Cresce o número de poços artesianos em Goiás nos últimos dois meses
Em 2021, a Semad registrou apenas 127 solicitações de autorização para uso subterrâneo de água
Em meio ao período de seca e iminência de crise hídrica, os poços artesianos se apresentam como solução para obtenção de água potável para muitas famílias. Em alguns casos, inclusive, como mostrou o jornal O Hoje em setembro, os poços próprios ou de terceiros, abastecem caminhões pipa, os quais vendem água para quem precisa, sobretudo nesta época do ano, servindo, ainda, como fonte de renda. Entretanto, mesmo que a demanda oficial por outorgas de direito de uso de recursos hídricos, que permitem a perfuração dos poços artesianos de forma regularizada tenha diminuído, empresas do setor destacam que a procura aumentou consideravelmente nos últimos meses.
Dados da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) apontam que, oficialmente, em 2019 foram solicitadas 505 outorgas para uso de água subterrânea em Goiás. Em 2020, este número caiu para 495. Já em 2021, a Secretaria registrou, até o momento, apenas 127 solicitações, o que representa somente 25% do total do ano anterior.
Mas para Karine Ferreira de Sousa, que trabalha na Hidro-Vale Poços Artesianos, a procura pelo serviço tem aumentado, especialmente nos últimos dois meses. “Hoje estamos com disponibilidade para agendar serviços somente para os meses de dezembro e janeiro”, afirmou.
Ela explica que o serviço de perfuração de poços artesianos é cobrado por metragem, e que a metragem mínima é de 60 metros. Para se ter uma ideia, somente em agosto, a Hidro-Vale Poços Artesianos totalizou mais de 1700 metros perfurados. Já em setembro, mais de 1500. Além disso, segundo Karine, nas últimas semanas a empresa já realizou mais de 300 orçamentos para a realização do serviço. “Nestes meses de seca como agosto, setembro e outubro, a demanda sempre aumenta, não somente para a perfuração, mas para o conserto de perfurações já realizadas de forma incompleta ou inadequada”, afirmou Karine.
Segundo Karine, nos últimos meses a procura pelos serviços tem sido maior nos municípios de Hidrolândia, já que tem muitos condomínios de chácaras, Senador Canedo, Professor Jamil, Bela Vista e Leopoldo de Bulhões, além de Goiânia e Aparecida de Goiânia.
Para quem tem interesse no serviço, a recomendação de Karine é procurar uma empresa que seja de confiança. “Muitas empresas fazem a perfuração e nunca mais voltam, não são encontradas após os serviços. É preciso estudar bem a proposta da empresa, já que a perfuração de poços envolve diversos fatores”, destacou. Ela explica que um poço mal construído pode ter consequências. “Pode haver perda da bomba instalada, pode haver água suja, problemas no revestimento, entre outros. Tem muitas pessoas que furam poços e, devido à má construção, acabam perdendo o investimento”, pontuou.
Aumento de 50%
Atuante na área há quase 30 anos, João Evangelista trabalha na empresa Só Poço Artesiano e conta que também observou aumento na procura nos últimos meses. Segundo ele, em função da seca. “Nesta época do ano a procura chega a aumentar em torno de 50%. Na seca as pessoas querem fazer poços. Muita gente também liga apenas para pesquisar e fazer orçamentos”, conta.
De acordo com ele, que atende todo o Estado e também outras unidades da Federação, o público que mais procura pelos serviços é quem tem fazenda. “A demanda maior é por parte de quem tem fazenda, em diversas regiões do Estado, não há uma única em que a demanda seja maior”, finaliza João.
Outorga
De acordo com a Semad, a outorga de direito de uso de recursos hídricos é um dos seis instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos. Esse instrumento tem como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso aos recursos hídricos. Vale destacar que o direito de uso da água não significa que o usuário seja o proprietário ou que ocorra alienação desse recurso.
A pasta destaca que os usos que precisam da outorga são a derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo d’água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo; a extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo; o lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final; o uso de recursos hídricos com fins de aproveitamento dos potenciais hidrelétricos e outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água. (Especial para O Hoje)