Política externa tende a ter mais destaque nas eleições de 2022
Os dois principais candidatos, Lula e Bolsonaro, estão neste momento em viagem ao exterior
Com o Brasil recheado de problemas internos, os assuntos internacionais dificilmente ganham muita atenção. Afinal, a fome e a inflação no país são bem mais importantes, para os brasileiros, do que a crise de refugiados na fronteira entre Belarus e Polônia ou a guerra na Etiópia, dois dramas estrangeiros atuais.
E, como o Brasil costuma estar sempre recheado de problemas internos, em menor ou maior grau, a política externa tradicionalmente não é uma prioridade de eleições presidenciais. Em 2018, por exemplo, as propostas dos candidatos a presidente deixaram isso claro em razão do pouco espaço dedicado ao tema.
Nos casos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), nomes que provavelmente se repetirão na disputa de 2022, a política externa apareceu como o último item de seus respectivos planos de governo.
O Brasil é uma potência média e, como tal, é absolutamente normal se envolver menos na arena internacional do que outros países, como Estados Unidos e China. O art. 4º da Constituição Federal (CF), responsável por reger as nossas relações internacionais, reforça essa tese.
Além de prever a busca por uma “integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina”, a CF diz que a política externa brasileira deve se guiar por princípios como não intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz e solução pacífica dos conflitos, entre outros.
No ano que vem, contudo, a tendência é que as relações internacionais ganhem mais destaque do que em qualquer outra eleição da história recente brasileira. O principal motivo que sustenta esse argumento é o fato de o governo brasileiro estar isolado no mundo devido a posicionamentos que prejudicam a imagem do país no exterior.
Não é à toa que, pela primeira vez, uma pesquisa eleitoral abordou questões sobre assuntos internacionais. Levantamento da Genial/Quaest, do início de outubro, apontou que os Estados Unidos e a Alemanha são os países favoritos dos brasileiros.
Vale destacar, ainda, que, de acordo com essa pesquisa, o Centro-Oeste é a região do Brasil mais favorável aos EUA e, ao mesmo tempo, à China. De bobo o agronegócio não tem nada.
É verdade que, desde a saída de Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores para dar lugar ao goiano Carlos França, mais pragmático e menos ideológico, a situação do Itamaraty melhorou consideravelmente.
Por outro lado, também é verdade que, mesmo com o ex-chanceler, o governo brasileiro ainda contava com algum respaldo dos Estados Unidos de Donald Trump. Agora, nenhum país de grande relevância dá moral ao Brasil.
Essa é uma das consequências da postura de Bolsonaro em insistir em manter relações pessoais com outros líderes estrangeiros em vez de relações que busquem defender os interesses do país, independentemente do governo da vez.
O isolamento internacional do Brasil ficou nítido durante a cúpula do G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo, realizada no final de outubro. Bolsonaro precisou puxar conversa sobre futebol com os garçons porque presidentes e primeiros-ministros de outros países não tinham interesse em falar com ele.
No momento, Bolsonaro está em mais uma viagem oficial, desta vez ao Oriente Médio. O ex-presidente Lula (PT), que, segundo as pesquisas de intenção de voto, será seu maior adversário em 2022, também se encontra fora do país, mais especificamente na Europa.
Cada um com sua agenda com o objetivo de mostrar ao mundo a sua visão. Em outras palavras, a política externa já faz parte da pré-campanha. No ano que vem, quando a corrida eleitoral começar oficialmente, ela deve ser ainda mais frequente. (Especial para O Hoje)