Aumento do custo das hortaliças muda hábito alimentar do goiano
Com a alta do tomate e de outras hortaliças, a saladinha básica fica cada dia mais cara
Por Alzenar Abreu (especial para O Hoje)
A típica saladinha de tomate com alface, queridinha na mesa dos brasileiros, está mais salgada do que nunca. De acordo com dados oficiais e pesquisas em supermercados de Goiânia, o quilo do tomate já se aproxima dos R$ 10. O preço leva em conta o período da entressafra e o clima instável com fortes chuvas de granizo que atacaram as lavouras paulistas – principais distribuidoras do alimento no País.
De acordo com o gerente da Divisão Técnica do Centro de Abastecimento de Goiás (Ceasa), Josué Lopes Siqueira, a alface tende a ficar mais cara, também, com o início das chuvas, que não são bem-vindas para a produção dessa folhagem.
A batata inglesa também está mais cara, pelo mesmo motivo. No atacado, apresentou os maiores índices de aumento em agosto em quase todas as Centrais de Abastecimento, informou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no 9º Boletim do Programa Brasileiro de Modernização do Mercado Hortigranjeiro (Prohort), divulgado no último dia 16. O aumento do preço chegou a aumentar até 66,17%.
Para Josué o aumento da inflação dos combustíveis e da energia tem impacto junto ao produtor, mas quem direciona para valer o valor desses alimentos na gôndola são as questões climáticas, de safra e da oferta e procura. “O produtor sabe que o legume ou verdura já está com o preço no limite. Se ele embutir valores de logística, que não para de subir, vai perder a mercadoria. É o diferencial do item perecível. É vender ou vender. Eles preferem diminuir a margem de lucro”, diz.
Ele diz que a saída é fazer as trocas de um legume mais caro, para levar outro mais em conta. “Isso o consumidor já está acostumado a fazer. Eu indico agora a compra dos tubérculos como a abóbora cabotiá, a cará, inhame, mandioca que estão com preço um pouquinho melhores”, aconselha.
Josué ainda adianta que o consumidor pode ficar bem informado com o valor desses produtos antes de comprar pelo site do Ceasa que faz e divulga pesquisa diária de preços.
O que cabe no carrinho
Desde julho, com o clima atípico, ficaram afetadas as plantações de repolho, chuchu, abobrinha, jiló, quiabo, pimentão, pepino, vagem e tomate – que tiveram alta nos preços. Para o economista Everaldo Leite, os hortifrútis são produtos que têm variação de preços diferenciada de qualquer outro tipo de alimento in natura. “Porque eles dependem da sazonalidade na safra – específica para cada legume – do clima, e da relação de oferta e procura”, diz.
Outra questão delicada que levantou o economista é a ameaça da greve dos caminhoneiros. Se ocorrer, será pior para o consumidor porque muita carga perecível vai ficar perdida. “O que vai deixar produtos ainda mais caros”, diz.
Sacolas cada vez menores
Para o vigilante Victor Alves da Silva é difícil ficar sem o tomate na salada. “Mas vou substituir por beterraba, cenoura e abobrinha, que estão com os preços um pouco melhores”, diz.
O mecânico José Carlos Seixas foi ao mercado com a missão de comprar vagem, chuchu e repolho, a pedido da esposa, mas voltou de mãos vazias. “Com esse valor não dá. Vou esperar a feira”, disse, decepcionado, ao sair do mercado sem nenhuma sacola”
Para José, não tem para onde correr. “Nas feiras, a impressão que tudo está mais barato porque muitos estão à venda em pacotes fechados, pequenas porções que não dão o quilo. Parece que economiza, mas os preços estão os mesmos”, apontou.
O economista Everaldo não está muito otimista. “Não temos um cenário de melhora de preços em curto prazo. A crise está aí. Na balança, devem caber o que está mais em conta e dar prioridades para o equilíbrio nutricional. Se o tomate está muito caro e a abobrinha tem melhor preço – ambos com baixas calorias – vale a mudança da salada e experimentação de novas receitas. O jeito é improvisar”, aconselha.
Everaldo avalia que até o final do ano, a tendência é que uma possível diminuição dos preços dos hortifrútis vai depender de questões climáticas. Mas nada que dê fôlego no bolso da população. (Especial para O Hoje)