Estados Unidos encaram onda de greves por melhores salários e condições de trabalho
Movimento conta com a participação de empregados da indústria de alimentos, do setor da saúde, e até mesmo trabalhadores dos bastidores de Hollywood
Em uma onda de greve que se espalha pelos Estados Unidos, trabalhadores reivindicam melhores salários e condições de trabalho. O jornal O Globo apontou que, neste ano, pelo menos 176 paralisações foram lançadas, sendo 17 somente neste mês de outubro, de acordo com o Labor Action Tracker da Universidade Cornell.
O termo #Striketober, junção das palavras strike (greve) e october (outubro), está em alta no Twitter em território americano. O movimento abrange desde empregados da indústria de alimentos, do setor da saúde, e passa até mesmo pelos bastidores de Hollywood.
“Os trabalhadores estão em greve por um negócio melhor e uma vida melhor. Apandemia realmente expôs as injustiças de nosso sistema e os trabalhadores estão se recusando a retornar a empregos ruins que colocam sua saúde em risco”, disse Liz Shuler, presidente da AFL-CIO, a maior federação sindical do país.
Os ativistas sindicais reclamam que, embora muitos de seus membros tenham sido considerados essenciais durante a crise provacada pela pandemia de Covid-19, isso não se refletiu na forma como são tratados pelos empregadores.
Com um governo na Casa Branca considerado simpático ao movimento sindical e um mercado de trabalho que registrou recorde de pedidos de demissão em agosto, os sindicatos estão prontos para testar a determinação das empresas.
Cortes
Kevin Bradshaw, funcionário da fábrica de cereais da Kellogg Co (K.N) em Memphis, Tennessee, se mostra extremamente insatisfeito com os cortes na cobertura de saúde, benefícios de aposentadoria e férias que, segundo os sindicalistas, a empresa pretende implementar para cerca de 1,4 mil trabalhadores, que estão em greve por esse motivo desde 5 de outubro, nas fábricas de Michigan, Nebraska, Pensilvânia e Tennessee.
Executivos da Kellogg não comentaram o assunto, mas disseram que a remuneração da empresa está entre as melhores do setor.
Em Hollywood, em uma demonstração da força de membros do sindicato, cerca de 60 mil operadores de câmera que trabalham nos bastidores de filmes e programas de TV ameaçaram uma paralisação, afirmando estarem fartos de poucos ou até inexistentes aumentos e outras compensações. No último sábado, um acordo levou à decisão de suspender a greve.
Apesar de alguns contratempos, incluindo um esforço de organização fracassado no início deste ano em uma instalação da Amazon fora de Birmingham, no Alabama, os líderes sindicais estão otimistas quanto à possibilidade de obterem ganhos.
— Entramos em uma nova era nas relações de trabalho. Os trabalhadores sentem que estão no banco do motorista e que há muito terreno perdido para recuperar. O que estamos vendo é uma luta para voltar ou pelo menos ficar na classe média — disse Harley Shaiken, professor emérito do trabalho na Universidade da Califórnia, em Berkeley.
Descontentamento gritante
Em alguns setores, o descontentamento tem sido gritante: 90% dos trabalhadores horistas da Deere & Co, representados pelo sindicato United Auto Workers (UAW), rejeitaram a oferta de contrato da empresa na semana passada e entraram em greve.
Os 10 mil trabalhadores da maior fabricante de equipamentos agrícolas estão buscando salários mais altos e benefícios de aposentadoria. A Deere não quis comentar, mas depois que os membros do UAW votaram pela greve, a empresa disse que queria manter a posição de seus funcionários como os mais bem pagos do setor.
Os trabalhadores de bastidores em Hollywood, representados pela International Alliance of Theatrical Stage Employees (IATSE), buscaram redução da jornada de trabalho, mais períodos de descanso, intervalos para refeição e aumento de salários para os que estão na base da escala salarial.
Mais de 28 mil profissionais de saúde em 13 hospitais Kaiser Permanente, do sul da Califórnia, e centenas de centros médicos votaram em peso no início deste mês para autorizar uma greve. Eles querem salários mais altos e um número maior de pessoal para reduzir o esgotamento agravado pela pandemia. Essa demanda é repetida por quase dois mil profissionais de saúde que estão em greve desde 1º de outubro, em Buffalo, Nova York.
Aprovação de sindicatos é a maior desde 1965
De acordo com O Globo, a filiação sindical tem diminuído constantemente nas últimas décadas nos Estados Unidos, caindo de 20%, em 1983, para menos de 11% dos americanos empregados, em 2020, de acordo com o Bureau of Labor Statistics dos EUA.
No entanto, de acordo com uma pesquisa do Gallup feita em agosto, 68% dos americanos agora aprovam os sindicatos, a maior proporção desde 1965. E essa taxa sobe para quase 78% entre aqueles com idade entre 18 e 29 anos.
Alimentando ainda mais as esperanças dos líderes sindicais está a visão de que o presidente Joe Biden é o presidente mais pró-sindicato dos últimos tempos, opinião generalizada entre os organizadores. Em abril, o democrata criou uma força-tarefa para promover a organização do trabalho.
Outros contratempos para os sindicatos incluem Beaumont, Texas, onde a Exxon Mobil bloqueou 650 trabalhadores de sua refinaria e de uma fábrica adjacente em maio, depois que um sindicato local dos trabalhadores do aço se recusou a enviar uma proposta de contrato. Os líderes sindicais agendaram uma votação sobre o contrato para terça-feira, mas pediram aos membros que o rejeitassem.
A Exxon disse que o bloqueio é necessário para evitar a interrupção de uma possível greve e que as mudanças na antiguidade que deseja impor são necessárias para garantir a lucratividade. Enquanto isso, alguns membros do sindicato moveram-se para cancelar a certificação do sindicato.