‘Passaporte da vacina’ provoca discórdia e tumulto na Câmara
Enquanto plenário ainda se debruçava sobre passaporte, que serviu como cortina de fumaça, vereadores aprovaram inversão de pauta e validaram aumento da verba de gabinete de R$ 62 mil para R$ 72 mil para cada parlamentar
A Câmara Municipal de Goiânia foi palco de um clima tenso ao longo de toda a manhã da última terça-feira (19/10). Antes mesmo da abertura dos trabalhos em plenário, uma série de entraves foram iniciados na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ) – encontro que antecede a principal reunião do grupo de 35 parlamentares.
As discussões abarcaram, inclusive, parte da sociedade civil organizada que compareceu ao Legislativo para revindicar seus direitos. Isso porquê, logo cedo, o presidente da CCJ, Henrique Alves (MDB), iniciou o processo de votação de um texto alvo de polêmica na Casa.
A matéria, assinada pelo vereador Marlon (Cidadania), como já mostrado pelo O Hoje, garante a participação popular em shows e eventos mediante a apresentação do cartão de vacina. Porém, a matéria foi encarada com certo receio, haja vista que uma parcela significativa da sociedade se mantém contrária à vacinação.
Pensando nisso, o texto inicial foi alterado pelo vereador autor da proposta de forma a aceitar também a apresentação do exame PCR negativo ou IGG, capaz de atestar a imunidade do cidadão, como substitutos do cartão de vacina. Ainda assim, a proposta não agradou a todos.
Entre gregos e troianos, fato é que ninguém levou a melhor. Acontece que diante do tumulto gerado pela discussão do tema, o presidente do encontro achou oportuno encerrá-lo. A decisão se deu por dois motivos: o primeiro pela discussão acalorada entre os vereadores Mauro Rubem (PT) e Gabriela Rodart (DC); o segundo, pela entrada de uma parcela dos manifestantes ao espaço onde acontecia a reunião, o que, consequentemente, resultou em uma aglomeração.
Quanto ao primeiro motivo, ambos os vereadores foram procurados pela reportagem onde puderam narrar sua versão sobre os fatos. “O debate esquentou pois estávamos todos com as emoções à flor da pele. É uma pauta que defendo com unhas e dentes pois tange a minha liberdade e das pessoas que estão ao nosso redor.
Segundo a vereadora, tudo começou quando o vereador Mauro Rubem pediu para que ela ‘ajeitasse’ a máscara de proteção facial. “Houve uma excedeu comigo e eu também me excedi com ele. Eu estava com a máscara aqui [abaixo do nariz] e ele me falou para levantar a máscara, nesse momento pedi a ele que se afastasse. Depois ele começou a gritar comigo e eu fiquei brava. Esse foi o ponto”.
Por outro lado, Mauro Rubem argumentou que para conversar com ele qualquer pessoa deve estar usando a proteção. “Ela estava sem máscara, sendo assim, não conversa comigo. É muito simples, vocês veem aqui que diariamente ela está sem máscara. Ela estava com os assessores dela constrangendo os vereadores que são a favor do passaporte. Estamos com 600 mil mortes por conta desse negacionismo”, resumiu.
Depois do encerramento da sessão plenária, o presidente da CCJ pediu que o encontro da Comissão fosse reaberto para apreciação da matéria. Dessa vez, a reunião ocorreu em plenário, local que conta com estrutura adequada para participação não apenas dos vereadores, mas também dos manifestantes.
Ao submeter, porém, o processo à votação, o autor da matéria, vereador Marlon, pediu a palavra e anunciou o pedido de retirada do processo de pauta. Segundo ele, o decreto divulgado pela prefeitura de Goiânia ao longo daquela manhã, contemplava o texto em discussão a partir de medidas semelhantes às propostas.
“Esse passaporte era simplesmente uma forma de fazer a retomada de forma mais segura e o quanto antes. Também apresentamos emendas para que os não vacinados não ficassem de fora dos eventos, através da apresentação de testes PCR e IGG. (…) Na próxima semana teremos um evento teste, que é o show do Gusttavo Lima, onde será necessário o comprovante de vacinação. Com esse novo decreto e com esse evento teste, teremos a retomada do setor de eventos de forma segura. Nós vencemos”, disse, por fim, o autor do texto.