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quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Coluna

Vinhos portugueses

Defensor das castas autóctones de Portugal, Paulo tem se dedicado a uma em especial: a tinta Grossa da qual possui apenas 2,5 hectares, o que representa metade da produção mundial

Postado em 16 de setembro de 2021 por Redação
Vinhos portugueses
Defensor das castas autóctones de Portugal

Por Edna Gomes

Paulo Laureano atualmente é um dos melhores enólogos portugueses e um dos poucos que fazem brancos e tintos com a mesma qualidade. Ele ama o Brasil e vem sempre apresentar seus vinhos em vários eventos de degustação. Estudioso das Castas portuguesas, o enólogo consegue tirar de cada uma delas sua máxima expressão. Tive um prazer imenso em conhecê-lo e conversar muito sobre seus vinhos. Ele é responsável pela produção de cerca de 700.000 litros de vinho, que leva seu nome todos os anos, além de prestar consultoria para algumas vinícolas em seu país.

Defensor das castas autóctones de Portugal, Paulo tem se dedicado a uma em especial: a tinta Grossa da qual possui apenas 2,5 hectares, o que representa metade da produção mundial. Ou seja: é uma uva em extinção. “Acredito ser importante valorizarmos castas como esta, que muitas vezes não tiveram a oportunidade de ser compreendidas, sobretudo pelo desconhecimento sobre seu potencial enológico”, diz.

Tive uma grande oportunidade de degustar alguns vinhos portugueses excepcionais, e cada vez mais me apaixono pelos vinhos lusitanos, principalmente a Quinta das Bageiras Garrafeira Branco 2007 de Barraida. É uma vinícola tradicional que fica no pequeno lugarejo de Fogueira, em Sangalhos. Seu proprietário, Mário Sérgio Alves Nuno, é um perfeccionista que usa as mais modernas técnicas para fazer vinhos. Excepcional, com mineralidade, precisão e complexidade.

Surpreendi-me com a Quinta de Saes Reserva 2008 Quinta da Pellada é um dos grandes nomes do Dão, propriedade regida com maestria pela batuta de Álvaro Castro, produzindo alguns dos melhores vinhos do país. O Quinta de Saes Estágio prolongado, como indica o nome, estagia em barricas de carvalho por um longo período, mas, devido à ótima qualidade do fruto e da madeira, o carvalho fica muito bem integrado, provavelmente, a idade proporciona um aroma peculiar e de forma brilhante.

Gostaria também de mencionar que o excelente Pó de Poiera branco 2008, denso e ousado. Como diz Robert Parker, ele é particularmente impressionante, um ótimo branco. É um projeto do cultuado Poeira, um dos mais reverenciados vinhos do Douro. Fresco e exuberante, com uma ótima acidez e um conjunto muito bem equilibrado. E o melhor é o Pêra-Manca Tinto 2007 do Alentejo sem palavras. Ocupa o primeiro lugar. A qualidade foi o ponto de partida para essa decisão. A sua qualidade é sobejamente conhecida, sendo um vinho de referência no mercado português e também nos mercados internacionais. De acordo com a tradição, o nome de Pêra-Manca deriva do toponímico “pedra manca” ou “pedra oscilante” – uma formação granítica de blocos arredondados, em desequilíbrio sobre rocha firme.

Segundo a revista Prazeres da Mesa, “reza” a história que a tradição do vinho Pêra-Manca remonta à Idade Média. Conta-se que por volta de 1365, Nossa Senhora teria aparecido em cima de um espinheiro a um pastor. Alguns anos depois foi edificado um oratório em sua honra e em 1458, dada a crescente importância do local como ponto de peregrinação, surgiu uma igreja. A posterior veio a fundação de um Convento que viria a albergar a Ordem de S. Jerónimo.

Nos séculos XV e XVI, os vinhedos de Pêra-Manca eram propriedade dos frades do Convento do Espinheiro. Foi recuperado no século XIX pela próspera Casa Soares, propriedade do Conselheiro José António d’Oliveira Soares que o transformou num vinho sofisticado. Contudo, na sequência da crise filoxérica, a Casa Soares deixou de produzir o Pêra-Manca. Foi o herdeiro da extinta Casa Soares, José António de Oliveira Soares, quem, no ano de 1987, ofereceu o nome à Fundação Eugénio de Almeida.

A Fundação produziu o primeiro Pêra-Manca tinto, em 1990. As uvas, a partir das quais se produz o Pêra-Manca, são provenientes de vinhas com mais de 25 anos, de talhões selecionados. O tinto é produzido a partir das castas Trincadeira e Aragonez e o branco tem como base as castas Antão Vaz e Arinto.Cada casta é colhida e vinificada separadamente, estagiando, também em separado, em tonéis de carvalho francês nas caves do Convento da Cartuxa, em Évora, por um período de dezoito meses. 

Depois de todo esse processo, é realizado o blend final do Pêra-Manca. Ele é um vinho tinto português incomparável! Cheio de camadas de aromas, alterna notas de frutas maduras e especiarias, além de um delicado toque tostado. Na boca é denso e profundo, com acidez perfeita, estrutura de taninos finos e um final frutado e embalado por notas balsâmicas. Para harmonizar com o Pêra-Manca tinto, a minha recomendação: carnes vermelhas grelhadas ou assadas, pratos intensos e sofisticados, embutidos e queijos maduros.

Vou terminar meu artigo com um poema da minha amiga Portuguesa Francisca Ferreira:

Meu coração da cor dos rubros vinhos
Rasga a mortalha do meu peito brando
E vai fugindo, e tonto vai andando
A perder-se nas brumas dos caminhos.

Meu coração o místico profeta,
O paladino audaz da desventura,
Que sonha ser um santo e um poeta,
que fala que boa é a vida, mas melhor é o vinho.

Do sabor das coisas
Por mais raro que seja,
O mais antigo,
Só um vinho Português é deveras excelente:

Com uma taça de cristal, com poesia e com virtude.

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