Companhia das Letras anuncia recolhimento de livro que mostra crianças brincando em navio negreiro
“Nem parecia que Ãamos ser comprados por pessoas brancas e trabalhar de graça para elas até a morte”, diz o texto.
O livro “Abecê da Liberdade”, de autoria de José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta e ilustrações de Edu Oliveira, foi retirado de circulação no último sábado (11/09) pela editora Companhia das Letras. A publicação foi criticada nas redes sociais após uma postagem mostrar uma das páginas, com imagem de crianças brincando de roda em um navio negreiro, insinuando que elas se “divertiam” na viagem.
“Nem parecia que Ãamos ser comprados por pessoas brancas e trabalhar de graça para elas até a morte”, diz o texto, que conta a história do jornalista e escritor Luiz Gama, feito escravo aos 10 anos de idade.
“Foi uma surpresa e um choque ler a cena das crianças brincando de ciranda dentro do navio negreiro. Eu fiquei me perguntando se passaria pela cabeça de alguém fazer a mesma cena com crianças em Auschwitz, sabe? Iam achar bonitinho as crianças brincando de ciranda antes de entrar no incinerador?”, questionou uma cientista social no Twitter, referenciando o Holocausto.
Lourival Aguiar, doutorando em Antropologia pela Universidade de São Paulo (USP), também criticou a publicação. “Como pai e pesquisador de relações raciais, foi constrangedor ler o livro. O maior problema, para mim, é a romantização deste perÃodo de terror da história do Brasil. A maneira como está colocado no texto e nas ilustrações tira a importância do que foram esses fatos. A escravização foi real. O sofrimento foi real e deixou marcas históricas na forma como o negro é visto”, disse ele.
Em nota ao portal UOL, a editora alegou que não houve revisão do livro antes do lançamento – ele havia sido lançado originalmente pelo selo Alfaguara Infantil, da editora Objetiva, e passou a integrar o portfólio da Companhia das Letrinhas na reimpressão. “Lamentamos profundamente que esse ou qualquer conteúdo publicado pela editora tenha causado dor ou constrangimento a algum de nossos leitores ou leitoras”, disse a Companhia das Letras.