Irmão de brasileira que tentou emigrar para os EUA critica crueldade de grupo que a acompanhava
Técnica de enfermagem pretendia atravessar fronteira do México com três amigos de infância e um “guia”
O irmão de Lenilda, brasileira de 50 anos encontrada morta nos Estados Unidos (EUA) na última quarta-feira (15/09), criticou a conduta do grupo que atravessava o deserto na região da fronteira com o México junto com ela. Relatos indicam que a técnica de enfermagem tentou entrar no país com três amigos de infância, além de uma pessoa contratada para orientá-los ao longo do caminho. O corpo foi encontrado pela patrulha norte-americana após dias de busca, em uma área bastante quente e afastada da cidade mais próxima, chamada Deming.
Leci Pereira disse que foi crueldade abandoná-la, sem comida e água enquanto ela passava mal. “Não se faz isso nem com cachorro, como é modo de falar. Quero dizer, não se pode maltratar animais, então como que se larga um ser humano no deserto sem comida, sem água? Você não tem noção da dor que é isso. É muito difícil”, desabafou o irmão.
Além disso, o irmão da brasileira visa chamar atenção para o caso como forma de alerta para outras pessoas não se arriscarem a atravessar o deserto. “No Brasil, está todo mundo chocado com essa história, e lá (nos EUA) também. Nós queremos que a história repercuta para que isso acabe. Nosso país tem que fazer algo para impedir que histórias assim se repitam. Ela foi construir outro tipo de sonho para ela, mas quero deixar um alerta para que outras pessoas não façam esse trajeto e que as autoridades (brasileiras) impeçam isso. Que nosso país seja melhor. O Brasil acabou”.
Lenilda teria começado o trajeto na segunda-feira (06/09), às 4 horas da manhã, acompanhada por três colegas e o “guia”. Leci contou que a irmã costumava manter a família informada por meio de mensagens, compartilhando a localização, até que na tarde de terça-feira (07/09), a sobrinha dele reparou, por meio de um aplicativo de rastreamento, que o celular da brasileira não se deslocava mais. A partir de então, a família ficou preocupada pois ela também parou de responder. “Até então nós não sabíamos que ela estava abandonada. Imaginávamos que estava com os companheiros”, disse.
Nas mensagens que mandava aos parentes, a técnica de enfermagem avisou, ainda na segunda-feira, que não havia aguentado mais caminhar e decidiu parar, porém o grupo seguiu em frente mesmo sem a companheira, com a promessa que voltariam para buscá-la. Lenilda esperou até a terça-feira, após uma noite dormindo no meio do mato, enquanto enviava mensagem tranquilizando os familiares.
Na terça-feira, por sentir muita sede, a brasileira tentou andar mais um pouco com a finalidade de se aproximar o máximo possível do grupo. “Ela mandou mensagem para a amiga que a largou, dizendo: ‘pede pra eles trazerem água, que não estou mais aguentando de sede’. Liguei para os caras, para o amigo, de onde começou a caminhada. Pedi: ‘liga pra alguém que ela vai morrer no deserto’. Como eles disseram que voltariam, ela ficou lá aguardando. Na terça-feira, quando deu 15h27, foi o último contato que teve comigo: “pode ficar tranquilo que eles vão vir me buscar”, afirmou.
Entretanto, nenhuma atitude era tomada pelos companheiros de caminhada de Lenilda, os parentes dela em Vale do Paraíso, em Rondônia, começaram a pedir ajuda para amigos e brasileiros que estavam no EUA. Foi assim que entraram em contato, no último fim de semana, com Kleber Vilanova, que mora em Ohio e é empreendedor na área de imigração. “Lenilda tentou atravessar a fronteira ilegalmente no México e ela estava viajando com alguns conhecidos de infância, supostamente amigos dela. E fontes dizem que ela estava com “coiote” também. Devido ao calor, estava um calor horrível e lá é um deserto, ela atravessou a cerca e começou a andar alguns quilômetros dentro do deserto em direção a Deming. Só que ela não aguentou a caminhada”, contou Kleber
O brasileiro lamentou o abandono da mulher no deserto sem que o grupo que a acompanhava tenha acionado as autoridades para enviassem uma equipe capaz de ajudá-la. “As pessoas com quem ela estava viajando pensaram neles próprios. Devem ter pensado que não poderiam chamar a patrulha da fronteira para falar que ela estava lá, porque depois a polícia poderia chegar até eles. Creio que foi esse o pensamento deles, não queriam ser presos”, declarou o empresário.
Kleber comentou ainda que a brasileira levava um aparelho celular com um chip do Brasil com pouco crédito e dessa forma conseguiu se comunicar com a família. Segundo ele, pelo telefone ela conseguiu ‘força suficiente’ para mandar a localização e áudios ‘terríveis’ dizendo que estava morrendo de sede e que não estava aguentando, momento em que os familiares começaram a agir.
A localização foi difícil de ser encontrada devido a região ampla de deserto e as roupas camufladas que ela estava usando, para dificultar ser observada. De acordo com a polícia local, a escolha por visuais assim é comum entre imigrantes ilegais.
Segundo Kleber, a polícia realizou diversas buscas, tanto aéreas como pelo solo, mas que foi um processo demorado. “Ela começou a ficar desidratada, a passar muito mal e não conseguiria continuar. O que aconteceu foi que os supostos amigos dela, junto com o “coiote”, simplesmente a abandonaram lá. Ela ficou sozinha no meio do deserto, e eles continuaram a caminhada”, lamentou.