhe ajudaria a economizar para juntar esse valor. “Depender de qualquer forma das outras pessoas é ruim. Financeiramente pior ainda, pois todo sonho requer investimento financeiro e sem essa independência o sonho acaba sendo adiado.”
A situação se repete com Mariana Inocêncio Telles, de 24 anos. Ela conta que chegou a procurar oportunidades, mas acabou desistindo e passou a fazer curso de inglês, para aumentar suas chances. “Trabalhar mesmo eu nunca trabalhei, só fiz estágio. Mas depois que me formei, no final do ano passado, procurei emprego, mandei currículo. Como não encontrei, decidi fazer um curso de inglês para me ajudar”, destaca.
Ela afirma que algumas situações poderiam ser contornadas se lhe dessem a oportunidade de mostrar sua capacidade. “Me deparei com situações de ‘já contratamos alguém’ e ‘não estamos contratando’, mas noto que muitas vezes a dificuldade é pelo fato de eu não saber mexer em tal programa, ou pelo fato de não ter experiência, principalmente por não ter trabalhado ainda e ter só o estágio”, reforça.
Para ela, um emprego seria o início de uma responsabilidade importante. “[O emprego representaria] independência financeira. Eu também iria poder ajudar mais em casa financeiramente e ter mais responsabilidade, pois minha única ocupação é o curso de inglês. É chato ficar sem fazer nada”, desabafa.
Crescimento
De acordo com o economista Benito Salomão, o crescimento do País, que vem andando em passos curtos desde 2015, seria a melhor forma para reverter essa situação, já que o desemprego é uma das consequências da estagnação econômica. “Quando o País não cresce há um tempo, poucos empregos são gerados. Temos uma das maiores taxas de desemprego da série histórica. A taxa varia de 14,5% a 15%”, destaca.
Benito pontua que o reflexo disso é o impacto em faixas etárias diferentes de maneiras distintas. “Como o desemprego é um problema macroeconômico, alguns grupos são afetados mais que os outros: os jovens por terem menos experiência, não ter currículo e qualificação. Dessa forma, também notamos o desemprego ser maior entre mulheres do que homens, negros com desemprego maior e salários diferentes do que brancos”, pontua.
Segundo o economista, a situação não tende a melhorar, já que, segundo ele, isso é um reflexo do capitalismo e o fato do Brasil não conseguir uma expansão que abrange o preparo de uma geração completa. “A empresa busca um profissional mais qualificado, pois o mercado exige demais desse candidato. Não há muito o que se fazer. Algumas empresas até investem no aprendizado de seus funcionários, mas isso já é outro caso. São pessoas que já têm um histórico. Agora, os jovens, infelizmente, estão em desvantagem nesse sentido. O reflexo de um País sem crescimento é tudo e mais: baixos salários, onde a pessoa se qualifica, mas acaba cedendo pelo fato da concorrência”, finaliza.
Empresa de construção investe na primeira oportunidade
Indo em contramão dos dados do IBGE, alguns empresários investem nessa mão de obra jovem e buscam dar a primeira oportunidade de emprego a esse público. O proprietário da AMG engenharia, Marlus André Alves Franco, destaca que investiu na contratação, mesmo com o risco que a pandemia poderia lhe trazer. “Sempre em tempos de crise, surgem oportunidade para quem está preparado e já víamos em uma crescente, então, soubemos aproveitar a onda e fomos para crista, juntando tudo isso, com uma grande oferta de mão de obra, onde soubemos selecionar os melhores para cada função. O medo é algo natural do ser humano, mas quando controlado ele é benéfico. O controle é ser sempre racional”, destaca.
Ele conta que mais de 700 profissionais foram contratados, desde a auxiliares de pedreiro até engenheiros, neste período de pandemia. “Foi meio que efeito cascata. Quando foi decretado a pandemia, estávamos com dois contratos fechados para construção de dois shopping, e como os investidores decidiram tocar o projeto mesmo assim, outros, que viram não quiseram ficar para trás, e nos procuraram para saber o que estava sendo feito, e fomos incentivando e motivando os clientes à tocarem os seus projetos, e as coisas foram acontecendo.”
Marlus afirma que há pretensão de contratar mais gente nesse período. “Não podemos reclamar, neste ano até este mês de julho, já fechamos o dobro de contratos, comparado com o ano de 2020, e percebemos que o mercado está muito aquecido e acreditamos que atingiremos nosso objetivo antes do fim do ano.”
Quem teve uma chance na AMG foi o engenheiro civil Josué Jorge Galdino Silva, de 24 anos. Ele conta que foi indicado por um parente para ser auxiliar de outro engenheiro. Para ele, a oportunidade lhe trouxe muitas experiência e oportunidades de crescimento dentro da própria empresa. “Sinto orgulho de atuar na minha área de formação e é uma grata motivação enfrentar desafios novos a cada dia”, conta.
“Ao decorrer do tempo com aquisição de experiência de mercado e mais contato na área, vejo hoje um leque de possibilidades nesta área em específico. Oportunidades que antes eram raras tornaram-se mais comuns e na área da construção civil que é muito competitiva, ainda mais em tempos de crise, as oportunidades estão aparecendo”, pontua Josué. (Especial para O Hoje)