Busca por crédito aumenta 12,7%, mas esbarra na burocracia
Crédito auxilia em uma retomada econômica prevista para acontecer neste segundo semestre
Não é novidade que a pandemia agravou a situação financeira de todos os brasileiros. Quem é comerciante, então, sentiu ainda mais na pele – ou melhor, no bolso – a necessidade de procurar outros meios para conseguir superar esse momento difícil que o mundo atravessa. Para eles, uma forma encontrada foi a busca por crédito através das suas empresas.
A prova disso foi uma recente pesquisa divulgada pelo Serasa Experian, que mostra que a procura de empresas para tal finalidade cresceu 12,7% em julho se comparado com o mês anterior. O levantamento mostra que as grandes empresas foram as que mais recorreram para ajudar, representando 24,9% – apontado como percentual recorde desde o início do levantamento em 2007. Em sequência estão os negócios de médio porte e os micro e pequenos, com 23,8% e 12,3%, respectivamente.
A empresária Daniele Rodrigues, 30 anos, foi uma das pessoas que necessitou recorrer a empréstimos para cumprir com os compromissos. Ela é proprietária de um restaurante voltado à alimentação saudável e precisou do dinheiro para sanar algumas dívidas e investir em publicidade, já que havia mudado do Jardim Goiás – onde estava desde 2013 – para o Setor Marista. “Eu quase fechei com a pandemia. Precisava pagar algumas dívidas e investir em publicidade. Com a pandemia eu quase fechei. Então fiquei sem dinheiro no caixa”, conta.
A empresária conta que teve o pedido de crédito negado por três vezes até conseguir a ajuda. Segundo ela, o ideal era ter conseguido R$ 100 mil para respirar mais aliviada, mas só conseguiu metade desse valor. Daniele conta que teve que contar com a ajuda das redes sociais. “Eu fiz um vídeo falando da situação de proprietários de bares e restaurantes que teve muita repercussão e muitas pessoas me procuraram. Foi quando eu consegui ter aprovada a linha de crédito de um programa estadual”, afirma.
Além disso, a empresária conta que enfrentou muita burocracia para conseguir o dinheiro. “A linha de crédito vem para fomentar a empresa, mas não pode ter nenhum tipo de restrição. O que é impossível nesse período, pois uma pessoa que está precisando de dinheiro está à margem de restrições e busca se regularizar. Fiquei devendo algumas coisas que me fez precisar do valor. Mas é qualquer coisinha para a pessoa não ser contemplada. Além de algumas questões serem muito complexas. Eu tenho certeza que eu só consegui pela visibilidade que tive. Eles querem uma empresa muito perfeita e não é esse tipo de gente que está em busca de empréstimo”, reforça.
Como ela não conseguiu o valor completo, a empresária detalha outras mudanças que teve que fazer para se manter em aberto. “Eu mandei embora metade da minha equipe. Antes eu abria das 11h às 22h. Hoje em dia eu funciono só até às 15h, pois só tenho um turno de pessoal. Também diminuiu algumas coisas do cardápio para não sobrar muitos insumos e dinheiro parado”, pontua.
Lado positivo
De acordo com o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, a aceleração da demanda por crédito no País confirma a evolução da retomada econômica no segundo trimestre do ano. “Os empreendedores sentem cada vez mais segurança para a tomada de crédito à medida que o cenário de saúde brasileiro progride e as restrições são amenizadas. Existe um alívio sobre o fluxo de caixa das empresas e o crédito, principalmente para os grandes negócios que têm maior reserva financeira, começa a ser direcionado para investimentos que buscam ampliar a produção”.
Ainda na variação mensal, a análise por setor mostra que O segmento de Indústria foi o principal responsável pela alavancagem do índice com crescimento de 18,4%, o mais expressivo desde janeiro de 2019, quando marcou 22,6%.
Para as regiões brasileiras o indicador revela que o Sul teve a maior expansão da procura por crédito, com aumento maior do que a média geral, de 15,4%. Em seguida estão o Norte (15,3%), Nordeste (13,7%), Centro-Oeste (13,6%) e Sudeste (10,8%).
Análise Anual
No comparativo entre julho de 2021 e o mesmo mês do ano anterior, a demanda por crédito também registra alta, essa de 30,7%. As grandes empresas continuam em evidência, com aumento de 39,4%. No entanto, na relação ano a ano, é o setor de comércio que impulsiona o aumento geral, teve alta de 31,6%. Além disso, nesse recorte, a região Centro-Oeste ganha destaque, crescendo 35,6%.