Longe do MDB, Mendanha busca viabilizar sua candidatura
Prefeito de Aparecida de Goiânia tem dialogado com setor produtivo e diferentes forças políticas
Toda a classe política de Goiás sabe que, se quiser ser candidato a governador em 2022, o prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, atualmente no MDB, terá que trocar de partido.
Publicamente, Mendanha ainda não rompeu com o presidente do MDB em Goiás, Daniel Vilela, mas, nos bastidores, o “rompimento já é de 100%”, segundo uma fonte emedebista.
Como mostrado em reportagens anteriores do O Hoje, Daniel está prestes a anunciar sua aliança com o governador Ronaldo Caiado (DEM), o que inviabiliza a candidatura de Mendanha pelo MDB.
Sabendo disso, o prefeito de Aparecida de Goiânia, que, no momento, não pensa em abrir mão da disputa pelo Palácio das Esmeraldas, dialoga especialmente com o setor produtivo e também com diferentes forças políticas.
Convém lembrar que, nas eleições de 2020, Mendanha liderou uma coligação com 20 partidos, desde o PT até o PSL. Em outras palavras, ele tem capacidade de diálogo e, portanto, diversas opções para se filiar, algo que tende a ser definido só no ano que vem.
Chapa
De acordo com avaliação de pessoas próximas ao prefeito de Aparecida de Goiânia, o ideal, para se contrapor a Caiado, seria montar uma aliança a partir da centro-esquerda.
No entanto, em Goiás, ideologias não costumam pesar tanto na hora do voto. Além disso, tradicionalmente, os eleitores do estado são mais conservadores.
O caminho mais provável, então, deve ser rumo ao setor produtivo. Prefeito de uma cidade com característica mais industrial, Mendanha já tem o respaldo de Sandro Mabel, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), que está abertamente em pé de guerra com Caiado.
Mendanha pode também vender a imagem de uma gestão da pandemia de Covid-19 aprovada pelos empresários, o que, a propósito, elevou o status do prefeito de Aparecida de Goiânia, enquanto Daniel, sem mandato, perdeu fôlego como governadoriável.
O grande problema de Mendanha é que ele ainda é desconhecido fora da Região Metropolitana de Goiânia. Por isso, não está descartado um empresário influente em outras partes do estado como candidato a vice-governador, uma possibilidade, inclusive, já sugerida por pelo menos um prefeito do interior, conforme apurado pela reportagem do O Hoje.
Em relação à vaga para o Senado em sua chapa, Mendanha não terá muito com o que se preocupar. Três dos principais pré-candidatos a senador – Alexandre Baldy (Progressistas), João Campos (Republicanos) e Delegado Waldir (PSL) – articulam com Caiado e o prefeito de Aparecida de Goiânia ao mesmo tempo.
Desses, o único que, a princípio, poderia ter algum tipo de resistência é João Campos devido ao recente rompimento, após a morte de Maguito Vilela, entre Republicanos e o comando do MDB, em um momento em que Mendanha ainda estava próximo de Daniel, filho de Maguito.
Mas é só a princípio, uma vez que a crise entre os dois grupos políticos não cruzou a Avenida Rio Verde e ficou restrita a Goiânia.
Em Aparecida de Goiânia, o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação é o sobrinho de João Campos e presidente do Republicanos na cidade, Jhonatan Medeiros, responsável direto pelo projeto de cidade inteligente, a marca mais importante de Mendanha.
A articulação da vaga ao Senado passa também por quem Mendanha apoiará para presidente. Se Jair Bolsonaro não quiser se aliar a Caiado, nem bancar um candidato próprio, o prefeito de Aparecida de Goiânia pode ter o apoio do governo federal. Nesse caso, Baldy tem mais força, seguido de João Campos, enquanto Delegado Waldir corre por fora.
Vale mencionar, ainda, a influência do ex-governador Marconi Perillo (PSDB). Apesar de Mendanha negar, o tucano, que deve ser candidato a deputado federal, segue em cena para montar uma chapa, encabeçada pelo prefeito de Aparecida de Goiânia, contrária a Caiado.
Histórico
Há um histórico recente de prefeitos que deixaram a gestão na metade do segundo mandato para serem candidatos a governador de Goiás e fracassaram.
São os casos de Vanderlan Cardoso (atualmente no PSD, mas à época no PR), em 2010, e Antônio Gomide (PT), em 2014, ex-prefeitos de Senador Canedo e Anápolis, respectivamente.
Mendanha, claro, tem isso em mente, mas sabe também que Aparecida de Goiânia ficou pequena para ele, que possui uma vantagem importante em comparação a Vanderlan e Gomide.
Tanto em 2010 quanto em 2014, os dois buscaram ser uma terceira via para furar a polarização entre Marconi Perillo e Iris Rezende. Gomide, na verdade, ficou em quarto lugar, atrás de Vanderlan, que repetiu a terceira posição de 2010.
Em 2022, o cenário mais provável é que Mendanha seja a segunda via, ou seja, a única alternativa viável para os opositores do atual governo.