Especialista fala sobre os desafios do retorno das aulas
Evento promove discussões sobre como lidar com a saúde mental, o controle emocional e os sentimentos dentro do ambiente escolar
Nunca se falou tanto em saúde mental, controle emocional e cuidado com os sentimentos o próximo. Isso deve-se ao fato de termos sido atravessados por um turbilhão de mudanças trazidas pela pandemia. É nítido que não está fácil lidar com tantas oscilações, e para ajudar o LIV – Laboratório Inteligência de Vida apresenta o 3º Congresso LIV Virtual: Sentir é Aprender hoje, 25 de agosto. Gratuito e aberto ao público, o evento traz importantes nomes do cenário nacional e internacional para debater sobre como lidar com essas relações.
Seja na sala de aula, no trabalho, em casa ou, até mesmo, em uma troca no ambiente virtual, as relações podem ser intensas. A partir de qual momento relacionamos o sentir com o aprendizado? Você se lembra do que sentiu ao aprender algo novo ou ao entender algo por uma nova perspectiva? Debater sobre o paralelo entre aprender e sentir, duas temáticas indissociáveis e igualmente necessárias, é o propósito do encontro. As inscrições podem ser feitas no site congressolivvirtual.com.br e a transmissão é realizada pelo YouTube.
A partir das 15h, o público acompanha palestras relacionadas à educação, considerando o papel da escola ao lidar com a saúde mental da sua comunidade, como ‘A importância do acolhimento nesse retorno’, ‘Como está a saúde mental do professor?’, ‘Vulnerabilidade é potência’, entre outras. O educador espanhol Jorge Larrosa fala sobre ‘Como a experiência nos afeta na educação’. Larrosa é professor de Filosofia da Educação e doutor em Pedagogia e membro de conselhos de redação e comitês científicos de diversas revistas internacionais.
Segundo Larrosa, a educação tem uma importante contribuição na formação e transformação do indivíduo. “Um dos maiores problemas que a escola está enfrentando atualmente é a falta de interesse das crianças e jovens. E para o professor está cada vez mais difícil mostrar a elas que o mundo é interessante. Por isso, temos que pensar em uma escola mais rica em experiências, criando assim jovens mais atentos, mais conscientes, mais inteligentes, mais interessados. A escola não é mais uma máquina de produzir aprendizagem apenas”, explica.
Considerado o maior evento sobre educação socioemocional da América Latina, o congresso LIV foi realizado, durante a pandemia, em duas edições no formato virtual o que proporcionou que mais de 50 mil pessoas fossem inscritas. Neste ano, mais de 500 escolas podem participar de oficinas exclusivas ao vivo por meio de plataformas digitais. Elas ocorrem a partir das 14h, abordando temas como ‘Práticas Antirracistas’, ‘Cuidado com o corpo’, ‘Inspirar para transformar’, ‘Inovação e tecnologia na sala de aula’, ‘Inclusão e PCD’, entre outras.
Para rever
O evento teve início ontem, e teve participações especiais na abertura. Um dos grandes destaques desta edição foi uma roda de conversa mediada pela jornalista e apresentadora Glória Maria com a participação de personalidades como a escritora Conceição Evaristo, o MC e escritor Emicida, a historiadora Lilia Schwarcz, a educadora Lília Melo e o psicólogo Lucas Veiga, reunindo diferentes visões, profissões e experiências de vida, para mostrar como o sentir e o aprender se conectam.
Logo após a roda, o dia se encerrou com uma entrevista exclusiva do psicanalista e escritor francês Charles Melman que, no auge dos seus 90 anos, discorre sobre o tema ‘Do que nossos adolescentes sofrem?’. Considerado um dos principais seguidores do trabalho de Jacques Lacan e Sigmund Freud, Melman foi escolhido pelo próprio Lacan para ser um dos dirigentes da École Freudienne de Paris. É também um dos fundadores da Associação Lacaniana Internacional e autor de diversas obras de referência para a psicanálise.
Na conversa, Melman cita os problemas e questionamentos enfrentados pelos jovens e como a pandemia pode ter agravado a situação. “O adolescente tem a impressão de que ninguém o compreende. É uma fase em que deixa de ser criança e passa a questionar a família. Com a pandemia e o isolamento, o adolescente perdeu a possibilidade de sustentar o pertencimento a um grupo. Com isso, vemos um crescente aumento de casos de suicídio entre os jovens. E qual é o papel da escola e como ela pode atuar nessa prevenção?”, questiona Melman.
“Na contramão do século passado, habilidades socioemocionais, ética e cidadania serão tão ou mais importantes do que competências técnicas. No LIV não olhamos para o aprendizado apenas, sem considerar os sentimentos envolvidos nele. Eles são igualmente importantes na vida. O socioemocional passa também pela família, pelos educadores, e pelo impacto que podemos trazer hoje para o mundo. Com o congresso, queremos levantar o debate “, conta Caio Lo Bianco, diretor e idealizador do LIV. Todo conteúdo pode ser revisto no YouTube.