O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Livros

Mergulho na literatura brasileira do autor João Antônio

Nos últimos anos descobriu-se uma oportunidade de imergir no mundo das artes de uma maneira diferente e de forma profunda. Remotamente, a leitura tem sido mais presente no cotidiano dos brasileiros e iniciativas incentivam projetos relacionados. Além de despertar a paixão do público pela leitura, as editoras estão investindo em reedições para manter vivo seus […]

Postado em 23 de agosto de 2021 por Lanna Oliveira
Mergulho na literatura brasileira do autor João Antônio
Iniciativas promovem reedições de clássicos para relembrar grandes nomes pouco conhecidos | Foto: reprodução

Nos últimos anos descobriu-se uma oportunidade de imergir no mundo das artes de uma maneira diferente e de forma profunda. Remotamente, a leitura tem sido mais presente no cotidiano dos brasileiros e iniciativas incentivam projetos relacionados. Além de despertar a paixão do público pela leitura, as editoras estão investindo em reedições para manter vivo seus trabalhos e relembrar grandes nomes. Esse é o caso da Editora 34, que disponibilizou as reedições de ‘Malagueta, Perus e Bacanaço’ e ‘Leão de Chácara’, de João Antônio.

Os títulos são os dois primeiros de uma carreira de 15 livros publicados pelo autor João Antônio, morto em 1996, aos 59 anos. O autor paulistano tem uma história de altos e baixos, livros inacabados e vários títulos fora de circulação a muitos anos, mas mesmo assim continua sendo trabalhos de suma importância para a cultura brasileira. Por isso o interesse da editora em resgatar obras do escritor, para que cheguem ao máximo de pessoas a proeminência do seu trabalho.

Eles publicaram também a aguardada reaparição de ‘Calvário e Porres do Pingente Afonso Henriques de Lima Barreto’, um misto de biografia, memória e reportagem, publicado em 1977, sobre o período em que o autor se internou no antigo Sanatório da Muda, no Rio de Janeiro, e lá conheceu um amigo de Lima Barreto. João Antônio era fã de Lima Barreto desde 1970 e quando conheceu Nóbrega da Cunha, amigo de Barreto, viu uma oportunidade de resgatar a história do escritor. 

Augusto Massi, professor de literatura brasileira da USP e ex-diretor da Cosac diz que, ao recordar o trajeto de bares e livrarias que Barreto frequentava no Rio de Janeiro daquela época, João Antônio retraça não apenas o roteiro do boêmio ou do intelectual, mas de todo trabalhador com ofício no centro que se deslocava até o subúrbio. Passaram-se cerca de sete anos entre a internação e a publicação, o que mostra que “João Antônio não escrevia sem fazer pesquisa”, conclui Massi. 

“Ele teve que ter esse tempo para reacomodar todas essas informações e achar uma forma que desse conta dessa complexidade de relações. É inclassificável por isso, todos os livros importantes rompem os escaninhos tradicionais de gêneros”. Augusto Massi foi o responsável por preparar o livro para republicação. As cerca de 90 páginas enganam quem pensa que se trata de tarefa simples. “As pessoas não souberam como lidar com esse livro. É uma reportagem? É uma biografia? É uma biografia romanceada?”, questiona Massi.

De acordo com o editor Milton Ohata, a escolha dos dois primeiros títulos, os mais famosos, foi com a intenção de apresentar João Antônio para um público maior, de olho no leitor que ainda não teve contato com a obra do contista e jornalista. Com o livro ‘Malagueta’, lançado em 1963, João Antônio, então com 26 anos, venceu o prêmio Jabuti do ano seguinte nas categorias de conto e autor revelação. Suas nove histórias são a porta de entrada para o universo dos marginalizados que ele evidenciou como protagonistas de seu projeto literário.

Depois João Antônio se mudou para o Rio de Janeiro e teve uma experiência decisiva como repórter da revista ‘Realidade’, como o autor arriscou novos formatos como o conto-reportagem. Após doze anos de ‘Malagueta’ ele confirmou sua preferência por uma linguagem das ruas com o lançamento de ‘Leão’. Em homenagem a cidade que ele viveu 30 anos, a editora também publicou textos que ele escreveu para o Rio de Janeiro, com o título provisório de ‘Águas-Fortes Cariocas’.

Uma nova edição dos ‘Contos Reunidos’ também deve ganhar forma, com textos encontrados no acervo do autor, hoje sob a guarda da Universidade Estadual Paulista em Assis, no interior de São Paulo. Entre esse material destaca-se o conto inédito ‘Dia de Bomba’, descoberto pelo pesquisador da Universidade Federal de São Carlos Julio Cezar Bastoni da Silva em 2017. O texto, provavelmente escrito na segunda metade de 1968, traz à tona um lado ainda pouco conhecido de João Antônio na ficção, a resistência à ditadura militar.

A personalidade

João Antônio Ferreira Filho nasceu em São Paulo, em 1937. De família humilde, estudou no Externato Henrique Dias, na Pompeia, e no Colégio Campos Salles, na Lapa, e em 1952 publicou seus primeiros textos no jornal infanto-juvenil O Crisol. Na adolescência, trabalha no comércio durante o dia e estuda à noite. Em fevereiro de 1954 publicou seu primeiro conto, ‘Um preso’, no jornal O Tempo. Em 1963 lança seu livro de estreia, ‘Malagueta, Perus e Bacanaço’, que ganha os prêmios Fábio Prado e Jabuti, este em duas categorias. 

Em 1964 muda-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou no Jornal do Brasil. Ele casou-se com Marília Mendonça Andrade em 1965, e em 1967 nasce seu filho, Daniel Pedro. Após trabalhar na revista Realidade, em São Paulo, em 1968, volta ao Rio de Janeiro para trabalhar na Manchete, em O Globo, no Diário de Notícias, e colabora com o Pasquim. Em 1975 publicou os contos de ‘Leão de chácara’, vencedor do Prêmio APCA, e o livro ‘Malhação do Judas Carioca’, com reportagens e perfis. 

‘Dedo-duro’, seu terceiro livro de contos, sai em 1982, e no ano seguinte ganha os prêmios Candango, da Fundação Cultural do Distrito Federal, e Pen Clube. Em 1985, com vários de seus contos traduzidos para outras línguas, viaja pela Europa dando conferências. No ano seguinte, sai seu quarto livro de contos, ‘Abraçado ao meu rancor’, que ganha os prêmios Golfinho de Ouro (Rio de Janeiro), Pedro Nava (São Paulo) e Oswald de Andrade (Porto Alegre). Em 1987 passa um ano na então Berlim Ocidental com uma bolsa para escritores. 

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos canais de comunicação do O Hoje para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.