Contra governadores, Bolsonaro busca diálogo com prefeitos
Percepção é de que a conversa com municípios é mais direta e traz mais resultados
Do ponto de vista eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se caracteriza por uma comunicação sem rodeios com eleitores. Há pelo menos dois argumentos nítidos que comprovam a tese.
Primeiro, as conversas diárias que o presidente tem com seus eleitores no cercadinho do Palácio da Alvorada. O que ele fala ali rapidamente se espalha pelas mídias digitais e mobiliza suas bases.
O segundo argumento, que também tem a ver com o ambiente digital, remete às eleições de 2018, consideradas disruptivas sob a ótica das estratégias eleitorais.
Sem estrutura partidária, como tempo de televisão, Bolsonaro se comunicou de forma antenada com o que as ferramentas digitais do século 21 proporcionam.
Concorde-se ou não com o presidente e suas estratégias, é preciso reconhecer que ele é eficiente em se fazer ouvido pela população, sem precisar de intermediários tradicionais, como a imprensa – que, aliás, por estar muitas vezes mais interessada em audiência do que em qualidade, adere ao jornalismo declaratório e acaba contribuindo com a tática de Bolsonaro.
Do cercadinho do Palácio da Alvorada, tem sido cada vez mais frequente o presidente, pressionado diante da atual crise institucional, externar suas críticas a adversários, como ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e governadores.
É verdade que, no contexto da pandemia de Covid-19, Bolsonaro costuma estender suas críticas e incluir os prefeitos, mas também é verdade que a ofensiva contra governadores é maior.
Não é à toa que, em agosto, quase a totalidade de governadores se uniram, com comentários em geral contrários ao presidente, para debater a crise entre poderes e o preço alto dos combustíveis.
Essa união se deu no âmbito do Fórum dos Governadores, de influência e impacto maiores, por exemplo, do que a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), que também se posiciona contra Bolsonaro, mas com menos mobilização e repercussão.
Com isso – e sabendo que, isolado, ninguém sobrevive politicamente –, o presidente tem buscado um diálogo mais direto com os prefeitos, sem precisar passar pelos governadores – uma tática que tem semelhanças com a estratégia de comunicação de Bolsonaro com os eleitores.
A percepção é de que a conversa com os prefeitos tem mais potencial de trazer resultados concretos, já que a população participa mais do dia a dia das cidades. Do lado dos prefeitos, o movimento é bem-recebido porque, afinal, os municípios têm as menores receitas e, portanto, uma dependência maior do governo federal.
Na recente visita de Bolsonaro a Goiás, isso ficou claro. Notou-se um distanciamento do governador Ronaldo Caiado (DEM), enquanto prefeitos de cidades goianas que compareceram aos eventos saíram satisfeitos.
A nível nacional, a tendência de buscar diálogo diretamente com as prefeituras se repete, especialmente por meio de programas sociais, liderados pelo Ministério da Cidadania, e que enchem os olhos dos prefeitos agraciados com benefícios.
Além disso, vale dizer que, para os deputados – que sempre se dizem municipalistas –, destinar emendas aos municípios é interessante para deixá-los próximos do eleitorado. Logo, o diálogo dos parlamentares da base bolsonarista também é mais forte com prefeitos do que governadores.
Claro que, em cidades cujos prefeitos são abertamente contra o presidente, isso não ocorre. No entanto, pensando em Goiás, é fato que Bolsonaro tem um diálogo melhor com os prefeitos das grandes cidades do que com o governador.
Os prefeitos de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos), Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (MDB), e Anápolis, Roberto Naves (PP), têm todos um entendimento mais fácil com Bolsonaro do que Caiado.