Cada vez mais frequentes: entenda o que leva ao aumento de enxames e ataques de abelhas
Em Goiás, número de ocorrências envolvendo abelhas em setembro chama a atenção; o biólogo Adriano Silva e o tenente-coronel Thiago Abdala destacam a importância de preservar esses insetos e seu habitat
No início de setembro, na cidade de Hidrolândia, um grupo de 23 pessoas foi atacado por um enxame de abelhas enquanto praticavam escalada. Vinte pessoas ficaram feridas e seis delas precisaram ser hospitalizadas.
No final do mesmo mês, o motorista de um caminhão carregado com gás líquido foi atacado por abelhas após cair de uma ponte na BR-153, em São Luiz do Norte, no norte de Goiás. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o veículo caiu em cima de duas colmeias e o condutor levou cerca de 500 ferroadas, ficando em estado grave.
Na tarde da última quinta-feira (30/09), o Corpo de Bombeiros Militar (CBM-GO) de Aparecida de Goiânia foi acionado para retirar um enxame de abelhas que tomou conta de uma bicicleta infantil, em um condomínio no Setor Residencial Porto Dourado. O enxame foi transportado e solto em uma área de reserva e ninguém se feriu.
O registro de três ocorrências semelhantes em menos de um mês chama a atenção, podendo inclusive gerar dúvidas sobre como lidar com uma situação desse tipo. No entanto, caso você tenha ficado com a impressão de que as abelhas são inimigas dos humanos, não tire conclusões precipitadas, afinal, os acidentes envolvendo enxames de abelhas não são culpa dos insetos.
Conforme explica o biólogo Adriano Silva, essas ocorrências estão diretamente relacionadas à ação humana. “Com a redução da zona rural, desmatamento demais, as abelhas acabam procurando ambientes na zona urbana, porque tem a possibilidade de alimento, tem água, tem rios passando dentro das cidades. Então elas acabam vindo pra zona urbana, como todos os outros animais quando a gente invade o habitat deles”, diz.
Além disso, ele lembra que a reprodução desses insetos se dá nesta época do ano, o que tem como consequência o aumento dos enxames, de forma que elas dividem as colmeias e vão atrás de um novo lugar para morar. E, por causa do aumento da área urbana e diminuição de áreas silvestres, acabam disputando espaço com os humanos.
Nesse sentido, o biólogo destaca que as abelhas se irritam com facilidade, o que pode levar aos ataques. “As abelhas não vão atacar ninguem só por querer, é sempre causado por um estímulo externo que as leva a fazer isso. A cidade é um ambiente muito barulhento, com bastante ruído, e as abelhas ficam irritadas muito facilmente. Tem a movimentação de pessoas passando perto dessas colmeias e elas não gostam disso e acabam atacando”, expõe.
Esse fato pode ser observado nas ocorrências mencionadas anteriormente: no caso do motorista, o veículo caiu em cima das colmeias, o que deve ter perturbado os insetos. Já no caso do enxame que se abrigou na bicicleta, as abelhas foram retiradas com cuidado e não picaram ninguém.
Na perspectiva do tenente-coronel Thiago Abdala, do CBM-GO, o aumento das queimadas nas últimas semanas também pode ter influenciado o aumento dos enxames de abelhas nas cidades. “Devido ao aumento dos incêndios em vegetação, ocorre a destruição do habitat natural destes animais silvestres, e os mesmos deslocam para o interior das cidades em busca de alimento e abrigos”, diz.
Ele lembra que muitos desses enxames são migratórios, e destaca que é crime ambiental exterminar animais silvestres, o que inclui as abelhas. Por isso, e considerando o perigo apresentado pelos insetos, o ideal ao se deparar com um enxame é acionar o Corpo de Bombeiros, que saberá lidar devidamente com a situação.
Além disso, é importante lembrar que, apesar do ferrão e da picada dolorosa, as abelhas são insetos indispensáveis para o meio-ambiente e, consequentemente, para a manutenção da vida humana. Pertencente à ordem Hymenoptera, da superfamília Apoidea, as diversas espécies de abelhas são de extrema importância para o equilíbrio do ecossistema, uma vez que, através da polinização, são responsáveis pela reprodução de cerca de 80% das plantas.
Ou seja, sem as abelhas, a vida em geral sofreria, já que a vegetação seria significativamente reduzida, o que demonstra a importância de proteger esses insetos.
“Elas são essenciais para a manutenção da biodiversidade, a produção de alimentos e a vida humana”, conclui o tenente-coronel.