Dicionário Goianês: conheça mais de 3 mil gírias e expressões típicas dos goianos
Armando Honório e Ismael Nogueira construíram juntos o E-Book Termos e expressões do coloquial do cotidiano da zona rural no Brasil central no século XX
A linguagem oral e as expressões locais nos são apresentadas e reforçadas durante as prosas cotidianas. Segundo Armando Honório, campineiro de nascença, a construção do Dicionário foi mais prático do que teórico, pois as palavras e frases estavam presentes em conversas corriqueiras do dia a dia. “Vinham através de recordações de coisas do passado, conversando com as pessoas, ouvindo eventuais conversas e por sugestão de alguém de nosso convívio”, explica.
Ele e o Ismael Nogueira, que é natural de Mato Grosso, trabalhavam no mesmo prédio, na sede administrativa da Universidade Federal de Goiás (UFG). Em meio a conversas aleatórias surgiam expressões típicas dessa região e, então, começaram a anotar aquelas que vinham à memória. “Todos os dias eram três ou quatro”, afirma Armando. Quando reuniram mil palavras, ambos perceberam o potencial daquela espécie de brincadeira e decidiram elaborar o dicionário.
Após a publicação do e-book, o Dicionário Goianês ganhou os holofotes quando o influencer digital Jacques Vanier conquistou diversos fãs nas redes sociais por fazer vídeos carregados de sotaque e trejeito goiano. Morando nos Estados Unidos, o influencer “bombou” na internet ao levar a nossa identidade cultural, com muito humor, para o exterior. De acordo com Armando, outra figura pública que explorou os trabalhos dos servidores da UFG foi o atual governador do Estado, Ronaldo Caiado. “O governador, na época da campanha [de 2018], adaptou para política e fez campanha eleitoral com isso”, destaca.
Porém, ele salienta sobre o real motivo para a elaboração do dicionário. “A nossa intenção era divulgar e resguardar essa parte da nossa cultura local. Pensamos que muita gente está se esquecendo dessas coisas. Os mais jovens, por exemplo, nem sabem o que são algumas expressões. Então, é a nossa linguagem informal que vem desde a nossa história da roça”, diz.
Para ele, a linguagem informal caminha junto com a nossa identidade “da roça”. Armando informa que até o século XX, os goianos não tinham uma preocupação tão grande quanto à alfabetização. “Morando na roça, saber as quatro operações [soma, subtração, divisão e multiplicação] já era bom para trabalhar”, ressalta. A educação era elitizada e só estava acessível para os filhos dos grandes fazendeiros e, por isso, a cultura de “falar bem” não era tão popularizada no Estado.
Entretanto, atualmente, este falar caipira não deve ser associado à falta de letramento, pois se tornou uma marca cultural da linguagem informal goiana. “Isso está ligado ao interior e à roça, que são ícones da nossa identidade. Não podemos nos envergonhar disso.” defende.
“‘Balaio’, que é um cesto grande feito de palha; ‘taquara’, ‘bambu’ ou ‘cipó’; ‘atazanar’, quando tem alguém fazendo mal ou estressando outra pessoa; ‘bão demais da conta’ e outras expressões que são tipicamente goianas e merecem ser valorizadas. É como fazer mutirão, que só tem aqui, pois antigamente a gente juntava um tanto de gente para cozinhar ou capinar um lote e depois fazia um festejo”, exemplifica.
Toda a riqueza goiana também pode ser percebida na nossa forma de falar. Essa língua informal carrega um pouco da nossa história, da nossa forma de encarar o mundo e, principalmente, de como gostamos de ser vistos. A identidade presente na linguagem é tão importante para o reconhecimento da nossa cultura quanto através da música, das receitas culinárias e de como nos relacionamos com o meio ambiente no qual estamos inseridos.